O eleitor suíço não está disposto a modificar radicalmente o sistema monetário do país. A maioria rejeitou no plebiscito de domingo uma iniciativa que pretendia impedir os bancos comerciais de criar a sua própria moeda. Já a Lei de jogos de azar passou no referendo, com uma aprovação de 73% dos eleitores.
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Jornalista e editor-adjunto da redação suíça, que reúne três idiomas nacionais da swissinfo.ch (alemão, francês, italiano). Trabalhou anteriormente na agência Teletext e no portal rts.ch.
Pouco inclinados a promover uma revolução através do voto e se lançar em experiências econômicas arriscadas, 75,5% dos eleitores votaram “não” à iniciativa, cujo nome completo era “Por uma moeda imune às crises: emissão monetária unicamente através do Banco Nacional! (Moeda plena)”. Já 24,3% a aprovaram.
Lançada por um grupo de economistas, especialistas em finanças e empresários, a proposta encontrou oposição por parte do governo e todos os partidos políticos representados no Parlamento suíço.
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Sistema inédito
Os promotores da iniciativa pretendiam criar um sistema monetário mais seguro, imune à especulação e às crises financeiras. Segundo sua visão, os bancos comerciais só deveriam fazer empréstimos de dinheiro que realmente foi colocado em circulação pelo Banco Nacional Suíço (BNS, o banco central do país) e parar de conceder empréstimos não cobertos pelos seus próprios fundos.
Enquanto enfatizavam que o sistema proposto não existe em nenhum outro país do mundo, os opositores também ressaltavam que essa reforma radical, e sem precedentes, constituiria um experimento de alto risco para o sistema financeiro do país. Segundo o governo e o Parlamento federal, isso teria o efeito de concentrar o poder excessivo nas mãos do BNS, expondo-o a uma maior pressão política.
Outro risco seria a perda de credibilidade da política monetária suíça e uma limitação das atividades dos bancos, o que enfraqueceria a economia como um todo.
Juros no exterior
Como foi o caso há dois anos, durante a campanha sobre a introdução de uma renda básica incondicional, essa votação foi acompanhada de perto pela mídia estrangeira. Sábado, o site da revista francesa “L’Express” apresentou a seguinte manchete: “A Suíça pode deixar de ser o paraíso dos bancos na noite de domingo”.
“E se proibirmos os bancos de criar dinheiro”, publicou o jornal belga “Le Soir”. O jornal francês “Le Monde” publicou um artigo opinativo do economista Jean-Michel Servet, que defendeu a proposta como forma de limitar a especulação financeira dos bancos.
Segundo tema de referendo
Medo de censura na internet e a mobilização de jovens políticos não foram suficientes para derrubar a Lei de jogos de azar, o segundo tema levado à plebiscito federal no domingo. No total, 73% dos eleitores aprovaram a lei levada à referendo. Porém a participação do eleitorado também foi fraca: 34%.
Com a aprovação definitiva da nova Lei federal do Jogos de azar (BGS), os casinos suíços estão agora autorizados a oferecer diferentes tipos de apostas na internet. Porém precisam para isso solicitar uma concessão federal. As empresas que não o fizerem, serão bloqueadas na rede.
A lei também permite que prêmios ganhados em loterias e apostas esportivas sejam isentas de impostos até um milhão de francos. Até então, a regra aplicava-se apenas aos prêmios de até mil francos. Entre as inovações da BGS está também a liberação de licenças para pequenos torneios de pôquer fora dos cassinos.
Adaptação: Alexander Thoele
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A iniciativa que visa uma reforma radical do sistema monetário suíço desafia não apenas o setor bancário e os políticos, mas também os cidadãos comuns.
Que impacto teria a introdução do chamado sistema monetário soberano no caso de uma aprovação - bastante improvável - pelos eleitores em 10 de junho?
Aqui estão alguns pontos essenciais da iniciativa:
Os promotores da ideia são um pequeno grupo de economistas, especialistas financeiros e empresários. Sua iniciativa visa minimizar o risco de crises financeiras como a crise econômica mundial que começou em 2007, quando a bolha das hipotecas “subprime” estourou nos Estados Unidos.Este texto faz parte da #DearDemocracy, uma plataforma sobre questões de democracia direta de swissinfo.ch.A moeda soberana é basicamente notas e moedas emitidas pelo banco central como moeda de curso legal.
A proposta de reformar a capacidade dos bancos privados de criar dinheiro baseia-se em uma teoria do economista americano Irving Fisher dos anos 1930.
Ambiente difícil
Até agora, nenhum país do mundo está usando o sistema monetário soberano. O debate sobre a votação de 10 de junho na Suíça é, portanto, necessariamente um tanto hipotético.
Os promotores apontam regularmente a abordagem inovadora da proposta.
Criação de moeda
Hoje: o dinheiro é colocado em circulação pelos bancos que concedem empréstimos individuais, hipotecas e créditos às empresas. Ao fazer isso, cria uma dívida com o credor.
A iniciativa quer dar ao banco central o direito exclusivo de criar dinheiro. Os bancos comerciais só atuariam como distribuidores, transferindo o dinheiro do banco central da Suíça para os mutuários.
Corrida bancária
Hoje: Os créditos concedidos pelos bancos comerciais excedem em muito suas reservas de caixa. Um banco está condenado e entra em falência se todos os clientes retirarem seus depósitos ao mesmo tempo durante uma crise.
Iniciativa: O dinheiro criado não é mais baseado em uma dívida. Os bancos simplesmente administrariam as contas de moeda soberana, que têm 100% de cobertura pelo banco central da Suíça. Seria semelhante à gestão de valores detidos por clientes em depósitos bancários seguros. Tal sistema exclui o risco de corridas bancárias.
Em outras palavras: o sistema tornaria os depósitos seguros para os clientes e seu dinheiro sempre seria totalmente coberto, seja em uma conta ou guardado em um colchão em casa.
Valor monetário
Hoje e com a iniciativa: O valor do dinheiro é baseado na confiança. CHF100 valem apenas CHF100, desde que as pessoas estejam dispostas a acreditar nisso.
Uma perda de confiança no sistema atual provoca uma desvalorização da moeda escritural, porque o banco comercial entra em colapso como resultado de uma corrida bancária.
Uma perda repentina de confiança não é impossível no novo sistema. Se ninguém está preparado para tomar dinheiro soberano, ele também se torna inútil.
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