À procura de oportunidades no Sul
A estratégia suíça de comércio exterior voltada aos países emergentes não se limita a palavras.
Depois de viagens oficiais à Índia e Rússia na primeira metade de 2011, o ministro suíço da Economia, Johann Schneider-Ammann, visita agora o Brasil e o Chile acompanhado por uma delegação de empresários.
Um dos principais objetivos é dar impulsos às negociações para um acordo de livre-comércio com o Mercosul, semelhante ao já firmado com o Chile.
A viagem de 12 e 18 de outubro é mais do que um encontro entre nações com relacionamento de longas datas. O Brasil, o maior parceiro econômico da Suíça na América Latina, também faz parte do grupo de países do BRIC – que inclui também Rússia, Índia e China – com os quais ela decidiu intensificar o intercâmbio através de um plano estratégico publicado em 2006.
Já o Chile é um parceiro privilegiado da Suíça, e não apenas graças ao acordo de livre comércio em vigor desde o final de 2004, o primeiro na América do Sul. “Com sua economia aberta e graças aos diversos acordos de livre comércio, o Chile se adequa como plataforma regional para atividades econômicas”, afirma o governo no comunicado enviado à imprensa.
Na pauta de discussões, os representantes dos dois países também irão debater temas concretos como o atual estado das negociações de um acordo de livre-comércio entre os países da Associação Europeia de Livre Comércio (AELC) e o Mercosul e também as experiências do Brasil em lidar com a alta do real, um problema também vivido pela Suíça com a forte valorização do franco em relação ao euro. Outro ponto alto na viagem será a assinatura de um acordo entre a Suíça e o Brasil para o intercâmbio de jovens profissionais.
Potencial e riscos
A viagem ao Brasil e ao Chile, que ocorre poucos dias antes das eleições legislativas federais de 23 de outubro, é vista como estratégica não apenas para os membros do próprio governo. “O Brasil é um país com um grande mercado, cuja importância aumentará nos próximos anos. Seu crescimento deve continuar acima da média no futuro, o que o torna importante para todos os setores da nossa economia”, declara Jan Atteslander, um dos participantes na delegação de Schneider-Ammann.
Responsável pelas relações econômicas exteriores na Federação das Empresas Suíças (economiesuisse), Atteslander também ressalta a importância do Chile. “Nossas relações são fortes não apenas devido ao tratado de livre comércio, mas especialmente graças à excepcional política econômica conduzida pelo governo chileno”. Esse contexto positivo traz boas oportunidades para empresas dos setores de manufatura, saúde e de infraestrutura. “Mas também o turismo é uma área interessante de investimento para as empresas suíças”, acrescenta.
Já outros analistas relativizam a importância dos dois mercados. “O Chile apresenta há vários anos uma economia estável, uma população com um bom nível educacional e boas infraestruturas. Para as empresas suíças isso é uma grande vantagem. Porém o Brasil oferece mais potencial. Somente em São Paulo vivem mais pessoas do que em todo o Chile. E o desenvolvimento econômico é impressionante”, afirma Stefan Eiselin, vice-redator-chefe do semanário econômico Handelszeitung.
Porém problemas não podem ser ignorados pelos investidores suíços. “Os riscos no Brasil são maiores. O nível de investimentos do governo foi reduzido e ainda há o perigo de um superaquecimento do mercado imobiliário. Não podemos descartar recuos. Porém a tendência básica está presente e ela aponta para o Brasil”, avalia Eiselin.
Livre-comércio
Alguns observadores consideram que a melhora do acesso ao maior mercado consumidor da América do Sul deve ocorrer através de um acordo. “Já temos um bom relacionamento econômico com o Brasil, mas ele poderia ser melhorado para os dois lados se o comércio e as atividades de investimento forem facilitados. E isso pode ser alcançado da forma mais fácil através de um tratado de livre comércio como o que já assinamos com 23 países”, ressalta Jan Atteslander.
A participação da presidente brasileira Dilma Rousseff na 5° Cúpula Brasil-União Europeia, ocorrida no início de outubro na Bélgica é visto com um bom sinal, sobretudo através das tentativas brasileiras de destravar um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a UE, cujas negociações foram suspensas em 2006. “Obviamente temos a expectativa de que se o Brasil/Mercosul assinar um acordo de livre comércio com a União Europeia, que a Suíça/AELC também possa fazê-lo em breve”, declara o membro da economiesuisse.
Mas as negociações não serão fáceis. “Esses países têm uma posição cada vez mais firme na defesa dos seus interesses e estão determinados a garantir ganhos durante as negociações”, declarou Marie-Gabrielle Ineichen-Fleisch, chefe da Secretaria Federal de Economia (Seco), ao jornal NZZ am Sonntag durante a visita da presidenta da Índia, Pratibha Patil, à Suíça no início de outubro.
Nos três dias em que permanecerá no Brasil, o ministro Johann Schneider-Ammann terá uma agenda apertada que inclui encontros com o vice-presidente Michel Temer e os ministros Aloízio Mercadante (Ciência), Fernando Pimentel (Economia) e Antônio Patriota (Relações Exteriores).
No Chile, Schneider-Ammann deve se encontrar com o presidente Sebastián Piñera, o ministro da Economia, Pablo Longueira e o ministro das Relações Exteriores, Alfredo Moreno.
Além dos encontros oficiais, o ministro Schneider-Ammann terá reuniões com associações econômicas locais e empresários suíços atuantes nos dois países, além de visitar duas empresas helvéticas, dentre as quais a fábrica da empresa suíça de soluções químicas Clariant em Maipú, em Santiago do Chile.
Em São Paulo, a delegação também irá participar de uma conferência sobre as flutuações das taxas de câmbio organizada pelo Centro de Negócios da Suíça (Swiss Business Hub) e a Federação de Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP).
Com um crescimento econômico de 7,5% no Brasil e 5,3% no Chile no ano passado, os dois mercados têm uma importância crescente para empresas suíças.
Em 2010, as exportações da Suíça ao Brasil totalizaram 2,31 bilhões de francos. As importações somaram 849 milhões.
No balanço geral, o comércio exterior entre os dois países teve um crescimento de 19% em relação ao ano anterior. No final de 2009, o estoque de investimentos suíço no Brasil era de 12,8 bilhões de francos, enquanto que o número de pessoas ocupadas por empresas suíças no país era de 106 mil.
O Chile é membro da OCDE desde 2010 e tem como objetivo chegar ao final da década como um país industrializado. Em 2010, as exportações da Suíça ao Chile totalizaram 205,9 milhões de francos. As importações somaram 149,5 milhões.
No final de 2009, o estoque de investimentos suíço no Chile era de 1,5 bilhões de francos. O número de pessoas ocupadas por empresas suíças no Chile era de 13.300 (2009).
Entre o Chile e a Associação Europeia de Livre Comércio (AELC) vigora desde 1° de dezembro de 2004 um acordo de livre-comércio (FTA, em inglês)
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