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O bem que o migrante pode fazer a si mesmo e ao próximo

Grupo de mulheres tricotando
O trabalho voluntário de Ana Amelia Pace é ensinar crochê a refugiadas na cidade de Suhr. swissinfo.ch

Trabalho voluntário é uma ferramenta poderosa para quem quer conhecer pessoas, entrar no mercado de trabalho e ainda melhorar a sensação de bem-estar.

Imagina que você tenha saído do seu país de origem e desembarcado em outro lugar do mundo. Ainda não conhece muita gente, tem como objetivo aprender a língua e depois procurar um trabalho ou estudar algo relativo à sua profissão. Há os que se sintam sozinhos e sem rumo, com dúvidas sobre o que exatamente fazer. E eis que entra nesse roteiro grupos de pessoas e instituições que necessitam de gente para ajudar, os chamados trabalhos voluntários. Esse tipo de atividade não envolve pagamento, o que importa é a reunião de cidadãos com disposição e uma mútua vontade de contribuir para uma determinada causa. Portanto, ideal para quem está se aclimatando em uma nova comunidade, quem dispõe de tempo livre ou quer conhecer gente.

Artigo do blog “Suíça de portas abertas” da jornalista Liliana Tinoco Baeckert.

O perfil dos grupos é muito amplo: há desde projetos de apoio a grupos vulneráveis, como a famosa Cruz Vermelha, ou simplesmente pessoas que se organizam para ler para idosos em asilos. Há também as que montam seus próprios projetos. O fato é que o trabalho voluntário pode ser um ótimo caminho para o estrangeiro que busca integração, conhecer pessoas, melhorar a proficiência do idioma local e ao mesmo tempo dar uma turbinada no currículo no novo país de moradia.

São duas pontas que se interconectam por necessidades diferentes e complementares: o migrante precisa se integrar, aprender, ocupar a mente e às vezes preencher o tempo; o outro grupo necessita de ajuda, atenção.

A paulista de Jacareí, Imara Assef Andere aproveitou o tempo livre entre os cursos de alemão, inglês e pós-graduação em economia empresarial, para ajudar no Projeto Contact, programa de acolhimento de refugiados no vilarejo de Nussbaumen, na Suíça alemã.

“Após quatro anos me dedicando ao voluntariado, concluo que recebo infinitamente mais do que me propus a doar. Esse trabalho definitivamente me proporciona mais que uma visão humanitária da sociedade, mas uma ruptura de julgamentos e preconceitos. Com a atividade, conquistei amigos, me sinto parte da comunidade suíça e aumentei significantemente minha rede de contatos. O desenvolvimento do meu aprendizado da língua alemã teve uma melhora significativa e foi por meio dele que recebi referências para o mercado de trabalho suíço e para ser aceita no curso de pós-graduação”, explica Imara Assef.

Criando seu próprio projeto

Já a paulistana Ana Amélia Coelho Pace decidiu criar seu próprio projeto. Como ama fazer crochê, atividade que aprendeu com sua avó quando ainda criança, decidiu oferecer cursos para migrantes da sua comunidade, em Suhr, no cantão de Argóvia. Ana Amélia enviou a ideia em forma de projeto ao Departamento de Imigração Cantonal e obteve sinal verde. Conseguiu um local para a realização dos cursos, uma pessoa para tomar conta dos filhos das participantes, e verba para compra do material. Surpreendentemente, Ana Amélia viu que, além de ensinar, ela contribuía para um grupo muito especial, o de mulheres refugiadas. “Elas mal falam o alemão, ficam em casa sem interagir muito com a sociedade. Muitas delas esperam ansiosamente pelas aulas de crochê, quando podem fazer algo de útil para elas”, explica Ana Amélia, que também é contadora de estórias em português do programa “Schenk mir eine Geschichte” (n.r.: me presenteie uma história), projeto do Instituto Suíço de Mídia para Crianças e Jovens, que apoia os pais imigrantes no desenvolvimento linguístico e literário de seus filhos.

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man packing crates of food

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Voluntários na Suíça equivalem a 4.700 empregos a tempo integral

Este conteúdo foi publicado em Os números, preparados pelo Centro de Estudos de Filantropia da universidade, juntamente com a consultoria PPCmetrics, foram divulgados para coincidir com o Dia Internacional dos Voluntários, que este ano aconteceu hoje, 5 de dezembro. De acordo com os pesquisadores, isso mostra exatamente o quanto as organizações de ajuda dependem não apenas de doações e contribuições…

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É fato: trabalho voluntário agrega valor ao currículo

O simples fato de uma pessoa dedicar parte do seu tempo a uma causa que acredita já diz bastante sobre ela. Significa que consegue ver além dos seus próprios objetivos e realidade e que está disposto a trabalhar por algo, desde que acredite em seu propósito. Além disso, demonstra senso de responsabilidade e dever – porque geralmente é isso que leva as pessoas a darem o primeiro passo. Indica ainda que essa pessoa consegue organizar o seu tempo para que possa se dedicar ao voluntariado – e mais importante, consegue usar o tempo livre de forma produtiva.

De acordo com a aconselhadora de Transição de Carreira e de Mercado de Trabalho, Christine Groell, o trabalho voluntário ajuda a aumentar a rede de contatos e é muito bem visto pelas empresas na Suíça. Francesa, Christine atende a vários clientes na região de Basel, e fala com autoridade sobre o assunto: “se você é uma pessoa em transição de carreira, e isso pode ser facilmente aplicável aos migrantes, a atividade voluntária pode perfeitamente ajudar a expandir a rede de conhecidos e a se estabelecer em um país. Com esse tipo de trabalho, consegue-se usar as competências aprendidas e desenvolver novas. Para os empregadores, o candidato mostra que se interessa pelo outro, que é apto a se adaptar a novos desafios e que não ficou em casa acomodado”, explica a aconselhadora de carreiras.

Empresas suíças apoiam

Reportagem do jornal suíço NZZ confirma a imagem positiva do engajamento em trabalho voluntário no currículo e vai mais além: a matéria, escrita em de agosto de 2016, traz o estudo do professor de psicologia ocupacional e organizacional da Escola Politécnica Federal de Zurique (ETH), Theo Wehner, que mostra que uma em cada cinco empresas na Suíça – especialmente as maiores – permite que os funcionários façam trabalho voluntário. Promovido pelas empresas, tem uma longa tradição em países anglo saxões. Entretanto, também se tornou bem visto entre as grandes companhias suíças e integra a estratégia de responsabilidade corporativa.

Mulher tricotando
Ana Barros Pace: “Após quatro anos me dedicando ao voluntariado, concluo que recebo infinitamente mais do que me propus a doar.” swissinfo.ch

A reportagem conta exemplos de companhias do porte da Novartis, Swisscom e Allianz Suisse. Na Swisscom, cerca de 1400 dias de trabalho voluntário são feitos todos os anos na Suíça. Cerca de 8% da força de trabalho aproveita as ofertas.

Se ainda não se convenceu de que vale a pena se engajar, preste atenção na revelação do Volunteer Monitor de 2016 e na pesquisa publicada na Revista Psychological Science. O voluntário típico tem uma alta educação e está localizado no segmento de meia idade. É uma pessoa ativa, sociável e amigável. De acordo com estudo de Patrick Turiano, publicado na revista Psychological Science, em 2014, com 7 mil adultos norte-americanos entre 20 e 70 anos, demonstrou que ter um propósito na vida reduziu o risco de morte em 12% no período de 14 anos, independentemente da idade. Quanto mais jovem você decidir sua missão no mundo, mais tempo de vida você ganha. A regra é pensar nos outros.

Por que o engajamento social ajuda? 

Quando Ana Amélia “vendeu” seu projeto ao cantão da Argóvia, ela precisou de várias competências: organização, autonomia, capacidade de convencimento, criatividade, objetividade na apresentação, talento para montar um bom projeto e muitas outras. A Associação Internacional de Estudantes em Ciências Econômicas e Comerciais, sigla em francês da AIESEC, preparou em sua página no Brasil uma lista das habilidades que o trabalho voluntário pode ajudar a desenvolver e que fazem toda a diferença no mercado de trabalho: 

• Proativo –  O trabalho voluntário ensina a agir de forma proativa, ou seja, antecipar as necessidades e tomar a iniciativa por conta própria, sem que outros precisem pedir

• Gestão de tempo e recursos. As organizações que aceitam voluntários muitas vezes têm uma demanda maior de atividades do que os seus recursos humanos e financeiros comportam. A pessoa aprende, então, a trabalhar com o que tem nas mãos e fazer disso o melhor possível

• Liderança – Com o trabalho voluntário, aprende-se a tomar a frente de projetos e responsabilidades que vão exigir liderança – mesmo que das próprias ações

• Gestão de talentos – Aprende-se que em uma equipe, existem talentos e habilidades dos mais diversos. E você aprende que, para gerar resultados, é preciso saber aproveitar os pontos fortes de cada membro do time (e contornar os pontos fracos)

• Trabalho em equipe – aprende a importância do trabalho em grupo e o que motiva cada um a trabalhar.  Essas características são essenciais em uma empresa que busca crescer

• Riqueza cultural – Pode ajudar a lidar melhor com a diversidade cultural e de opiniões

• Networking – ajuda a criar uma ótima rede de contatos

• Maior felicidade, autoestima e satisfação – vários estudos mostram que o trabalho voluntário deixa as pessoas mais felizes e realizadas. O sentimento de ajudar o próximo, de trabalhar para o bem comum, aumentam os níveis dos hormônios da felicidade, como a endorfina. Estudos também mostram que uma pessoa mais feliz e saudável rende melhor no trabalho

Benevol: trabalho voluntário na SuíçaLink externo

Voluntário global: programa de voluntariado da AIESECLink externo

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