Elisa Shua Dusapin: “A diversidade linguística suíça ressoa em mim”
Aos 31 anos de idade, a romancista Elisa Shua Dusapin já alcançou grande sucesso na Suíça e no exterior. Sua obra foi traduzida para cerca de trinta idiomas e recebeu vários prêmios, inclusive o ilustre National Book Award. Apesar da fama, ela mantém os pés firmes no chão.
Dusapin é uma das melhores embaixadoras da Suíça no exterior. Sua embaixada é pequena e delicada: seus quatro romances (até o momento) são marcados por uma sobriedade e sutileza notáveis. Traduzidos para cerca de trinta idiomas, eles abriram as portas do mundo cultural para a autora.
Os convites para participar de eventos em universidades, livrarias, bibliotecas, feiras e festivais literários internacionais não param de chegar. Sua agenda está lotada, mas ela não se deixa levar pelo sucesso. Dusapin mantém certa distância. O que lhe falta é tempo, não modéstia.
Aos 31 anos, ela poderia ter se deslumbrado com o sucesso de sua carreira brilhante, mas essa mente bem formada não gosta de brilho. “Não, não sou uma estrela”, afirma Dusapin. E muito menos uma jovem escritora em busca de lucro, que vê os livros como produtos comerciais, elaborados com uma escrita estereotipada e fácil de vender.
Encantamento
Há uma singularidade encantadora nos romances de Elisa Shua Dusapin, particularmente nas paisagens íntimas de suas personagens, enraizadas, como a própria autora, em diferentes culturas. Filha de pai francês e mãe sul-coreana, ela chegou à Suíça, especificamente ao cantão do Jura, aos 5 anos de idade. A romancista eurasiática vem explorando essa riqueza cultural desde seu primeiro romance, Inverno em Sokcho.
O livro, publicado em 2016, logo teve uma recepção calorosa tanto do público quanto da crítica, recebendo vários prêmios, inclusive o prestigiado National Book Award for Translated Literature, que foi concedido à versão em inglês do romance em 2021.
Ela foi a primeira escritora suíça a receber o famoso prêmio americano, criado em 1950. Sua fama se consolidou. As vendas dispararam, com cerca de 50.000 cópias vendidas – um feito raro para um romance que não trata de estupro, incesto, dinheiro ou crime.
Expandindo as fronteiras
Elisa Shua Dusapin amplia reflexões e fronteiras com delicadeza e tensão. Seu primeiro romance se passa do outro lado do mundo, em Sokcho, uma pequena cidade sul-coreana onde uma jovem conhece um cartunista francês que está de passagem pela Coreia.
A atração é recíproca, mas as dificuldades de comunicação também estão presentes, algo frequente nos romances da autora. Um deles, Salão de Pachinko, leva as personagens para Tóquio. Outro se passa em Vladivostok, como o título, Circo de Vladivostok, sugere. Há sempre um atrito entre o território íntimo de um indivíduo e o território geográfico de um país.
“Eu me sinto muito suíça na Suíça, que tem quatro idiomas nacionais. Essa pluralidade linguística ressoa em mim e no meu trabalho. Falo coreano desde criança, mas, ao mesmo tempo, também tenho raízes na cultura do Jura e me inspiro em muitos outros lugares do mundo, que conheci durante minhas residências literárias e viagens para promover meus livros. Quando comecei a escrever, aos 17 anos de idade, estava em uma crise de identidade. Hoje, consigo integrar essas grandes diferenças que existem dentro de mim”, revela Elisa Shua Dusapin.
Sensibilidade e sensualidade
Olivier Babel, secretário-geral da associação Livresuisse, acredita que as histórias de Dusapin combinam perfeitamente com sua personalidade. “Isso fica óbvio quando você a conhece. Acho que esse equilíbrio contribuiu para seu sucesso magnífico. Às vezes, há uma enorme discrepância entre a imagem que temos de um autor e a de suas personagens. Mas, no caso de Dusapin, há uma harmonia total entre ambas. Sua sensibilidade e sensualidade emergem de seus livros com toques impressionistas.”
Seu último romance, O velho incêndio, publicado em 2023, se passa na Europa, mais especificamente em Périgord, na França, onde a autora nasceu. No livro, duas irmãs que não se veem há quinze anos se reencontram para esvaziar a casa de seus pais, onde cresceram.
Será que o retorno ao lar de infância pode ajudar a restabelecer a comunicação entre as duas mulheres? As relações, mesmo aquelas que são muito próximas, nem sempre são fáceis. Elisa Shua Dusapin teria estudado etologia – área que estuda o comportamento animal – se não tivesse começado a escrever romances.
“A forma como as pessoas se relacionam me impressiona muito. Como sou formada por várias culturas, nunca sei se estou usando o código certo para me comunicar”, confessa.
Segredos
Mas ela pode ter certeza de que seus leitores a entendem muito bem. Tão bem, na verdade, que O velho incêndio ganhou dois prêmios franceses: o conceituado Prêmio Wepler, que reconhece escritores emergentes, e o Prêmio Fénéon, concedido pela Chancelaria das Universidades de Paris.
Cada prêmio traz seu próprio conjunto de emoções. “O National Book Award mudou a minha vida”, admite a autora. O reconhecimento da sua profissão permite que um autor acredite que é “legítimo”, que não é “um impostor”. Ele também os projeta para a vanguarda do cenário artístico.
Após ter sido adaptado para o palco na Suíça francófona por Frank Semelet, Inverno em Sokcho está agora sendo levado para as telas. O diretor franco-japonês Koya Kamura gravou o filme na Coreia do Sul, com a estrela francesa Roschdy Zem interpretando o cartunista. O longa ainda não foi lançado nos cinemas, mas Elisa Shua Dusapin participou da primeira exibição, fechada ao público. “Fiquei impressionada”, diz ela, antes de sussurrar: “a produção espera que ele seja selecionado para o próximo Festival de Cannes”.
Gostaríamos de saber mais, mas Cannes tem seus segredos. Assim como a romancista, que atualmente está se concentrando em seu próximo livro, sobre o qual não diz uma palavra.
(Adaptação: Clarice Dominguez)
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