A entrada da chamada "Janela de Bedretto". Trata-se do maior túnel ferroviário nunca utilizado da Suíça, com 5.500 metros de extensão. Ele teria feito a ligação entre o cantão do Valais com o Ticino.
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A Suíça tem um grande submundo: se todas as fortificações e abrigos fossem colocadas um ao lado do outro, seria possível construir um túnel de Zurique até Teerã com 3.780 quilômetros de extensão. Em relação ao seu território, essas dimensões são únicas no mundo. Um novo livro sobre os "bunkers" apresenta essas e outras informações surpreendentes.
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Nasci no cantão dos Grisões em 1978 e estudei alemão, economia e ciências políticas. Iniciei minha trajetória profissional como jornalista independente, colaborando com veículos de mídia local e regional. Posteriormente, fui editora-chefe do jornal Bündner Tagblatt e, mais tarde, da SWI swissinfo.ch. Desde 2019, atuo como diretora da SWI swissinfo.ch, a unidade internacional da Sociedade Suíça de Radiodifusão e Televisão (SRG SSR), além de integrar o conselho executivo dessa organização.
O livro “A Suíça embaixo da terra” surpreende o leitor: ele o leva através de doze reportagens a tesouros, centrais hidroelétricas, laboratórios subterrâneos, túneis de trânsito, cavernas secretas ou até mesmo à fortificação “altamente secreta” do governo federal da Suíça. Contado com paixão e picante, pois a discussão sobre a Suíça subterrânea revela um estado de espírito de um país que se coloca em uma estranha posição defensiva em relação ao mundo.
O autor, Jost Auf der Maur: “Quem se interessa pela Suíça, também deve conhecer seu mundo artificial subterrâneo.”
Tom Haller/Echtzeit Verlag
A maior fortaleza do país
A Suíça subterrânea é brilhante e curiosa. Os 360 mil “bunkers” privados e 2.300 fortificações, como é possível ler no livro, oferecem mais do que o necessário para proteger a população em caso de catástrofe. Cidades inteiras podem se abrigar embaixo da terra. Um grande serviço nacional da proteção civil, elas estão até hoje ativas e abertas à visitação.
A cidade-fortaleza de SonnenbergLink externo, por exemplo, planejada para uma possível terceira guerra mundial, foi construída em seis anos e inaugurada em 1976. Ela pode abrigar 20 mil pessoas. “Se fossemos explodi-la, metade de Lucerna iria junto”, afirma o autor e jornalista Jost auf der Maur, que acrescenta: “A Suíça coloniza em direção ao centro da terra.”
A Suíça desconfia do mundo?
Auf der Maur é um observador atento às peculiaridades muitas vezes escondidas desse país, mas o trata com grande respeito. O valor sentimental da Suíça e sua consciência estão tão fortemente associadas a essa arquitetura subterrânea, que o livro revela algo sobre o estado emocional suíço. Pois essa Suíça subterrânea também pode ser interpretada como uma reação intelectual “ao mundo lá fora”.
O autor conseguiu escrever um livro fascinante, que penetra não apenas na profundidade, mas também na história da mentalidade da Suíça, que se relaciona intimamente com essa infraestrutura hermeticamente fechada. A Suíça desconfiaria dessa maneira do futuro? A obra levanta essa questão, que não é apenas lisonjeira. “Ainda assim sempre quis descer nela, pois esse mundo construído subterraneamente é típico da Suíça, uma característica peculiar de dimensões inimagináveis”, esclarece o autor no livro.
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A fortaleza do governo federal
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Na época existia uma verdadeira preocupação com o estado mental dos ministros, se estes fossem obrigados a se refugiar, junto com seus assistentes, nessa grande fortaleza de 3 mil metros quadrados, em caso de emergência. Porém ela não estava desprovida de conforto. Ela oferecia quartos de dormir em três classes: ministro (quartos individuais), funcionários públicos…
Um capítulo inteiro é dedicado à fortaleza do Conselho Federal (n.r.: os sete ministros que governam o país), construída a prova de bombas em Amsteg, no cantão de Uri. Difícil de acreditar que os ministros poderiam se proteger nesse local durante a Segunda Guerra Mundial. “Três mil metros quadrados de área de moradia e trabalho divididos em dois andares, uma sede governamental dentro da montanha”. E com todas as instalações necessárias e conforto. Ela tinha quartos em três categorias: ministros (quartos individuais), funcionários públicos (quartos para duas pessoas) e pessoal de serviço (vários beliches).
Essas instalações foram vendidas em 2002 por “uma ninharia”. Os novos proprietários – escreve o livro – transformaram esse espaço em um cofre, onde guardam para uma clientela internacional “ouro, prata, platina, terras raras, dinheiro em espécie, obras de arte, diamantes e joias”. Isso tem a vantagem de não haver “nenhum controle irritante das autoridades do mercado financeiro”.
10 mil mortos
Auf der Maur não é apenas um grande contador de histórias de forma historicamente crítica, mas também relata com especial atenção os detalhes e peculiaridades suíças: ele também é um jornalista. Ele afirma com segurança que as obras provocaram 10 mil mortes e pelo menos 50 mil feridos ou incapacitados. “São números como em uma guerra. As pessoas que lutaram nessa “guerra” para nós, vieram do estrangeiro. Creio ser o momento oportuno de construirmos para elas um lugar de gratidão e lembrança.”
Jost Auf der Maur: “A Suíça embaixo da terra” (no original: “Die Schweiz unter Tag”. 144 páginas, com imagens.Editora Echtzeit-VerlagLink externo
Adaptação: Alexander Thoele
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