As perspectivas econômicas para a Suíça em 2022
Dificuldades nas cadeias de abastecimento, retorno do pleno emprego, inflação, valorização do franco, maior concorrência para bancos e indústria farmacêutica: swissinfo.ch apresenta aqui os sete grandes desenvolvimentos para a economia do país em 2022.
1) Crescimento, mas prejudicado pelo vírus
Após uma sólida recuperação este ano (+3,5%), a Suíça deverá novamente experimentar um crescimento acima da média em 2022. A Secretaria de Estado para Assuntos Econômicos (SECO) espera que o PIB do país irá crescer três por cento. As dificuldades de abastecimento e as novas medidas sanitárias relacionadas ao surto da variante Omicron são os principais fatores citados para explicar a leve desaceleração econômica.
O mercado de trabalho se recuperou totalmente durante a pandemia. Atualmente as empresas estão tendo dificuldade em encontrar mão-de-obra qualificada, especialmente nos campos de informática, arquitetura, indústrias química e farmacêutica e engenharia mecânica.
A escassez de pessoal qualificado também está acima da média no setor de saúde e serviços sociais, de acordo com um estudo recente do banco Credit Suisse. De acordo com a SECO, a taxa de desemprego deverá cair ainda mais nos próximos dois anos, de 3% em 2021 para 2,4% em 2022 e 2,3% em 2023.
2) Retorno da inflação
Além dos receios sobre o surgimento de novas variantes do coronavírus, há também a preocupação com a evolução da inflação, atualmente em alta na zona euro e nos Estados Unidos. “Presumo que a inflação irá embora por si mesma, mesmo que as taxas de juros permaneçam inalteradas”, afirmou Katrin Assenmacher, do Banco Central Europeu (BCE).
Nos EUA, entretanto, os sinais apontam para um aumento das taxas de juros. O presidente do Banco Central dos Estados Unidos (Fed), Jerome Powell, é visto como um defensor de uma política monetária restritiva. Isto levanta a questão de quanto tempo mais o Fed permanecerá à margem antes de apertar as rédeas da política monetária, se necessário.
Se as taxas de juros subissem, o SNB também ficaria sob pressão. Se aumentarem na Suíço, a moeda do país sofreria uma forte valorização. A paridade entre o franco e o euro se torna uma visão concreta.
3) Concorrência para a indústria farmacêutica
A indústria farmacêutica é a força motriz das exportações suíças. O setor é responsável por mais de um terço do crescimento do PIB suíço desde 2010. Mas a competição estrangeira não dorme: Irlanda, Dinamarca, os Estados Unidos (especialmente a região em torno de São Francisco) e Cingapura estão tentando ativamente incentivar o estabelecimento de empresas farmacêuticas.
Além disso, gigantes suíços como a Roche e a Novartis enfrentam uma concorrência crescente de start-ups (BioNtech, Moderna) e grandes empresas tecnológicas como Google e a Amazon, que apostam na inteligência artificial e no Big Data para conquistar uma fatia do mercado de saúde.
Estes são grandes desafios em um momento em que os sistemas de saúde estão sob pressão crescente. Os governos se questionam se os preço de novos medicamentos não são elevados demais. Isto obrigará a indústria farmacêutica suíça a investir maciçamente na pesquisa e na aquisição de empresas ativas na medicina personalizada, o futuroLink externo do setor.
4) Relojoaria imune às crises
Impulsionada pela forte demanda da China e dos Estados Unidos, a indústria relojoeira suíça superou as perdas de 2020. A retomada deve continuar em 2022, mesmo apesar das incertezas. A dinâmica dependerá em particular da rapidez da recuperação do turismo internacional, essencial para o bom funcionamento da indústria do luxo. Os especialistas mais otimistas fazem prognósticos de exportações de cerca de 21 a 22 bilhões de francos, que estariam próximas do ano-recorde de 2014.
Menos conhecido e visível que a relojoaria, mas muito mais importante em termos de exportações e empregos na Suíça (320 mil empregos), a indústria de máquinas, equipamentos e metais também está otimista para os próximos meses. As carteiras de pedidos estão novamente cheias e os números de vendas aumentaram fortemente acentuadamente neste setor, apesar do freada provocada pela pandemia.
As principais preocupações estão relacionadas ao fornecimento, com o risco de escassez e o aumento dos preços das matérias-primas. A forte valorização do franco suíço em relação ao euro parece ter sido absorvida pela indústria, que se aproveitaram da crise para inovar e aumentar sua competitividade.
5) Risco da “bolha” imobiliária
Taxas de juros mais altas seriam boas notícias para os bancos de investimento, mas não para os proprietários de imóveis: o pagamento das hipotecas poderia se tornar mais difícil. O Banco Nacional Suíço (BNS) e a Autoridade de Supervisão do Mercado Financeiro (FINMA) têm advertido: os bancos correm riscos com a rápida expansão das carteiras de hipotecas.
A FINMA exige agora que o setor financeiro revele sua exposição aos riscos climáticos. Investimentos sustentáveis prometem ser novas fontes de renda, mas somente se forem feitos de forma adequada. As ongs estarão vigilantes contra qualquer tentativa de enganar os pequenos investidores.
Finalmente, os bancos não poderão mais ignorar os avanços tecnológicos no mundo das finanças. Vários bancos digitais já criaram um nicho para si mesmos nas finanças tradicionais. Os novos participantes apostam nas moedas criptográficas e sistemas financeiros descentralizados, o que automatiza as transações e eliminam intermediários. É pouco provável que a Blockchain perturbe as finanças tradicionais em 2022, mas os bancos perceberam que seu modelo de negócios pode estar em risco frente ao crescimento das novas tecnologias.
6) Multinacionais sob pressão
A partir de 2022, as multinacionais sediadas na Suíça terão que informar sobre o impacto social e ambiental de suas atividades. A partir de 2023, as empresas de setores de alto risco como a mineração, também serão obrigadas a fazer a devida diligência sobre os riscos relacionados ao trabalho infantil e exploração de minerais em zonas de conflito.
Os defensores da iniciativa (n.r.: projeto de lei levado à a plebiscito após o recolhimento de um número mínimo de assinaturas de eleitores) “Por Multinacionais Responsáveis”, proposta derrotada em 2020, continuarão a pressionar por uma maior responsabilização das empresas por seu impacto no exterior. Espera-se que a Comissão Européia tome uma decisão sobre o controle das atividades de multinacionais em 2022 a uma amplitude que superaria a proposta suíça.
As multinacionais também serão desafiadas em outros contextos como a China e Mianmar, onde são relatados abusos generalizados dos direitos humanos.
7) Fortes finanças públicas
Finanças públicas sólidas também são um sinal de força da economia. Depois da crise dos últimos dois anos, espera-se que o orçamento público volte à normalidade em 2022. As despesas extraordinárias de 40 bilhões de francos para minorar perdas provocadas pela pandemia devem ser amortizadas dentro de dez anos. E promessa: sem custar um centavo ao contribuinte. O governo planeja utilizar excedentes orçamentários e lucros do BNS para pagar a dívida.
A perspectiva a longo prazo também é muito positiva. Apesar dos custos crescentes da educação e do peso do envelhecimento da população, os analistas governamentais prevêemLink externo que a dívida pública da Suíça (governo federal, cantões e municípios) aumentará de 30% para 51% do PIB até 2050, no pior dos cenários.
A título de comparação, a taxa média de endividamento na zona do euro já é de quase 100% do PIB. Este aumento do tamanho do estado não deve representar um problema para a Suíça, já que a prosperidade da população também aumentará “significativamente” durante este período, de acordo com economistas federais.
Adaptação: Alexander Thoele
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