Aumento dos casos e variante Delta podem incentivar vacinação
A Suíça, como muitos outros países, está tendo dificuldade em manter o ritmo da vacinação de sua população. Ainda assim, as autoridades sanitárias hesitam em introduzir medidas mais coercitivas para convencer os indecisos a se vacinarem.
O final de junho foi um momento de descontração para os suíços. Com a chegada do verão e o relaxamento das medidas sanitárias, muitas pessoas foram a bares para assistir aos jogos da Eurocopa. Outras fizeram as malas e tiraram as férias que há tanto tempo desejavam.
Virginie Masserey, responsável pelo controle de infecções do Ministério da Saúde, reconhece que, naquele momento, a vacina provavelmente não era uma preocupação para as pessoas.
“Muitos talvez achassem que podiam simplesmente aproveitar a vida – que estavam seguros agora que o número de infecções havia caído”, disse Masserey, que está coordenando a campanha nacional de vacinação.
No início de julho, o número de vacinas contra a Covid-19 aplicadas diariamente caiu de 90.000 para 60.000. No meio de julho, pouco mais de 40% da população estava vacinada. Apesar disso, após uma queda significativa nos casos de infecção, os números voltaram a subir, chegando a 500 casos diários na metade do mês. Entre os novos casos, a variante Delta está cada vez mais presente.
Masserey não está surpresa com o rumo que as coisas tomaram.
“Observamos que ocorreu o mesmo em outros países: quando se chega perto de 50% de cobertura, a vontade de ser vacinado começa a diminuir”, disse a funcionária do ministério. Masserey frequentemente faz aparições nas coletivas de imprensa do governo sobre a pandemia.
“Mas é apenas uma desaceleração.”
Impulsionando as campanhas
Com a Organização Mundial de Saúde prevendo que a variante Delta logo se tornará a cepa dominante do vírus, muitos governos estão acelerando suas campanhas de vacinação. Israel, uma das primeiras nações a vacinar seus cidadãos, viu um aumento expressivo de novos casos em junho. O país agora tem como objetivo vacinar seus adolescentes. Na Europa, mais vacinas estão sendo administradas depois que países como Holanda, Noruega e Espanha intensificaram suas campanhas de vacinação, relata a agência de notícias Reuters.
Embora uma pesquisa recente tenha mostrado que 25% das pessoas na Suíça não planejam se vacinar contra a Covid-19, Masserey está otimista quanto à disposição dos cidadãos.
“Você pode olhar para isso de outra perspectiva – 75% das pessoas podem ser convencidas a se vacinarem”, diz ela, acrescentando que isso representaria uma cobertura geral “muito boa”. Cerca de 80% das pessoas com 65 anos ou mais estão totalmente vacinadas. Entre os grupos mais jovens, há evidências não-oficiais de que eles podem ser convencidos a se vacinarem, principalmente se quem tentar convencê-los for um de seus pares, afirma Masserey.
O objetivo da vacinação não é atingir a imunidade de rebanho, e sim evitar o maior número possível de mortes e internações hospitalares. “Vivemos num mundo conectado, então é impossível ter como objetivo a erradicação do vírus”, disse.
Não há indícios de que as autoridades suíças pretendam oferecer incentivos positivos para a vacinação, como foi feito nos Estados Unidos, onde houve a entrega de bilhetes de loteria. Tampouco adotarão medidas coercitivas como a França, que recentemente anunciou a vacinação obrigatória para pessoas que trabalham na área da saúde.
“Por que [focar] nos trabalhadores da saúde?”, disse Masserey. “É importante que todos sejam vacinados.”
A Comissão Nacional de Ética Biomédica desaconselha a vacinação obrigatória. Seu presidente disse à rádio pública suíça SRF que “não seria a coisa certa a se fazer”, uma vez que existem alternativas para proteger os pacientes, como a testagem periódica dos profissionais de saúde.
De acordo com Masserey, alguns hospitais já encontraram maneiras eficazes de incentivar a vacinação – por exemplo, chamando especialistas respeitados para responderem às perguntas dos funcionários.
O Ministério da Saúde também tem se empenhado em compartilhar informações relevantes ao longo de sua campanha publicitária e, ao que tudo indica, manterá essa estratégia.
“Em conversas informais, ouvimos dizer que esse é o melhor caminho”, disse Masserey. Seu departamento está distribuindo, para os cantões – que são responsáveis por vacinar a população –, panfletos, cartazes e vídeos informativos que destacam os benefícios da vacina.
As campanhas do Ministério da Saúde também visam alcançar grupos específicos. Entre eles, estão as mulheres jovens nas redes sociais, que podem estar preocupadas com os efeitos da vacina sobre a fertilidade. O ministério também está preparando mensagens para lembrar as pessoas de tomarem suas vacinas após voltarem das férias de verão.
Aproximação com o público
Ampliar a utilização do certificado Covid em lugares públicos foi um dos métodos adotados pelos franceses e que ainda não foi descartado pelos suíços. Atualmente, na Suíça, o certificado – que mostra que uma pessoa está totalmente vacinada ou que testou negativo para a Covid-19 – é necessário para entrar em boates e participar de reuniões com mais de 10.000 pessoas.
“Se considerarmos [ampliar a utilização do certificado], será para reduzir a propagação do vírus” e não para melhorar a cobertura vacinal, disse Masserey. “Mas, é claro, teria um efeito secundário de incentivar a vacinação.”
Após anunciar a obrigatoriedade da vacinação para profissionais da saúde, assim como a necessidade do certificado Covid para entrar em restaurantes e cafés, a França registrou um pico nos agendamentos para vacinação – mais de um milhão em 24 horas.
Alguns cantões suíços estão experimentando outras estratégias inovadoras. Nas últimas semanas, Argóvia, Schwyz e Vaud abriram estações móveis de vacinação. Em Genebra, uma farmácia montou um ponto de vacinação no início de julho e viu as pessoas fazerem fila por até duas horas para receberem a vacina, informou a televisão pública RTS.
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Aproximar-se da população não se trata apenas de levar a vacina até elas. De acordo com Masserey, trata-se também de estabelecer o contato direto entre a população e membros respeitados da comunidade.
“Médicos nos disseram que levam cinco minutos para convencer os pacientes que vêm até eles porque estão relutantes [em obter a vacina]”, ela assinalou.
Cobertura desigual de vacinação
No entanto, o fato de os cantões serem individualmente responsáveis pela vacinação tem gerado disparidades na cobertura vacinal do país.
“Cada cantão é diferente, então é óbvio que cada um irá elaborar soluções e intervenções apropriadas para sua população e seu contexto”, disse Masserey. O trabalho do seu departamento é encorajar os dirigentes dos cantões a examinar os dados locais e “identificar onde há uma concentração maior de pessoas não vacinadas”.
A força-tarefa científica contra a Covid-19 alerta que a variante Delta pode levar a um aumento significativo dos casos graves no país, chamando atenção para a situação no Reino Unido. Masserey, porém, não tem certeza se a propagação da variante Delta causará um aumento significativo nas hospitalizações.
“São apenas pessoas não vacinadas que estão sendo hospitalizadas? Será que alguma vacina não funcionou?”, pergunta ela, assinalando que muitas pessoas no Reino Unido receberam a vacina AstraZeneca, que não foi aprovada na Suíça.
“Não temos informações suficientes sobre o que está provocando esse aumento para dizer que [essa experiência] se repetirá na Suíça.”
Para a especialista em infecções, o atual aumento dos casos e a propagação da variante Delta no país poderiam até ter um lado positivo: convencer as pessoas que estão relutantes a finalmente tomarem a vacina.
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Adaptação: Clarice Levy
Adaptação: Clarice Dominguez
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