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Batalha pelo futuro da região vinícola da UNESCO

Ativistas argumentam que a região pitoresca está sendo lentamente desbastada por promotores imobiliários. Keystone

A região de Lavaux é famosa pelas suas vinhas em socalcos, as uvas Chasselas e o estatuto de Patrimônio Mundial da UNESCO. Mas o seu calmo esplendor esconde uma grande disputa sobre o status de proteção da região e o futuro econômico a ser decidido em maio.

Tudo parece tranquilo nas paredes de pedra estreitas e íngremes dos vinhedos de Chexbres, vilarejo que beira o Lago Léman. A paz só é interrompida pelo chilrear dos pássaros e, ocasionalmente, pelos ruídos de raspagens feitas por trabalhadores limpando as ervas daninhas de um dos 10.000 terraços da região.

Constant Jomini abre o caminho ao longo das linhas de vinha de sua propriedade de quatro hectares, inspecionando as primeiras folhas abertas pelo sol da primavera precoce.

O vinicultor de 36 anos tem razões para estar alegre. Seu negócio está em alta. Suas garrafas de chasselas e pinot noir ganharam muita atenção recentemente e estão vendendo bem. Tanto, que o produtor decidiu investir em uma nova adega para atender a demanda futura.

No entanto, esse futuro o deixa preocupado.

“Salve Lavaux. Todo mundo quer salvar Lavaux, especialmente os viticultores. Mas isso significa que a viticultura tem que durar e, para isso, precisamos desenvolver. Não estou falando de construir prédios no meio das vinhas, mas precisamos desenvolver nossas casas, criar adegas e construir apartamentos de férias”, disse.

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Suas preocupações com a antiga região de vinhos, cujas origens remontam ao século XI, decorrem da chamada iniciativa “Sauvez Lavaux III”, que será votada em 18 de maio.

Nesse dia, os eleitores do cantão de Vaud irão escolher entre duas propostas, uma iniciada em 2009 pelo ativista Franz Weber, que foi fundamental para as duas iniciativas anteriores para proteger Lavaux, e apoiada por grupos ambientalistas como o WWF e Pro Natura. A iniciativa exige regulamentações de planejamento mais rigorosas para lidar com a especulação imobiliária desenfreada que, segundo os iniciantes, estaria corroendo lentamente a região.

Partidários de uma contraproposta, a maioria dos partidos políticos e os viticultores de Lavaux respondem que a região já está bem protegida por leis estaduais e federais existentes, tanto assim que a UNESCO concedeu à região o estatuto de Patrimônio Mundial como “paisagem cultural” em 2007. Eles afirmam que a proposta deles irá garantir o desenvolvimento socioeconômico e a proteção da região, em vez de medidas radicais para conserva-la “como floresta ou parque nacional”.

O plano deles seria reduzir a escala das zonas onde é permitido construir e dar apoio financeiro aos viticultores para ajudar a manter seus terraços.

Nas últimas semanas, os dois lados se afrontaram em uma campanha acompanhada de cartazes e filmes.

Lavaux é um distrito no cantão de Vaud localizado na costa nordeste do Lago Léman. A região vinícola de prestígio se estende por cerca de 15 km de Vevey à periferia leste de Lausanne, que compreende 840 hectares de vinhas que cobrem as encostas mais baixas da encosta da montanha entre os vilarejos e o lago. Há 28 mil moradores.

Embora haja evidências de que videiras haviam sido cultivadas na região no tempo dos romanos, os atuais terraços de vinhedos remontam ao século XI, quando mosteiros beneditinos e cistercienses controlavam a região.

Os vinhos produzidos são principalmente Chasselas (68,5%), Gamay (10,9%) e Pinot Noir (11,5%). Eles estão reunidos em oito denominações de origem controlada (DOC): Calamin, Chardonne, Dezaley, Epesses, Lutry, St-Saphorin, Vevey-Montreux e Villette. Existem actualmente cerca de 200 viticultores em Lavaux.

Desbastação

Os negócios da família Jomini podem ser prósperos, mas nem todos têm a mesma sorte. Alguns viticultores suíços sofrem com uma queda recente dos preços, do consumo de vinho e um aumento da concorrência estrangeira. Eles temem que a iniciativa venha ser o último prego no caixão.

“O primeiro perigo para Lavaux é a morte da produção vinícola e não a especulação imobiliária”, disse Jean- Christophe Schwab, político que apoia a contraproposta, em uma reunião com 300 viticultores e moradores realizada em março, em Chexbres.

Mas Suzanne Debluë não vê dessa forma. Durante 40 anos, a moradora de Lutry tem acompanhado os passos de seu pai nos contenciosos contra os projetos de construção para evitar que esta “herança não se deteriore”.

“Esta paisagem é de todos nós, não apenas dos proprietários que acham que podem fazer com ela o que eles querem”, diz, apontando para as casas que pontilham a encosta acima de Lutry.

A secretária da associação Sauver Lavaux acredita que os promotores imobiliários estão desbastando lentamente a região e os viticultores estão ignorando a realidade ou estão trabalhando de mãos dadas com as autoridades locais. Segundo ela, poucos prefeitos têm feito um bom trabalho para proteger seus municípios.

“As duas iniciativas Lavaux anteriores conseguiram proteger uma grande parte da zona vitícola protegida central. Mas a parte superior – a chamada coroa – e as margens do lago foram maltratadas ao longo dos últimos 30 anos”, disse.

As pessoas por trás da iniciativa dizem que este problema piorou nos últimos anos devido à pressão demográfica de Lausanne e Vevey. Armada com provas fotográficas Debluë diz que os grandes promotores imobiliários estão transformando as propriedades vinícolas antigas, construindo apartamentos de luxo e moradias fora do alcance da maioria dos habitantes locais.

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“Desde julho de 2011, 450 projetos de construção foram levados a escrutínio público nas cidades de Lavaux, mas apenas uma dúzia estavam relacionados com a infraestrutura vitícola”, conta o advogado Laurent Fischer, favorável à iniciativa.

Estes números são contestados pelos adversários, como o vinicultor de Chardonne, Maurice Neyroud, que os considera “inventados” e “escandalosos”. Mas há algumas vozes solitárias de protesto entre os viticultores locais, como Marco Leyvraz, 90 anos de idade, que denuncia a “nova invasão de propriedade e dinheiro”. “Isso me enoja”, disse a jornalistas na conferência de imprensa.

Os defensores da proposta de Weber querem, assim, estender a área protegida existente tanto para o norte e para o sul para levar em conta a crescente urbanização e tirar o planejamento urbano de Lavaux das mãos das autoridades locais.

A UNESCO concedeu o status de Patrimônio Mundial à região de Lavaux como “paisagem cultural” em 2007.

O status, no entanto, não impõe nenhuma obrigação de proteção legalmente vinculativa para os viticultores de Lavaux ou para as autoridades locais ou federais. Mas, para manter o que é visto por alguns como um rótulo de marketing, os suíços precisam seguir um plano de manejo aprovado para manter o “valor universal excepcional” do lugar.

O plano traça estratégias para pesquisa, cultura, economia, ordenamento do território e do turismo e é supervisionado por uma associação suíça composta por políticos locais, produtores de vinho e outras personalidades do mundo empresarial.

De acordo com o viticultor Bernard Bovy, o status da UNESCO “protege as pedras, mas também as pessoas e o trabalho delas”. Mas os defensores da iniciativa argumentam que a situação não mudou nada, “pelo contrário, aumentou a atratividade da região para as pessoas que querem viver lá”. Até agora, a UNESCO tem ficado fora do debate provocado pela iniciativa.

“Desde que a região foi inscrita, a UNESCO nunca se pronunciou sobre o estado de conservação de Lavaux”, disse Oliver Martin, chefe da seção de patrimônio cultural da Secretaria Federal de Cultura.

Construções limitadas

Segundo a proposta, as novas construções seriam estritamente limitadas, mas exceções seriam feitas para permitir que os produtores de vinho continuem a transformar e renovar sua infraestrutura de acordo com suas necessidades, respeitando o carácter tradicional dos vilarejos. Obras em edifícios públicos, como hospitais, escolas e casas de repouso também seriam isentas.

Já Constant Jomini não acredita em uma palavra do que é dito.

“Exceções! O que eles vão fazer? Dar para alguns e para outros não?”

Ele olha para os Alpes à distância.

“É uma iniciativa desnecessária. Se Lavaux virar um museu, não haverá desenvolvimento e se não houver desenvolvimento será a morte lenta da viticultura e a UNESCO não aceitará mais Lavaux como uma região vinícola protegida…. esse é o grande risco.”

Adaptação: Fernando Hirschy

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