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Biocombustível provoca debate na Suíça

Na Suíça, o biocombustível na bomba ainda é raro. Keystone

A autorização para implantar uma refinaria de biocombustível para processar pinhão manso de Moçambique volta a provocar polêmica na Suíça.

A controvérsia que se repete é a do uso de terras cultiváveis para a produção de matérias-primas destinadas à produção biocombustíveis.

A Empresa Green Bio Fuel recebeu o aval das autoridades do estado de Argóvia (norte) para implantar uma refinaria de biocombustíveis com capacidade de produção que permitiria à Suíça reduzir em 10% suas emissões de CO2, comparadas às emissões de 1990.

Essa usina poderia produzir 130 milhões de litros de biodiesel por ano, 5% da demanda nacional de combustível. Segundo a Secretaria Federal de Energia, isso seria suficiente para a Suíça cumprir as metas do Protocolo de Kyoto sobre as emissões de CO2.

A Green Bio Fuel explica que o combustível pode ser produzido unicamente a partir do óleo do pinhão manso (Jatropha curcas) importado de Moçambique. O porta-voz da empresa, Ulrich Frei, explicou à swissinfo.ch que a Green Bio Fuel descobriu um grande potencial nessa planta tropical muito resistente já cultivada em grande escala no Brasil, na Índia e nas Filipinas para produzir biocombustível.

“O mercado mundial deverá crescer”, afirma Ulrich Frei. “O critério social e ecológico será uma referência para garantir que as culturas de jatropha não prejudiquem as culturas de alimentos e não se tire terra dos nativos para cultivar pinhão manso.”

Contudo, Ulrich Frei admite que a autorização de construir a usina é apenas uma etapa no longo caminho para a produção rentável de biocombustíveis.

Taxas sobre o combustível

A empresa deverá ter uma isenção de imposto federal de 72 centavos de franco por litro produzido. Isso representa aproximadamente metade do preço do litro de gasolina nos postos.

Segundo Ulrich Frei, sem esse incentivo, o biocombustível não é competitivo. A empresa Green Bio Fuel , contudo, ainda não recebeu nenhuma garantia do Estado.

A Administração Federal Alfandegária aguarda que as instalações, previstas nas margens do rio Reno, sejam operacionais para se pronunciar sobre uma eventual isenção fiscal. A decisão será tomada depois das inspeções de diferentes órgãos federais, que deverão verificar se o pinhão manso cultivado em Moçambique para a produção de biocombustível respeita as normas sociais e ecológicas.

“É um obstáculo sério”, diz Bruno Guggisberg, especialista em biocombustíveis na Secretaria Federal de Energia.

As autoridades federais suíças já autorizaram 48 projetos-piloto de empresas para produção de biocombustível, biodiesel e biogás. O biodiesel é considerado o mais limpo porque a matéria-prima é orgânica. como o esterco e as águas sujas.

Pouca demanda

Em 2008, o biocombustível havia sido isento de taxas para incentivar as normas ecológicas e sociais. Mas, desde então, o mercado perdeu atratividade. Estima-se que apenas 3 milhões de litros de biodiesel foram vendidos na Suíça no ano passado, ou seja, um quarto das vendas de 2008.

A Secretaria Federal de Energia explica que os números refletem que o consumo dos suíços é mais ligado aos preços do que as aspectos ecológicos. Em 2009, o preço do petróleo caiu para metade do valor recorde de 2008, quando chegou a 147 dólares o barril. “O preço global da produção, incluindo a matéria-prima e o petróleo, é decisivo”, explica Bruno Guggisberg.

Um outro obstáculo ao projeto poderá ser a iniciativa parlamentar do deputado federal social-democrata Rudolf Rechtsteiner, especialista em energia que defende uma moratória de cinco anos para a importação de biocombustíveis, complicando, assim as iniciativas desse setor.

Rechsteiner é apoiado por uma coalizão de organizações não governamentais que contradizem as afirmações da Green Bio Fuel. A empresa afirma que a cultura de jatropha para fabricar biocombustível não causará qualquer dano ecológico ou social.

Segundo a ONG Swissaid, “a ideia de obter lucros com a venda de óleo de palmeira ou de jatropha vai atrair para o terreno uma série de investidores e expulsar os camponeses pobres de suas terras”.

Se os biocombustíveis tiverem futuro na Suíça, o biogás parece ter o maior potencial. Bruno Guggisberg explica que a produção doméstica de energia a partir da biomassa poderia suprir cerca de 10% das necessidades energéticas da Suíça, se os dejetos industriais fossem convertidos em combustível.

Dale Bechtel, swissinfo.ch
(Adaptação: Claudinê Gonçalves)

O governo suíço publicou em 2007 um estudo sobre os efeitos do biocombustível sobre o meio ambiente.

Foram feitas pesquisas sobre as consequências dos combustíveis alternativos, como bioetanol, biometanol, biodiesel e biogás. O ciclo completo de produção foi levado em conta.

Os autores chegaram à conclusão que, na hora do consumo, os biocombustíveis emitem, de fato, até um terço a menos de CO2 do que o petróleo. No entanto, têm um impacto negativo importante sobre o meio ambiente, na produção.

A cultura e o tratamento dos produtos agrícolas tem, ao que parece, um grande impacto sobre a qualidade do solo devido ao emprego maciço de fertilizantes.

Nos países tropicais, as terras são queimadas e desmatadas para a agricultura. Essas atividades emitem grande quantidade de CO2. Os pesquisadores concluíram que o emprego de dejetos, desde a grama à madeira, constituem a melhor alternativa às energias fósseis.

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