Caligrafia japonesa em busca de uma ressonância
O calígrafo japonês Souun Takeda apresentou sua primeira exposição individual na Europa, mais precisamente em Zurique. O artista mostra que, na era digital, a arte do “shodo” é mais do que tinta sobre papel.
Quem pensa que a caligrafia japonesa consiste em caracteres pretos pintados com um pincel em papel branco, ficará surpreso: a exposição de Souun Takeda em Zurique apresentou muitas obras que se assemelham a pinturas abstratas, tintas acrílicas coloridas, aplicadas de forma selvagem sobre a tela.
“Uma vez que a caligrafia é mais um estilo tradicional, um ‘kata’, costumava sentir-me constrangido”, diz Takeda. Quando, para se divertir, ele desenhou com os lápis de cor de seus próprios filhos e ficou fascinado com a energia deles.
Mas ele também vai na direção oposta e dispensa por completo as cores: para a obra 道 (“Senda”), Takeda esguichou água de uma mangueira e escreveu um “kanji” (caracteres) em um papel de arroz ainda úmido – uma nova técnica no universo ultraconservador da caligrafia.
O trabalho, apresentado na mostra “Art International Zurich 2019”, chamou a atenção do curador de arte Peter Wallimann e acabou levando a esta exposição individual de Takeda, em sua galeria no centro de Zurique.
Escrita ritualizada
A caligrafia – “shodo” em japonês – é a arte elevada da escrita. Foi introduzida no Japão a partir da China, juntamente com os caracteres chineses, e com o nascimento do “kana”, o silabário japonês, durante o período Heian (794-1192), o shodo floresceu.
“Quando se trata de buscar a beleza da forma, cor e equilíbrio, é semelhante à caligrafia ocidental. Também se pode escrever belamente a letra A”, diz Takeda.
Mas a caligrafia japonesa é mais ritualizada: um calígrafo senta-se ereto diante de uma folha de papel e esfrega suavemente um bastão de tinta, o que faz subir um cheiro sutil e profundo da tinta. Em seguida, o artista mergulha um pincel na tinta e concentra-se. Takeda vê nisso uma forte ligação entre a caligrafia e a tradição xintoísta japonesa.
“Os ‘kanji’ são caracteres hieroglíficos – a realidade transformada em símbolos abstratos. Trago-os de volta à sua imagem original. O espírito torna-se transparente e funde-se com o cosmos”.
Takeda aprendeu o ofício aos três anos de idade com sua mãe, que também era calígrafa. Mais tarde, as suas tentativas de modernizar a caligrafia, trabalhando como artista de rua e em colaboração com músicos ou escultores, atraíram muita atenção.
Para o artista de 46 anos, o futuro da caligrafia está na sua renovação: “É inútil simplesmente dizer: ‘Ei, isso é uma tradição japonesa’. Um público estrangeiro como o suíço nunca compreenderá isso”. Por esta razão, ele tenta sempre conciliar beleza e ressonância – por conseguinte, um produto da comunicação.
Encanto da inutilidade
Na China e no Japão, a caligrafia ainda tem raízes profundas. Em 2009, a caligrafia chinesa foi declarada patrimônio cultural imaterial pela UNESCO. No Japão, as crianças aprendem caligrafia na escola primária.
Mas para muitos japoneses adultos, a caligrafia nada mais é do que nostalgia que evoca memórias de seus dias de escola. A digitalização também rouba das pessoas a capacidade de escrever algo à mão.
Takeda, contudo, mantém-se otimista. “O mundo se concentra cada vez mais na velocidade e eficiência. Na caligrafia, fazemos o contrário, porque ela realmente carece de um propósito. Para muitas pessoas, é bom que se concentrem em escrever um único caractere uma e outra vez”.
Takeda afirma que é por isso que a caligrafia encontra particular ressonância entre a geração mais jovem. “A pressa nem sempre enriquece o espírito. A caligrafia permite-nos apreciar a beleza do momento e captar o que passa pela nossa cabeça neste momento. Quando as pessoas têm a sensação de que neste instante há uma resposta para tudo, que tudo está mesmo à sua frente, podem encontrar mais facilmente a serenidade”.
Imagem do Japão na Suíça
A percepção do Japão pelos suíços sempre oscilou entre a admiração e a rejeição:
– entusiasmo, no século 16, pelo povo civilizado do Extremo Oriente,
– desprezo devido às perseguições aos cristãos nos séculos 17 e 18,
– respeito por um novo parceiro aliado das grandes potências ocidentais a partir de 1900,
– reserva para com as reivindicações territoriais nipônicas na Ásia na década de 1930,
– repulsa após o ataque a Pearl Harbor em 1941,
– reconhecimento, a partir de 1950, do Japão como nação cultural, tomando nota de sua rica tradição,
– receio de seu potencial industrial após os sucessos das suas exportações a partir das décadas de 1970,
– admiração pelos seus métodos de produção e gestão nos anos 1980,
– desilusão após o estouro da bolha especulativa e a crise asiática dos anos 1990.
Até hoje, a barreira linguística dificulta o fluxo de informações.
Os mediadores culturais são a Sociedade Suíça de Estudos Asiáticos, fundada em 1959, e a Cátedra de Estudos Japoneses da Universidade de Zurique, que existe desde 1968.
O japonês como língua estrangeira também tem sido oferecido em outras universidades e, desde 1985, em institutos técnicos superiores e escolas secundárias.
Em 2005, 3384 cidadãos japoneses viviam na Suíça, trabalhando na sua maioria em empresas suíças e, a partir de 1980, também em empresas japonesas ou como pesquisadores e professores universitários.
Para os japoneses, a Suíça tem sido um destino turístico querido desde a retomada do turismo no exterior em meados da década de 1960 (7% de todos os pernoites em 2002, 4% em 2005).
A Sociedade Suíço-Japonesa existe na Suíça desde 1955, no Japão desde 1956, a Escola Japonesa em Uster desde 1988, bem como a Câmara de Comércio Suíça-Japão em Zurique e Câmara de Comércio da Suíça no Japão.
Adaptação: Karleno Bocarro
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