Capital suíça tenta se destacar de outras cidades
Berna quer mudar sua imagem de cidade pequena em comparação aos grandes centros de Zurique e Genebra.
Uma associação criada recentemente tenta agora melhorar a imagem de Berna e de seus arredores, impulsionando o desenvolvimento local além do seu papel de centro político.
Fora da Suíça, a cidade é mais conhecida pelo seu centro antigo tombado pela Unesco do que sendo capital política do país.
A cidade e sua região fazem pouco para dissipar a noção de que não passam de um centro provincial como qualquer outro, cercado por pastos há poucos minutos do centro da cidade.
Berna tem lutado contra essa ideia há algum tempo, buscando aliados para melhorar sua imagem dentro e fora do país.
Entre as diferentes tentativas de se promover, o Espace Mittelland, que chegou a reunir um grupo de cinco cantões para defender e promover seus interesses, e a agência de desenvolvimento econômico Greater Geneva Bern Area não alcançaram o sucesso esperado.
Há mais de um ano, tentou-se o programa Hauptstadtregion, ou região da capital, que assumiu algumas das metas anteriores da associação Espace Mittelland. Promovido pela cidade e pelo cantão de Berna, o programa reúne outras cidades e regiões numa base voluntária.
Um dos maiores desafios, no entanto, além da falta de uma marca reconhecível no exterior, é vencer a concorrência de cidades como Zurique, Genebra e Basileia.
Cresça ou desapareça
Para Daniel Müller-Jentsch, gerente de projetos do “think tank” Avenir Suisse, os números da população já falam por si.
“Zurique e Genebra têm atraído mais estrangeiros na última década. O crescimento da população nessas cidades durante a última década foi de cerca de 50% acima da média nacional, enquanto Berna e Basileia cresceram 50% menos do que a Suíça como um todo”, disse à swissinfo.ch.
A falta de um perfil internacional para Berna também não ajuda seu posicionamento.
“Berna talvez apareça menos no mapa dos imigrantes ou das empresas internacionais do que Zurique ou Genebra. Ela não está tão bem conectada com o mundo exterior. A região não tem um aeroporto internacional como as outras três zonas metropolitanas”, disse Müller-Jentsch.
Daniel Müller-Jentsch aponta que a região de Berna também tem uma estrutura econômica que é menos dinâmica e menos propensa ao crescimento, pois depende mais da administração federal.
Heike Mayer, professora de geografia econômica da Universidade de Berna, concorda: “Há uma economia estável, porque o governo oferece emprego de longo prazo e oportunidades de trabalho estáveis”, disse.
“Temos uma boa mistura de pequenas e médias empresas, mas a região não é tão empreendedora como as outras, o que pode explicar por que ela não é considerada tão dinâmica como Zurique ou Basileia, por exemplo.”
Potencial de desenvolvimento
Segundo a professora, Berna também perde na comparação com outras capitais compara como Washington, Ottawa ou Viena.
“Essas cidades estão tomando medidas para ampliar sua base econômica. Elas não confiam apenas em sua função de capital, o que lhes proporciona alguma estabilidade, mas se concentram também na diversificação e expansão, se especializando em indústrias baseadas no conhecimento”, disse à swissinfo.ch.
Heike Mayer, que liderou um estudo sobre as funções da região de Berna para a associação Hauptstadtregion, avalia que ainda há alguma possibilidade de desenvolvimento para a região.
“Berna tem potencial para se desenvolver como centro de tomada de decisão. Existe uma concentração do poder executivo e das funções legislativas em um só lugar, além de todos os grupos que dependem dessas funções políticas, como lobistas, empresas de relações públicas ou empresas de informática que trabalham para a administração”, explica.
O estudo publicado recentemente sugere que a região da capital trabalhe sua imagem como centro criativo, inovador e dinâmico, mas também que seja claro sobre o que se tem para oferecer e qual o papel que pode desempenhar.
Estratégia de nicho
Para Daniel Müller-Jentsch, a atenção deve ser dada para uma estratégia de nicho, como Zurique, que se especializou em finanças e serviços, ou a região do Lago de Genebra, que tem encorajado o estabelecimento de sedes multinacionais.
“Berna não tem isso. A região pode desenvolver o que ela tem, que não é apenas o governo federal, mas também atividades de valor agregado e indústrias de serviços que trabalham em torno desse núcleo administrativo”, disse.
“Eu acho que é importante pensar nessa direção, desenvolvendo esses pontos fortes, mas, por outro lado, também seria perigoso depender exclusivamente de instituições financiadas pelo setor público.”
No entanto, desempenhar um papel diferente para os grandes centros econômicos pode ser uma vantagem também, diz Heinke Mayer, possibilitando uma forma de independência de fácil alcance para a capital.
Essa proximidade também pode ser outro ponto para promover a região da capital, avalia Daniel Müller-Jentsch.
“A Suíça é um grande centro urbano. Berna pode se beneficiar dos efeitos colaterais de Genebra e Zurique, ambas vítimas de seu próprio sucesso, que precisam agora enfrentar problemas como a falta de moradia ou o congestionamento do tráfego.”
A associação Hauptstadtregion está baseada na ideia de uma zona de cooperação, uma rede flexível de membros e os chamados “observadores”.
Seus membros incluem cinco cantões (Berna, Friburgo, Neuchâtel, Solothurn e Valais), 12 cidades (como Berna, Friburgo, Solothurn Thun, Biel ou La Chaux-de-Fonds), associações regionais e grupos de municípios.
Os observadores incluem cidades como Neuchâtel ou Bulle, e regiões como Emmental.
Em vez de implementar projetos dentro de uma estrutura rígida, os membros e os observadores podem decidir se querem ou não participar de determinado projeto.
Adaptação: Fernando Hirschy
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