Cidades suíças buscam receita certa contra tráfico de rua
Na Suíça, a recente erupção do crack no mercado das drogas e a dificuldade das cidades em combatê-lo reavivou um antigo debate sobre a luta contra o tráfico de rua, que retorna periodicamente à agenda política.
No final dos anos 80, havia drogas por todo lado. A infame praça Platzspitz, em Zurique, era o símbolo do que veio a ser conhecido como o “cenário público das drogas”.
Em Genebra não existia tal gueto, mas a droga era vendida em vários lugares públicos. A situação era tão ruim que as autoridades reagiram e tomaram medidas sem precedentes na época: a distribuição controlada de heroína e a abertura de salas de injeção.
>> O testemunho de Evelyn G., que toma heroína medicinal há trinta anos:
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“Se não fosse esse programa já estaria morta”
Política dos quatro pilares
Essas soluções são resultado da chamada política dos quatro pilares, que foi adotada pela Confederação nos anos 90 e é vigente até hoje: prevenção, repressão, terapia e ajuda à sobrevivência.
“Nos anos 90, quando muitos países estavam envolvidos em discussões ideológicas, a Suíça tomou decisões muito pragmáticas que salvaram milhares de pessoas”, destaca Frank Zobel, vice-diretor da Addiction Suisse, em entrevista à Rádio Televisão Suíça (RTS). “Com a prescrição médica de heroína, por exemplo, tiramos os melhores clientes do mercado das drogas.”
Entre a prevenção e a repressão
Mas os traficantes nunca vão embora de verdade: eles mudam de lugar e sua quantidade oscila até que os moradores e lojistas fiquem fartos da sua presença, como no caso da indignação de certos donos de restaurantes à beira da praça de la Riponne, em Lausanne. A polícia então intervém realizando batidas ou aumentando sua presença cotidiana.
Inicialmente, Genebra e Lausanne tiveram bons resultados com suas ações. “A presença de policiais nas ruas e um trabalho de pressão muito forte tiveram efeito”, comemorou Pierre Maudet, então conselheiro de Estado à frente do Departamento de Segurança de Genebra, em 2016.
Dois anos mais tarde, seu homólogo na cidade de Lausanne, Pierre-Antoine Hildebrand, mencionou um sistema duplo: preventivo por um lado, com uma “presença perpétua”, e repressivo por outro, com “tantas prisões quanto antes”.
“Nunca vai desaparecer completamente”
“É possível mitigar um pouco o problema, mas outras questões mais urgentes tomam seu lugar”, pondera Zobel, da Addiction Suisse. “Há um tráfico lucrativo, com uma demanda. Ele nunca vai desaparecer completamente. Mas talvez seja possível encontrar arranjos nos quais a situação seja suportável e a população esteja protegida.”
Atualmente, é o aparecimento do crack em Genebra que está causando preocupação. Moradores e comerciantes estão mais uma vez soando o alarme e querem que a polícia aja.
Mas é mais fácil falar do que fazer: “Eu acho que é uma ilusão dizer que podemos erradicar o tráfico de rua com uma presença diária nesses lugares sensíveis. Obviamente não podemos fazê-lo, porque seria em detrimento de outras ações”, advertiu o conselheiro de Estado de Genebra, Mauro Poggia, entrevistado pela RTS.
Hoje, como no passado, é preciso fazer uma constatação difícil: a antiga luta contra as drogas é um eterno recomeço.
Adaptação: Clarice Dominguez
(Edição: Fernando Hirschy)
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