Colapso das criptomoedas pode beneficiar Suíça
A falência da FTX, uma das maiores corretoras de criptomoeda do mundo, coloca em xeque o futuro dessa tecnologia. Poderá a Suíça se beneficiar da reorganização do setor?
As empresas suíças estão à beira da crise do setor de criptomoedas, divididas entre as inevitáveis perdas de curto prazo em que incorreram e a perspectiva do país se estabelecer como centro mundial da indústria do blockchain.
Há pouco a FTX, sediada nas Bahamas, era vista como uma das mineradoras de criptomoedas mais estáveis e inovadoras do mundo. Combinava duas missões: ser a segunda corretora do mundo e operar a empresa-irmã Alameda Research, um negócio altamente lucrativo.
Entretanto, a FTX declarou falência nos EUA no início de novembro e está sob investigação em numerosos países por suspeita de fraude. “Nunca em toda minha carreira vi tal falha de controles corporativos e uma ausência tão significativa de relatórios financeiros confiáveis”, declarou o liquidatário da empresa, que também já foi responsável pela liquidação da Enron, em documentos judiciais dos EUA.
Ponta do iceberg
É provável que a implosão FTX ecoe na Suíça, mas os danos reais só serão avaliados nos próximos meses. O setor está se preparando para uma queda no volume de negócios, menos investimento de capital de risco, mais falências potenciais de empresas com vínculos comerciais com a FTX e uma redução do apetite do setor financeiro tradicional por assumir riscos relacionados com o mercado de criptomoedas.
“Provavelmente estamos só vendo a ponta do iceberg hoje”, afirmou Michael Guzik, chefe executivo da plataforma suíça CLST. “A confiança foi perdida, mesmo apesar da negação de alguns atores do mercado.”
“É difícil avaliar a gravidade do caso para o mercado de criptomoedas no país”, avaliou Martin Burgherr, do banco Sygnum. “Prevemos que isto será severo para a indústria global com efeitos significativos em cascata que ainda não vieram à luz.”
Várias empresas suíças do setor, incluindo Bitcoin Suisse, Digital Finance, 21Shares, Sygnum e bancos SEBA, emitiram declarações esclarecendo que não correm o risco de serem afetadas pelo colapso da FTX.
Bitcoin Suisse reconheceu que uma “quantia marginal” de seus fundos foi bloqueada no processo de falência da FTX, mas argumentou que isso não é suficiente para afetar significativamente a saúde financeira da empresa. A subsidiária FTX Alameda Research tinha investido na SEBA, mas o banco diz que esta participação é inferior a 1% e que eles não tinham direito a voto.
Fundos bloqueados
A Crypto Consulting, uma empresa que administra fundos investidos em criptomoedas, disse que os investidores que têm ativos presos no FTX não receberam indicações claras sobre como ou quando poderão recuperar suas participações.
A FTX iniciou suas operações na Suíça em 2022, seus primeiros passos centraram-se na aquisição de um escritório de advocacia suíço especializado em criptomoedas. Sua intenção era fazer da Suíça a sede de suas operações na Europa e no Oriente Médio.
Entretanto, os executivos responsáveis por esta unidade de negócios já mudaram seus perfis de mídia social para se distanciar da FTX e responderam às questões enviadas pela swissinfo.ch.
Apesar do que aconteceu, a Suíça – que se vende ao mundo como importante mercado para as criptomoedas – está confiante de que a derrocada da FTX trará alguns benefícios a longo prazo. Por exemplo, a indústria de moedas criptográficas possivelmente sairá das sombras dos paraísos fiscais para se mudar para países mais respeitáveis, com uma forte tradição de supervisão regulatória.
“Os mercados offshore e seus benifícios fiscais perdem sua atratividade”, considerou Ralf Kubli, membro da diretoria da Associação Casper. “Clientes institucionais que se preocupam com sua reputação não têm interesse em fazer negócios nesses mercados.”
Promover segurança
“Seu colapso oferece à Suíça novas oportunidades para se posicionar como um porto seguro para os investidores nestes tempos incertos”, declarou Martin Burgherr, da Sygnum.
O banco recebeu mais 345 milhões de francos (363 milhões de dólares) de ativos de clientes nas três primeiras semanas de novembro, fundos fugindo da volatilidade. Espera-se que isto alcance 400 milhões de francos até o final de novembro.
A Suíça já alterou suas leis corporativas e financeiras para atender às necessidades da blockchain, e o órgão regulador do sistema financeiro suíço – FINMA – já está acostumado às nuances impostas pelas moedas criptográficas também.
O acima exposto levou BitMEX, outra corretora de criptomoedas, a avaliar uma transferência das Ilhas Seicheles para a Suíça após críticas dos EUA, exigindo maior transparência em suas operações.
“A regulamentação é necessária para evitar as potenciais atividades maliciosas e criminosas que temos visto em grande escala e em vários casos”, escreveu a revista Crypto Finance em um artigo sobre a falência da FTX.
Adaptação: Alexander Thoele
Falência
A FTX entrou com pedido de falência em 11 de novembro, uma das maiores explosões das grandes de cripto, após operadores correrem para sacar 6 bilhões de dólares da plataforma em apenas 72 horas e a bolsa rival Binance abandonar um acordo proposto de resgate. (Fonte: Reuters)
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