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Como deve ser a agricultura do futuro?

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Um agricultor indiano e seus patos em Uttar Pradesh, em julho de 2021. Copyright 2021 The Associated Press. All Rights Reserved.

Um terço dos alimentos produzidos no mundo é jogado fora, enquanto 10% da população mundial passa fome. Obviamente, algo está errado. Em uma cúpula realizada em setembro, a ONU quis saber o que precisa ser mudado no sistema para que todos possam se alimentar.

A fome na Ásia, África e América Latina não é causada apenas por guerras, desastres naturais e má governança local. De acordo com a ONG alemã WelthungerhilfeLink externo, as injustiças globais, como acordos comerciais injustos ou subsídios agrícolas ocidentais, também estão na raiz da fome e da desnutrição. A Suíça, com seus subsídios agrícolas e acordos de livre comércio, está, portanto, totalmente imbricada.

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Campo de trigo na Áustria, julho de 2021. Keystone / Helmut Fohringer

“O sistema alimentar atual apresenta uma série de problemas”, avalia Yvan Schulz, da ONG Swissaid. Os pequenos agricultores dependem de empresas internacionais de sementes, diz ele. As grandes plantações ocupam muitas terras para exportação, então a produção de alimentos para a população local é muito baixa. Os produtos de exportação são transportados para o outro lado do mundo, onde grande parte da comida é desperdiçada, etc.

O problema da fome vai piorar, pois as safras diminuirão afetadas pelas mudanças climáticas. Ao mesmo tempo, a população de parte dos países do Sul cresce rapidamente. Portanto, será necessário alimentar cada vez mais pessoas com menos alimentos.

A questão não é se, mas como

A princípio, a Suíça se posiciona favorável a uma transformação dos sistemas alimentares. “Hoje, todos concordam que o sistema deve mudar, não só economicamente, mas também social e ecologicamente”, escreveu o porta-voz da Confederação, Pierre-Alain Eltschinger, para SWI swissinfo.ch.

Mas a decisão sobre qual caminho seguir gera debates ferozes entre ONGs, governos e lobistas. Enquanto alguns vêem a solução na agroecologia e no fortalecimento dos pequenos agricultores, outros defendem a promoção de parcerias público-privadas ou uma revolução verde por meio da engenharia genética.

O que pode ajudar?

De acordo com o Grupo Syngenta – empresa chinesa de agroquímicos e líder mundial em pesticidas com sede na Basileia – é possível produzir mais alimentos por meio de sementes, fertilizantes e pesticidas melhorados. “Estamos ajudando os agricultores a colher mais alimentos de menos terra para que a população mundial tenha o suficiente para comer”, escreveu Beat Werder, porta-voz da Syngenta, a pedido de SWI swissinfo.ch.

ONGs como Swissaid, Public Eye, Pain pour le monde e muitas outras veem a questão de maneira diferente. Segundo eles, a produção é suficiente. As desigualdades é que são responsáveis ​​pela fome. Os pequenos agricultores do Sul devem ser apoiados no cultivo agroecológico, ou seja, ecológico e social. A Swissaid exige até mesmo tratamento tarifário preferencial dentro da OMC para produtos agroecológicos do Sul, bem como subsídios direcionados.

Patrick Dümmler, do think tank de orientação econômica Avenir Suisse, é cético em relação à demanda das ONGs de subsidiar produtos do Sul: “A segregação e o protecionismo estão elevando os preços dos produtos no país e são, portanto, o oposto da redução da pobreza”. Tal abordagem pouco beneficia os agricultores locais, sendo a Suíça um exemplo inglório: “As margens de isolamento são encontradas nos elementos a montante e a jusante da cadeia de valor e não entre os agricultores”. A luta contra a fome e a pobreza, diz Dümmler, requer um sistema de comércio internacional o mais livre de barreiras possível.

Ele vê um grande potencial na engenharia genética de plantas. Isso poderia permitir reduzir o uso de pesticidas ou selecionar variedades que requeiram menos água. De acordo com Dümmler, também faria sentido reduzir as perdas devido ao armazenamento inadequado logo após a colheita. “Aqui, o conhecimento de parceiros de negócios – por exemplo, empresas – pode ser útil.”

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Keystone / Bernd Wüstneck

Vozes do Sul

Antes da cúpula da ONU, a Suíça organizou encontros com atores da África, Ásia e América Latina. Nas reuniões, os representantes das regiões compartilharam que querem mais transparência sobre os investimentos em terras e uma política tributária que promova produtos sustentáveis.

Além disso, os consumidores devem ser conscientizados sobre o valor dos alimentos e seu impacto ecológico e social. Os preços dos alimentos devem refletir o valor real e os agricultores devem ser mais bem pagos.

Os participantes também apontaram que é necessário que as regras de comércio global sejam alteradas em favor dos pequenos agricultores nos países em desenvolvimento. Eles também criticam os atuais padrões internacionais de certificação desfavoráveis ​​aos seus produtos locais. Por conseguinte, sugerem que se apliquem regras diferentes considerando se o produto se destina ao consumo local ou à exportação.

Além disso, enquanto as ONGs ocidentais estão acostumadas a criticar severamente as parcerias público-privadas, os representantes do Sul expressaram opiniões positivas sobre elas no diálogo com a Suíça. Outro ponto interessante é que os participantes não demonstraram ter consenso sobre a questão dos subsídios. Enquanto, para alguns, os subsídios levam a distorções de mercado e preços injustos, para outros eles são um meio legítimo de promover uma agricultura ambientalmente correta.

De acordo com um relatório recenteLink externo de várias agências das Nações Unidas, a maioria dos subsídios no setor agrícola distorce os preços e causa prejuízos ambientais e sociais. Tarifas e subsídios colocam os pequenos agricultores em desvantagem em relação às grandes empresas agrícolas. Os subsídios, em sua forma atual, causam fome e prejudicam o meio ambiente.

Adaptação: Clarissa Levy

Adaptação: Clarissa Levy

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