A euforia não salvará o clima
Após a euforia e os discursos que comemoraram o acordo climático de Paris como um "passo histórico", resta a parte mais difícil: concretizar os ambiciosos compromissos assumidos por 195 países. Apesar da enormidade da tarefa, a imprensa suíça é bastante otimista: a luta contra a mudança climática poderia ser uma oportunidade para a economia.
“Será um acontecimento que entrará nos livros de história ou só a continuação de uma política climática hipócrita praticada durante um quarto de século?” Como a maioria dos jornais suíços que comentam nesta segunda-feira o Acordo de Paris sobre o clima, O “Neue Zürcher Zeitung” (NZZ) fica entre euforia e cautela diante das metas ambiciosas expressas pela comunidade internacional.
O “Le Temps” prefere ficar do lado otimista: “Quase 200 países que representam a grande maioria das emissões globais de CO2 deixaram de lado suas diferenças – ou pelo menos parte delas – para participar juntos na batalha do clima. (…) Por isso, é uma boa razão para acolher a ambição do acordo de Paris.”
O desafio agora é transformar a análise e ir muito além do que tem sido feito até agora, acredita o jornal da Suíça de língua francesa. “Os combustíveis fósseis, responsáveis por três quartos das emissões de gases de efeito estufa relacionados com a atividade humana não podem mais ser parte do nosso futuro energético”.
Vários fatores, segundo o Le Temps, sugerem que o mundo está no caminho da economia de baixo carbono. “O custo da energia solar e eólica caiu acentuadamente. Parte do setor financeiro não investe mais seus ativos nos combustíveis fósseis, considerados agora de alto risco. Tragicamente, a China se confronta com níveis tão altos de poluição que não tem outra escolha senão agir.”
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Próximo teste em 2016
Para o “Tribune de Genève”, o resultado das negociações de Paris é francamente “incrível”. O que inspira uma certa vigilância nos olhos do colunista do principal jornal de Genebra. “A dinâmica criada pela diplomacia francesa durante a preparação ajudou a caminhar juntos mastodontes como EUA, China, África do Sul, Índia … A sinceridade deles, duramente atingidos pelos efeitos do aquecimento global ou da poluição, não é de se duvidar, por enquanto. Mas vale a pena perguntar se os países satélites acharam bom aprovar o acordo no sábado à noite enquanto se preparam para pô-lo em causa durante a fase de validação a nível nacional. Será particularmente interessante, em primeiro lugar, como os países produtores de petróleo irão respeitar os compromissos assumidos em Paris no dia 12 de dezembro de 2015”.
O “La Liberté” também comemora com o “rumo” dado pela COP21, salientando a falta de meios para atingir os objetivos definidos no texto de 31 páginas aprovado em Le Bourget. “Se com este acordo o planeta respira um pouco melhor, ele não parou de girar depois de sábado. Ainda menos de queimar. Os governos, esses ‘Jedis’ responsáveis em preservar a ordem climática mundial, devem agir. O teste terá lugar na primavera de 2016, no início do processo de ratificação do texto pelos parlamentos nacionais”, diz o jornal do cantão de Friburgo.
Mesmo que o mundo não esteja salvo e que o caminho que conduz à saída dos combustíveis fósseis seja longo e tedioso, o “Blick” fala de “sinal dado a todos que consideravam a proteção do clima uma área reservada aos ecologistas românticos”. Quem ignorar este sinal pode ser alegremente ignorado nas futuras negociações sobre o clima, diz o tabloide de língua alemã. “Por esta razão, podemos nos alegrar com esta data histórica do 12/12/2015.”
Milagre ou desastre?
No mesmo tom, o “Aargauer Zeitung” observa que é certamente tentador usar superlativos, mas que olhando mais de perto “as medidas tomadas são apenas a base para alcançar os objetivos”. No entanto, segundo o jornal do cantão da Argóvia, a euforia manifestada reflete o alívio da comunidade internacional, “que apesar dos interesses divergentes, está pronta para reconhecer o problema do aquecimento global”.
Mais crítico, o “Le Courrier” endossa a fórmula adotada pelo The Guardian para resumir o que acha do texto aprovado na noite de sábado em Paris no final da 21ª Conferência do Clima da ONU. “Em comparação com o que [o acordo] poderia ter sido, é um milagre. Comparado com o que deveria ter sido, é um desastre”. O jornal esquerdista publicado em Genebra se mostra cético em relação à agenda e denuncia a falta de voluntarismo com a energia renovável.
Além disso, o Courrier acredita que o acordo “permanece evasivo sobre a forma de atingir as metas de redução de emissões. Diminuições que poderiam muito bem passar pela energia limpa, certamente, mas também por mecanismos bem questionáveis, como a compensação ou o confinamento geológico do dióxido de carbono. Também não é de se admirar que o texto parisiense não imagina nenhuma saída dos combustíveis fósseis e não põe em causa a nossa mobilidade motorizada.”
A proteção do clima pode ser rentável
O “Tages Anzeiger” exorta a “rica Suíça” a assumir uma maior responsabilidade pela proteção do clima a nível internacional. “Cabe agora ao Parlamento melhorar as metas climáticas para que a Suíça desempenhe um papel pioneiro na proteção internacional do clima.” Infelizmente, a maioria de direita do Parlamento não quer nem ouvir falar disso, recusando-se a ver as oportunidades que isso representa para a economia, as instituições financeiras e de seguros, lamenta o diário de Zurique.
No entanto, o “Südostschweiz” avança que o acordo climático envia um sinal claro para a economia: agora vale a pena investir na proteção do clima. “A competitividade de um país é medida pela velocidade com que ele gere o seu ponto de viragem energético. Isto também se aplica a empresas e investidores”, escreve o jornal publicado nos Grisões.
É exatamente nesse sentido que Bertrand Piccard se exprime nas colunas do diário financeiro “Agefi”. Nos olhos do aventureiro suíço, pai da aeronave Solar Impulse, o discurso ecológico tem que mudar: é preciso parar de querer diminuir e falar de custos, são os benefícios que permitem o avanço das coisas. “Falemos das soluções existentes em vez dos problemas. Há uma abundância de tecnologias limpas hoje para aumentar a eficiência energética ao ponto de reduzir para metade as emissões de CO2 e o uso dos recursos naturais (…) É preciso atrair os investimentos em busca de rentabilidade e não os doadores resignados”.
Adaptação: Fernando Hirschy
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