O teste que deverá permitir a volta à normalidade
Cientistas de todo o mundo concordam que encontrar uma vacina contra a Covid-19 levará meses, se não anos. Entretanto, o mundo científico e político deve dar respostas aos cidadãos para que estes possam regressar à sua vida quotidiana normal o mais rapidamente possível. A solução pode consistir em testes serológicos, que estarão prontos na Suíça até ao final de abril.
Enquanto esperam por uma vacina ou tratamento para combater a Covid-19, os cientistas apostam no diagnóstico. Para além do rastreio, o teste serológico é uma das soluções disponíveis.
Do que se trata esse teste?
O nosso organismo combate as doenças infecciosas através do sistema imunológico: produzimos anticorpos em resposta a agentes externos, para enfrentá-los e erradicá-los (assim espera-se). Depois de derrotarmos uma doença infecciosa, mantemos uma espécie de “memória” do vírus que nos atacou na nossa corrente sanguínea, para que possamos combatê-lo melhor e mais rapidamente se ele voltar. Esta memória é o anticorpo, e o resultado final é a imunidade.
O teste serológico pode detectar a presença destes anticorpos no soro sanguíneo. Uma vez que estes são produzidos pelo nosso corpo após vários dias ou semanas, o teste é utilizado para compreender não se a doença está presente, mas se a desenvolvemos. Neste caso estamos considerando principalmente pessoas assintomáticas que não sabem que foram infectadas.
O objetivo do teste serológico é identificar pessoas que tenham se recuperado da infecção e descobrir se são imunes à Covid-19. Estes são dois aspectos fundamentais para aqueles que têm de decidir a nível político como agir nas próximas semanas ou meses, se é preferível continuar a restringir os direitos fundamentais dos indivíduos ou se é seguro relançar o país à normalidade. em segurança
“O teste em si é rápido e fácil de realizar”, explica Giuseppe Togni do laboratório Unilabs. Uma máquina pinga o soro sanguíneo sobre uma solução contendo o antígeno derivado do vírus, que se encontra contido num pequeno tubo de ensaio. Após um curto período de incubação, a máquina lê automaticamente o resultado: uma reação colorida significa “positiva”, os anticorpos estão presentes no soro. Uma só máquina pode realizar 400 testes por hora de forma totalmente automática e, se necessário, operar 24 horas por dia.
O teste na Suíça
O teste é desenvolvido em laboratórios de todo o mundo, em uma corrida contra o tempo. A Suíça, que está na vanguarda da pesquisa biomédica, também investe recursos para responder a este desafio.
Já se encontram hoje no mercado vários testes. Os melhores têm uma confiabilidade entre 85 e 90%. Giuseppe Togni, Director Científico do laboratório central da Unilabs em Coppet, cantão de Vaud, considera que os dados são insuficientes: “A confiabilidade é essencial com este tipo de teste. Nos nossos laboratórios, conseguimos atualmente alcançar uma taxa de 99%. Mas isto não é suficiente. Temos de ter 100% de certeza. Seria perigoso para qualquer pessoa sentir-se segura com base num mau teste”.
O passo decisivo para alcançar 100% de confiabilidade deve ser dado nas próximas semanas. “Até há poucos dias, não me atreveria a antecipar uma data”, admite Giuseppe Togni, responsável por uma força-tarefa internacional, “mas, tendo em conta os resultados, estou muito confiante”. Um teste serológico fiável estará pronto no final do mês de abril”. Na corrida para desenvolver um teste, a equipe de Giuseppe Togni está trabalhando com as universidades de Genebra e Zurique.
Anticorpos protetores?
A monitorização dos anticorpos é essencial, mas também é necessário determinar se estes anticorpos permitem o desenvolvimento da imunidade. Como explica Giuseppe Togni, “o importante é saber se esses anticorpos são ‘neutralizantes’ ou não”. Existem anticorpos protetores (uma vez desenvolvidos, a pessoa fica imune à doença) mas também existem anticorpos que não o são, como o que combate a AIDS.
Atualmente, é ainda muito cedo para rotular esses anticorpos como neutralizantes. “Ainda não há estudos definitivos. Com base na nossa experiência, estes anticorpos devem ser protetores porque a Covid-19 é muito semelhante a outros coronavírus que já conhecemos”, diz o investigador.
Isso significa que aqueles que superaram a infecção estariam protegidos, independentemente de terem ou não desenvolvido sintomas.
Ciência e política
Se conseguirmos identificar com segurança aqueles que são imunes, eles poderão voltar ao trabalho, minimizando assim o risco de contágio. “No entanto, não é essa a questão que temos de colocar a nós próprios. Temos de nos perguntar para quem são estes testes. Não vale a pena testar toda a população. No Ticino, por exemplo, de acordo com estudos fiáveis, entre cinco a dez por cento das pessoas estão infectadas. Não faria sentido testar toda a gente”.
Então, quem deve ser testado? Giuseppe Togni está convencido: “Acima de tudo, o pessoal de enfermagem. Depois, todas as pessoas em profissões que não podem ser interrompidas. Depois, podemos considerar a possibilidade de alargar os testes a outros setores”. Mas cuidado, adverte o cientista: “durante este período, vimos emergir uma grande solidariedade entre as pessoas e especialmente entre gerações. Se começarmos a escolher quem pode e quem não pode fazer o teste, essa solidariedade pode facilmente desaparecer”.
O teste estará disponível no final de Abril, no momento em que a crise do coronavírus atingir o seu pico na Suíça. Caberá então aos políticos fazer bom uso dela.
swissinfo.ch/ets
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