Covid afeta turismo de inverno na Suíça
O fechamento das pistas de esqui é uma das medidas aplicadas pelos países vizinhos da Suíça para combater a pandemia. Os Alpes helvéticos continuam abertos. De fato, a economia das regiões alpinas depende do turismo de inverno.
As estações de esqui suíças são tema de inúmeros artigos na imprensa internacional. Embora a grande parte dos países europeus tenha decidido fechar as pistas – ou pelo menos dissuadir seus cidadãosLink externo de esquiar durante o período de festas – a Suíça é mais uma vez exceção: o governo deu luz “verde” a operação das estações de esqui, se estas cumprirem algumas condiçõesLink externo. A pressão exercida pelos países vizinhos foi vencida pelo lobby do setor, do qual fazem parte representantes dos cantões alpinos e a maioria dos parlamentares.
Neste contexto sem precedentes, as atividades das estações de esqui nos Alpes helvéticos estarão sob o olhar atento das autoridades. Porém já há controvérsias: imagensLink externo de esquiadores enfileirados nos teleféricos ou agrupados em Zermatt (novembro) e, dez dias atrás em Verbier, desafiam as regras do distanciamento físico. Resultado: críticas na Suíça e na imprensa europeia.
Porém a interrupção de todas as atividades nas estações de esqui pode ter consequências econômicas graves. Na Suíça, as regiões montanhosas cobrem quase dois terços do território e são os principais centros da atividade turística no país. Na temporada de 2018 e 2019, 54% dos pernoites de turistas foram computados nos cantões do Valais, Grisões e nos Alpes bernenses, como mostram os númerosLink externo do Departamento Federal de Estatísticas (BFS, na sigla em alemão). Nas regiões montanhosas, um em cada cinco francos é gerado direta ou indiretamente pelo turismo. O setor emprega uma em cada quatro pessoas no país.
Nessas regiões, que abrigam as principais estações de esqui do país, o inverno é um período crucial. Metade das noites de hotel registradas no cantão dos Grisões, particularmente em estações de esqui como Davos, e mais de 40% daquelas no cantão Valais – por exemplo, em Zermatt – foram registradas entre dezembro e março.
“O turismo de inverno representa cerca de um por cento do PIB suíço. Porém é mais de 10% do PIB gerado em regiões alpinas nos cantões do Valais e Grisões”, ressalta Laurent Vanat, consultor e autor de estudo internacional sobre turismo de neve e de montanhaLink externo. “No total, o turismo de inverno gera cerca de cinco bilhões de francos por ano.”
Importância dos teleféricos
Apesar de uma leve tendência de queda, mas constante, nos últimos anos, os teleféricos e o esqui continuam sendo a principal força motriz de uma estação de esqui. Elas geram efeitos econômicos diretos e indiretos em nível regional, explica a Federação Suíça de TurismoLink externo. “São também as infraestruturas que nos permitem acolher os maiores volumes de turistas”, ressalta Laurent Vanat.
Na temporada de 2018/2019 (que inclui o verão de 2019), essa indústria gerou um faturamento total de 1,5 bilhões de francos, dos quais três quartos no inverno. Ela também empregou 17 mil pessoas, acrescenta a Associação Nacional dos TeleféricosLink externo.
As estações de esqui suíças registraram aproximadamente 20 milhões de estadias diárias de esquiadores, um número que caiu quase 20% em relação à temporada anterior. A explicação: o fim precoce da temporada devido à pandemia e à baixa precipitação de neve. A média dos últimos cinco anos é de aproximadamente 23 milhões. Dois terços dos turistas vieram da Suíça e quase 28% da União Europeia.
Os esquiadores domésticos são responsáveis pela maioria das estadias nas montanhas em quase todos os países. Apenas dois países no mundo são exceções: Andorra e Áustria, onde 90% dos turistas de inverno são estrangeiros. O estudo de Laurent Vanat apresenta-se também em gráfico.
Turismo de inverno também é importante para as regiões montanhosas vizinhas
O turismo de inverno é o principal setor econômico de uma grande parte das regiões montanhosas francesas e austríacas. Metade da economia da região da Savóia está ligada direta – ou indiretamente – aos esportes de inverno, de acordo com estatísticas locaisLink externo. As estações de esqui francesas geram mais de um bilhão de euros em receitas anuais e representam um gasto estimado em 10 bilhões de euros, ou seja, entre 5% e 10% da economia turística francesa. As áreas de esqui proporcionam 18 mil empregos diretos e 120 mil indiretos a cada inverno.
Na ÁustriaLink externo, os teleféricos geraram mais de 1,5 bilhões de euros de faturamento durante a temporada de 2018-2019. O setor estima que os entusiastas dos esportes de inverno geraram um faturamento total de mais de 11 bilhões de euros e uma contribuição, para o PIB austríaco, de quase seis bilhões de euros. Quase 126 mil empregos foram criados direta ou indiretamente por esta indústria.
Suíça, “potência” do esqui
As atividades de inverno representam mais de 33 bilhões de euros a nível europeu e 69 bilhões de euros globalmente, de acordo com Laurent Vanat. Os Alpes são, de longe, o maior mercado de esqui do planeta, com mais de 40% dos esquiadores do mundo.
A média de 23 milhões de estadias diárias de esquiadores coloca a Suíça em posições inferiores no ranking, abaixo dos Estados Unidos, França e Áustria. Porém, em termos de população, a Suíça tem a segunda maior proporção do mundo de esquiadores, depois da Áustria.
Contabiliza-se no mundo mais de duas mil estações de esqui com pelo menos cinco teleféricos. Os EUA, Japão, França e Itália têm a maioria das estações de esqui: aproximadamente 200 estações em cada país. Em números absolutos, a Áustria ocupa a 5ª posição (200) e a Suíça a 6ª, com quase 90 estações de esqui. Entretanto, com mais de duas estações por mil quilômetros quadrados, a Suíça tem a maior densidade de estações depois do Japão e Áustria.
Existem cerca de 50 estações no mundo inteiro consideradas importantes – ou seja, contabilizam mais de um milhão de estadias diárias de esquiadores por temporada. Destes, 80% estão nos Alpes. A Áustria abriga a maioria delas e depois vem a França.
A Suíça ocupa o quarto lugar com seis grandes estações de esqui: Zermatt (cantão do Valais) é o resort mais popular do país, seguido por Arosa Lenzerheide (Grisões), Adelboden-Lenk (Berna), Davos-Klosters (Grisões), Verbier (Valais) e St. Moritz (Grisões).
Embora esquiar na Suíça seja significativamente mais caro que nos países vizinhos (preços 30% mais elevados do que na Áustria e França, por exemplo), os países vizinhos – onde suas estações de esqui estão fechadas – temem que os turistas se direcionem à Suíça como alternativa viável para temporada. A França e a Itália chegaram a determinar quarentena obrigatória aos turistas que retornam do país alpino para desencorajar seus cidadãos a viajar.
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