Crise grega pode afetar economia suíça
Enquanto a Suíça está exposta diretamente de forma modesta em relação à Grécia, a perspectiva de um completo colapso econômico do país em dificuldades é suficiente para preocupar alguns observadores.
O primeiro-ministro grego George Papandreou enfrentará uma prova crucial na próxima semana, quando o Parlamento decide se aceita um plano de austeridade de 28 bilhões de euros.
Se esse pacote de cortes de despesas públicas – que prevê corte de despesas públicas, aumento de impostos e privatizações de bens do Estado – for rejeitado, a União Europeia ameaçou segurar o pagamento da ultima parcela do plano de ajuda de 110 bilhões de euros (133 bilhões de francos).
A Grécia terá então sérios problemas para continuar solvente, pois necessita pagar 12 bilhões de euros em dívidas de curto prazo até a metade de julho.
As consequências diretas dessa crise seriam limitadas para a Suíça. A Grécia é apenas o 26° maior mercado de exportação para produtos suíços (1,3 bilhões de francos ou US$ 1,43 bilhões em 2010), enquanto as importações originárias do mesmo país totalizaram negligenciáveis 222 milhões de francos no ano passado.
Efeito cascata
O setor financeiro helvético está exposto diretamente de forma limitada em relação à divida grega. Os bancos reduziram débitos, com países como Grécia, Irlanda, Espanha, Portugal e Itália, de 60 bilhões de francos em 2009 para 46 bilhões no ano passado – com apenas dois bilhões de francos em sinistros pendentes gregos.
No ano passado, a Suíça decidiu aumentar sua participação nos plano de resgate do Fundo Monetário Internacional de 2,5 bilhões a 18 bilhões de francos.
Porém a maior preocupação da Suíça – e qualquer outro país – seria o potencial de um efeito-cascata que uma inadimplência da Grécia teria sobre a economia europeia e global.
Alessandro Bee, economista no Banco Sarasin, declarou à swissinfo que uma turbulência econômica dessas dimensões teria consequências dolorosas para os exportadores suíços ao valorizar ainda mais o franco como moeda-refúgio.
“O principal risco da inadimplência grega seria o valorização do franco até o ponto em que os exportadores não conseguirão mais manter sua competitividade”, diz. “Se o franco alcança paridade com o euro, o setor de exportação da Suíça poderia entrar em colapso.”
Outros mercados afetados
A retomada recente das vendas do país no exterior está relacionada ao fortalecimento da economia da Alemanha, o maior parceiro comercial da Suíça. Essa situação mudaria se a massiva contribuição alemã ao salvamento da Grécia não funcionar. “A economia helvética seria fortemente atingida se a Grécia arrastar a Alemanha para o buraco.”
Um terceiro motivo de preocupações: as consequências que uma possível inadimplência do Estado grego teria para o sistema bancário europeu.
Poupadores gregos fizeram retiradas de 30 bilhões de euros (36 bilhões de francos) das suas contas bancárias no ano passado e continuam a fazê-lo em proporções de 1,5 bilhões a dois bilhões de euros por mês neste ano. Se a União Europeia cessar sua ajuda financeira a corrida aos bancos gregos será certamente maior.
O Banco Nacional Suíço (SNB, na sigla em alemão) afirmou na semana passada que estava preocupado com a exposição indireta dos dois maiores bancos suíços, o UBS e o Credit Suisse – em relação a um possível efeito-cascata no caso da inadimplência grega.
Preocupações do banco central
Enquanto o SNB reconhece que os dois bancos começaram a elevar os requisitos suplementares de fundos próprios, ele manifesta sua inquietação quanto ao aumento dos investimentos de risco que as duas instituições começaram a assumir.
“Os riscos de credito e do mercado, ampliados pelos efeitos de contágio potencial na crise de endividamento nas áreas periféricas da zona euro, constituiriam a mais importante fonte de risco”, escreveu o relatório de estabilidade financeira do SNB. “As perdas potenciais sob esse cenário seriam substanciais.”
Em outras palavras, a inadimplência grega se espalhando por outros países em dificuldade iria provavelmente rebaixar o credito em outras áreas. O SNB está preocupado que o UBS e o Credit Suisse disponham suficientemente de capital de alta qualidade para absorver essas perdas no pior dos casos.
Ambos os bancos já declararam que sua exposição direta à dívida grega é mínima e ressaltaram os avanços que fizeram para melhorar seu balanço nos últimos meses.
O UBS acrescentou que um ligeiro aumento do montante dos ativos de risco nos seus depósitos poderia ser atribuído à melhora do mercado de crédito desde o começo do ano. O banco afirma que continua a avaliar vários cenários de risco, incluindo a possibilidade de moratória soberana.
Independência
O próprio SNB iria sofrer perdas se a inadimplência da Grécia provocar uma espiral de queda do euro.
Esse órgão que é o banco central da Suíça aumentou enormemente suas reservas em euros nos dois últimos anos para tentar frear a valorização do franco. O SNB teve perdas de 26 bilhões de francos devido as suas intervenções no cambio no ano passado, uma situação que poderia se agravar se o euro enfraquecer ainda mais.
Os resultados insatisfatórios provocaram condenação política, forcando o presidente do SNB, Philipp Hildebrand, a defender-se publicamente na ultima terça-feira.
“O SNB continuará a utilizar os instrumentos que julgamos serem os mais adequados e necessários para cumprir nosso mandato de defender os interesses do país como um todo, no melhor das nossas capacidades”, declarou durante o discurso. “O SNB precisa continuar a ser capaz de exercer sua independência sem ser fundamentalmente questionado.”
Os desequilíbrios na economia grega se agravaram desde a crise financeira de 2008, que rapidamente expuseram os problemas estruturais do país.
A maioria dos analistas considera que os problemas da Grécia são causados pela má administração do país e um sistema fiscal inoperante, complementados também pelas falsas estatísticas que pareciam mostrar as finanças do país em uma melhor situação do que a realidade.
Incapaz de pagar suas dívidas, a Grécia se mostrou relutante em pedir ajuda aos outros países da União Europeia.
Na primavera de 2010, a União Europeia concordou em organizar um plano de resgate de 110 bilhões de euros.
No final do ano, a UE e o Fundo Monetário Internacional criaram o Mecanismo Europeu de Estabilidade para vigorar em 2013 com uma capacidade de 750 mil milhões de euros. Seu objetivo é auxiliar países em dificuldades econômicas, que também incluiriam Irlanda, Portugal, Espanha e Itália.
O presidente grego George Papandreou foi forcado a implementar um programa de austeridade da ordem de 28 bilhões de euros em troca da ajuda europeia. Dele fazem parte cortes dos gastos públicos, aumentos de impostos e privatização de bens do Estado.
O Parlamento grego irá votar o pacote na próxima semana. A UE só ira liberar a ultima parcela do empréstimo, que garantirão a liquidez do país a partir do próximo mês, se as reformas forem aprovadas.
O programa de reformas também é necessário para garantir empréstimos futuros de 120 bilhões de euros aprovados pelos ministros das Finanças da UE no domingo para manter até 2014.
Adaptação: Alexander Thoele
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