Jornal da minoria reto-romana à beira da falência
O "La Quotidiana", único jornal diário em reto-romano, o quarto idioma nacional da Suíça, comemora vinte anos de existência. Porém pode ser o último aniversário: operando no vermelho, a editora responsável ameaça fechar a publicação se não houver um apoio financeiro público. Dentre as propostas, uma fusão com a televisão estatal.
Há pouco a editora Somedia comemorou em Chur, capital do cantão dos Grisões, os vinte anos de funcionamento do “La QuotidianaLink externo“. Criado em 1997 através da fusão de vários pequenos jornais regionais, o jornal é publicado de segunda à sexta com textos nas cinco diferentes versões locais do reto-romano e também no idioma oficial “rumantsch grischun” (ler “O que é o reto-romano”).
Como único jornal diário publicado na Suíça no quarto idioma oficial, ele tem quatro mil assinantes, dez mil leitores e oferece espaço para os anunciantes locais. Porém não consegue operar sem prejuízos, o que leva a Somedia a anunciar que não irá mais cobri-los a partir de 1° de janeiro de 2018. “Do ponto de vista da editora, não vale mais a pena manter sua publicação sob as atuais condições”, escreveram o diretor-executivo Andrea Masüger e o responsável de mídia Silvio Lebrument ao governo local e à ANR, agência de notícias em reto-romana financiada pelo governo suíço e que fornece ao “La Quotidiana” textos e imagens.
O que é o reto-romano
Segundo o Departamento Federal de EstatísticasLink externo (6.907.818 em 2015), apenas 0,5% (40.394) da população suíça declara falar reto-romano. O idioma mais importante é o alemão (63%). Depois vem francês (22,7%) e italiano (8,1%).
O reto-romano é falado em cinco diferentes versões regionais: Sursilvan (Vorderrhein), Sutsilvan (Hinterrhein), Surmiran (Oberhalbstein, Albula), Puter (Oberengadin) e Vallader (Unterengadin e Val Müstair).
A versão mais falada é o Sursilvan: 16 mil pessoas.
O Rumantsch GrischunLink externo foi criado por iniciativa da Liga RumantschaLink externo do filólogo Heinrich Schmid entre os anos 1970 e 1980 como língua comum escrita para a minoria reto-romana. Ela é desde 2001 a uma das línguas oficiais no cantão dos Grisões e no governo federal em sua comunicação com essa minoria.
Junto ao anúncio, Lebrument acrescentou também uma proposta para salvar a publicação: os custos de funcionamento do “La Quotidiana”, dentre eles de produção e pessoal, poderão ser assumidos pela ANR, mas o jornal continuaria a ser publicado pela editora Somedia. Assim o financiamento atual do governo federal e cantonal sofreria um acréscimo de 300 mil francos ao ano.
A reação não foi positiva. Questionado pelo jornal Tages-AnzeigerLink externo, o representante do governo cantonal dos Grisões, Martin Jäger, lembrou que as leis permitem o financiamento público de uma agência responsável pela produção de conteúdo jornalístico em reto-romano para atender todas as mídias produzidas nos idiomas, mas não de uma publicação específica. Martin Gabriel, presidente da ANR, também refutou a proposta. “Não é a função de uma agência financiar um jornal. Temos diferentes clientes e a Somedia é apenas um deles”, declarou.
Jornal gratuito para todos os lares reto-romanos?
No discurso feito durante as comemorações dos 20 anos do jornal, o presidente do conselho de administração da Somedia e editor, Hanspeter Lebrument, propôs também uma nova redistribuição dos recursos financeiros públicos para as mídias em reto-romano. Hoje a empresa Televisão e Rádio Reto-RomanaLink externo (RTR, que pertence ao grupo da SSR SRG), recebe 25 milhões de francos oriundos da taxa audiovisual, paga por todos os lares suíços. A agência ANR recebe 1,1 milhões de francos.
Sua proposta seria a separação da RTR da SRG SSRLink externo e o “La Quotidiana” da editora Somedia e criar, dessa forma, um novo canal. Ele seria responsável pela produção de mídia no quarto idioma nacional, incluindo a de um jornal gratuito para todos os lares da região.
Porém a ideia também encontra oposição. O deputado-federal Martin Candinas (Partido Democrata-Cristão) e membro do conselho de administração da ANR, considera que a publicação de um jornal não faz parte do mandato da SRG SSR, mas não se opõe a outras formas de apoio. “Uma cooperação mais forte entre a ANR e a RTR faz sentido.”
Para o redator-chefe do La Quotidiana, Martini Cabalzar, o fim do jornal teria consequências para esse grupo linguístico. “Seu fechamento seria uma catástrofe para o movimento de defesa da lingua reto-romana. A sobrevivência de um idioma depende muito da palavra escrita”, afirma, defendendo que um idioma não pode se desenvolver sem a existência de um jornal.
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