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Abrindo espaço para as migrantes qualificadas

Las participantes del programa Proacte este 2020.
As participantes do programa Proacte em 2020. Découvrir

Ter objetivos profissionais definidos e recuperar a autoconfiança: dois pontos essenciais para evitar a desqualificação profissional. Um dos principais recados da associação "DécouvrirLink externo", que ajuda mulheres migrantes a conquistar seu espaço no mercado de trabalho na Suíça.

A história desse grupo, atuante na parte francófona da Suíça, começou com a decisão de Rocío Restrepo, uma migrante originária da Colômbia que recebeu asilo político na Suíça em 1999, de sair de casa para procurar emprego.

Com dois diplomas universitários no bolso e ampla experiência de trabalho na área de recursos humanos na Colômbia, essa mãe só conseguia trabalho em serviços domésticos, limpeza de escritórios e cuidado de crianças. “Essa seria a minha única chance na Suíça”, se perguntava. Então procurou associações de mulheres de Genebra. “Encontrei 80 mulheres que estavam na mesma situação que eu. Eram pessoas originadas dos mais diferentes países”, lembra-se.

A associação que criou ajuda a identificar os obstáculos comuns aos imigrantes qualificados para encontrar emprego na Suíça. Para isso analisam sua formação, habilidades e experiência profissional. As dificuldades são maiores quando a migrante não vêm da Noruega, Islândia, Liechtenstein ou da União Europeia, ou seja, países com os quais a Suíça tem acordos de livre circulação de mão-de-obra.

Em 2007, Rocío fundou a associação Découvrir. “O que fizemos na associação foi ajudar as pessoas que nos procuravam a descobrir formas de garantir o reconhecimento dos seus diplomas ou um reconhecimento parcial de estudos. Também avaliamos sua experiência de trabalho. E, dessa forma podemos ajudá-las a encontrar um emprego. Pois muitas vezes as migrantes acabam desvalorizadas devido ao seu percurso migratório”, explica a psicóloga suíço-colombiana.Link externo

Rocío Restrepo
Rocío Restrepo. découvrir

Mais de três mil mulheres já utilizaram os serviços da associação. É o caso de uma brasileira, formada em direito.

 “Vim para Genebra em 2013 para estar perto de meus filhos que já viviam no país. No Brasil eu era tabeliã. O começo foi muito difícil, pois não falava o francês. Cheguei a limpar casas para ter uma renda. Eu pensava que, na minha idade, sem falar idiomas e com meu diploma brasileiro, seria impossível conseguir um emprego melhor na Suíça.”

A associação ajudou-a nas etapas administrativas para solicitar o reconhecimento de diploma universitário e redefinir suas ambições profissionais. “Obtive excelentes notas no teste de francês DELF nível B2. Depois fiz um mestrado em criminologia na Universidade de Lausanne. Então reformulei meu curriculum vitae e consegui um estágio. Hoje trabalho como gerente de projetos na área de integração de imigrantes”, conta a brasileira no recente relatório anual da associação.

Objetivos realistas

“A pessoa interessada é que tem de se movimentar”, diz Maria Saldana, especialista em educação de adultos formada pela Universidade de Genebra e responsável pelo programa “ProActe” na associação.

Maria veio do Peru há 22 anos. No seu país trabalhava como assistente social. Ela ressalta que muitos participantes chegam sem ter um objetivo profissional em mira. “Então nosso programa ajuda a focar objetivos realistas, graças à experiência que temos no acompanhamento de cada caso.”

“Dou um exemplo. Há pouco encontrei uma migrante originária da Tanzânia. Ela é formada em engenharia eletrônica e tem até uma especialização na China, onde também trabalhou. Nos últimos quatro anos ficou em casa cuidando dos filhos e assim perdeu muito da autoconfiança. Chegou a pensar em trabalhar como assistente no consultório médico do marido ou até em abrir uma creche. Parecia ter esquecido das suas qualificações de engenheira”, ressalta Maria. “Avaliaremos objetivamente suas necessidades para ver quais são as verdadeiras opções que tem”, completa.

O programa funciona desde 2008. Desde então, já acompanhou 300 mulheres. “Mais de um terço conseguiu, no final, um trabalho que correspondia às suas qualificações”, acrescenta Rocio Restrepo.

Solidariedade, um valor fundamental

Além disso, toda mulher que conquista um lugar no mercado de trabalho suíço tem a obrigação de ajudar aquelas com um perfil semelhante, mas que ainda não alcançaram esse objetivo. “As pessoas precisam ser ter contato rápido com aquelas que já estão ativas em seu setor”, acrescenta Restrepo, que já planeja expandir o aconselhamento para a parte germanófona da Suíça.

A identificação das necessidades específicas de cada cliente através dos programas de aconselhamento e orientação em Genebra e em suas filiais em Vaud e Neuchâtel, é realizada graças ao apoio de doações privadas, subvenções públicas e contribuições próprias dos candidatos. No total, o orçamento anual da associação é de mais de um milhão de francos suíços.

Hoje, “Découvrir” procura trabalhar mais estreitamente com empresas “para aumentar a consciência do potencial das mulheres imigrantes”, uma questão de grande importância, observa Savoy Jérémie, que produziu uma tese de mestrado na Universidade de Genebra sobre o trabalho da associação. “Essa associação tem uma estratégia de sucesso para reduzir ou até eliminar a desqualificação das mulheres migrantes”, escreve a pesquisadora.

Adaptação: Alexander Thoele

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