“O franco alto é um detalhe”
Produzir localmente, mesmo em um ambiente de moeda forte como o da Suíça, é frequentemente mais vantajoso do que deslocar para o estrangeiro. Essa é a convicção de Suzanne de Treville, professora de administração na Universidade de Lausanne. Seus métodos convenceram até as mais altas esferas da administração Obama.
swissinfo.ch: O caso de Tudor Scan Tech é único ou é uma tendência que vai continuar?
Suzanne de Treville: Trata-se a meu ver de uma tendência geral. Na Suíça, dispomos de mão-de-obra qualificada e motivada, poiw os jovens têm a possibilidade de ir trabalhar em fábricas modernas, dinâmicas e atrativas. A proximidade das universidades e centros de pesquisa entre os melhores do mundo também é uma vantagem primordial. Em minhas pesquisas, calculei que a flexibilidade da Suíça oferece uma mais valia de 15 a 100% às empresas tecnológicas.
swissinfo.ch: Esse discurso é o contrário ao que domina na indústria. As deslocalizações não são uma fatalidade frente aos custos de produção cada vez mais altos na Suíça?
S. T.: Meu objetivo é justamente demonstrar que as deslocalizações são frequentemente mais caras do que aparecem inicialmente. Os riscos ligados à extensão da cadeia de produção são, por exemplo, consideráveis e geralmente ignorados.
Nossos métodos, que se baseiam em instrumentos da finança quantitativa, começam a ser adotados: cada vez mais empresas e governos, a exemplo dos Estados Unidos, se interessam por eles. Na Suíça, o Parlamento do Jura adotou recentemente uma moção para que esse cantão suíço utilize no futuro nossos instrumentos.
swissinfo.ch: Não se pode ocultar que o franco suíço valorizado pesa muito nas empresas exportadoras suíças…
S. T.: Vemos muito bem que, apesar da alta do franco, a economia suíça porta-se bem. Para numerosas empresas, o franco forte é um detalhe fácil de compensar. Como? Desenvolvendo um portfólio que combina ao mesmo tempo produtos inovadores e produtos existentes. O produto inovador garante uma forte rentabilidade, mas uma fábrica que produz esses produtos não é flexível para responder à volatilidade da demanda. Associando um produto existente, pode-se produzir mais quando há um pico de demanda sem que as despesas fixas e os custos de mão de obra aumentem.
swissinfo.ch: A hora das indústrias na Europa e nos Estados Unidos vai chegar logo?
S. T.: Tenho a convicção que sim. Os dirigentes políticos são cada vez mais numerosos a querer lutar contra a desindustrialização, cujas consequências são geralmente terríveis. Nos Estados Unidos, cidades inteiras estão em vias de pauperização depois de terem perdido suas indústrias. Na Grã-Bretanha também, a ideia de uma reindustrialização volta à atualidade com o “Brexit”.
Durante 20 anos, estimou-se que bastava inovar nos países ricos e produzir nas economias “low cost”. Ora, não somente a inovação não pode ser totalmente separada da produção, mas as atividades industriais é que criam empregos: para um emprego na indústria, você cria entre cinco e dez empregos na cadeia de abastecimento ou nos serviços. É considerável.
Adaptação: Claudinê Gonçalves
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