“A Suíça é plena de oportunidades”
A trajetória na Suíça do português Antônio Moreira começou em 1981, quando o jovem imigrante desembarcou no país para trabalhar como cozinheiro num restaurante de hotel nas montanhas. De lá para cá, construiu uma carreira empreendedora. Hoje, comanda um mercado de produtos de alta qualidade na costa de ouro do lago de Zurique.
Manter-se em movimento. Esse é um dos segredos do português Antônio Moreira, 57 anos, proprietário da Moreira Gourmet, mercado de produtos alimentares de alta qualidade e catering, no centro de Küsnacht, na costa de ouro do lago de Zurique. Localizado entre dois líderes do setor alimentício, o Migros e o Coop, o Moreira Gourmet se consolidou nos últimos anos atendendo clientes abastados e exigentes.
Sua história na Suíça começou em 1981, quando Moreira resolveu aceitar a proposta de um amigo, que desistiu de deixar Portugal, e lhe repassou a oferta de trabalho como cozinheiro do restaurante do Hotel Sunstar, em Grindelwald. Seu sonho de conhecer outros países e culturas falou mais alto, a ponto de fazê-lo deixar o trabalho de cozinheiro num restaurante em Portugal para arriscar um novo começo nas montanhas geladas da Suíça.
Com 20 anos e um curso de gastronomia no currículo, o jovem Moreira tinha muita sede de aprendizado. “Não perco tempo. Sempre procurei avaliar os meios disponíveis e me adaptar rapidamente”, explica o empreendedor. E com essa abordagem, pôs a mão na massa.
Mudar é preciso
Após três anos no restaurante do hotel Sunstar, Moreira já havia recebido outra proposta de trabalho, com melhores condições financeiras. E sem medo de mudanças, seguiu em frente. Vale lembrar que neste período, décadas de 80 e 90, havia mais ofertas de emprego no mercado, lembra Moreira. E o profissional soube aproveitar o cenário positivo. Aproveitou tanto que acabou mudando de emprego, em média, a cada 3 anos, seja porque recebia um convite de outro restaurante ou porque o chefe mudava e o levava junto.
Passou por diversos restaurantes. Foi galgando e alcançando postos de maior responsabilidade na cozinha em estabelecimentos cada vez mais sofisticados. Até chegar ao posto de chefe de cozinha do restaurante de um hotel de luxo em Küsnacht, que levava uma estrela do Guia Michelin e dois “toques” do guia Gault & Millau.
Para Moreira, toda a dedicação, sede de aprendizado e persistência trouxeram bons frutos. “Os suíços sempre reconheceram meu trabalho e me ajudaram muito”, diz. Ele conta que sempre teve que dar o primeiro passo. “Logo de cara entendi que era eu quem tinha que tomar a iniciativa e não esperar os outros”, afirma.
Em 1992, tomou a decisão de sair da cozinha para atuar diretamente com os clientes, em vendas. Queria ter mais tempo para família, já que como chef de cozinha sua disponibilidade à noite e nos finais de semana ficava sempre comprometida. Moreira assumiu então uma das seções da Oggenfuss, loja de produtos alimentares exclusivos, no centro de Küsnacht.
Sua performance ali foi tão apreciada que acabou chamando a atenção da concorrência. Foi convidado para coordenar as vendas de uma loja de alimentos especializada em peixe, em Schlieren. Ali, no novo estabelecimento, as vendas dobraram em três anos, de acordo com Moreira.
Novamente, após cerca de três anos, foi chamado pelo ex-chefe, proprietário da Oggenfuss, que o convidou para voltar e assumir toda área de vendas da loja. Negócio fechado. Moreira sempre se motivou com as mudanças. Voltou para a Oggenfuss e seguiu em frente. Em novembro de 2004, no entanto, recebeu uma notícia nada agradável. O proprietário do estabelecimento havia declarado a falência do negócio. De acordo com Moreira, alguns investimentos não haviam funcionado.
A trajetória
1981: Moreira chega à Suíça e começa a trabalhar na cozinha do Hotel Sunstar
1992: Depois de várias mudanças de emprego e crescimento profissional, Moreira decide iniciar uma carreira na área de vendas no setor alimentício
2004: Compra a Oggenfuss, em Küsnacht
2005: Inaugura o Moreira Gourmet
E agora?
Nesse momento, Moreira teve que parar para reavaliar seus planos. “Cheguei inclusive a pensar em voltar para Portugal. Mas entendi que ainda não era a hora de ir embora”, conta. Foi aí que surgiu uma oportunidade: comprar a Oggenfuss e continuar a atender a clientela tão fiel da região. Não havia muito risco, segundo Moreira, já que o investimento necessário para a compra era baixo. Moreira resolveu encarar o novo desafio e reinaugurou o estabelecimento em fevereiro de 2005, que passou então a se chamar Moreira Gourmet.
Naquele momento, Moreira não apenas avançou em sua trajetória profissional, como passou oficialmente a ser um empreendedor. Além da loja, o Moreira Gourmet também seguiu oferecendo os serviços de catering, sempre focando em produtos exclusivos e de alta qualidade. Apesar de nos últimos anos ocupar a posição de proprietário, Moreira conta que, com a aquisição do negócio, não sentiu muita diferença em seu dia a dia. “Já conhecia os clientes, o funcionamento do negócio e tudo mais”, explica.
Moreira se diz satisfeito com a performance do supermercado gourmet nos últimos 12 anos. Desde então o Moreira Gourmet tem registrado uma média de crescimento anual nas vendas de 5% a 7%. Em 2016, 97.883 clientes passaram pelo estabelecimento. Atualmente, o Moreira Gourmet conta com 16 funcionários em tempo integral.
Para ele, a grande força motriz de seu trabalho e do crescimento de seu negócio na Suíça é a clientela exigente. “A clientela é estupenda. São exigentes no atendimento e na qualidade. E não se preocupam com preço”, explica. “Ouço muito meus clientes, aceito as sugestões e procuro implementar.” Em 2014, o empreendedor renovou a loja e a cozinha, que fica no mesmo endereço e atende as demandas do serviço de catering.
O olho do dono
Seu dia a dia? Presença permanente na loja, contato direto com os clientes. É ali onde ele sente o pulso do negócio. E onde se sente em casa também. Aliás, durante esses anos, o empreendedor preferiu não envolver o resto na família no negócio. Moreira é casado e tem dois filhos, um deles cursa o secundário acadêmico e outro a universidade. “Eu nunca disse não, mas também não forcei o envolvimento deles nos negócios. Acredito que cada um deve seguir sua própria jornada”, explica.
Nas horas livre, Moreira joga tênis. Já até participou de torneios da liga Suíça. Nas férias viaja pelo mundo e também para Portugal, onde tem uma casa. Apesar do pouco convívio com a comunidade portuguesa na Suíça, entende que as condições e planos de muitos portugueses que migram hoje para a Suíça são muito diferentes hoje em dia. Desde que chegou, conta que sempre se sentiu “igual” aos suíços. “Nunca vi diferenças. Me considero igual aos outros”, explica.
Os planos para o futuro incluem uma possibilidade, ainda em avaliação, de abertura de uma filial. Mas o empreendedor logo explica que não pensa em grandes expansões. “Consegui mais do que queria”, confessa. Voltar para Portugal? Sim, mas sem deixar a Suíça. Ele pretende ter um pé cá e outro lá. E por que não? Afinal, parece que Moreira, ao longo dos anos, achou os ingredientes e a dosagem exata para tirar o melhor de cada um desses mundos.
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