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Empresas suíças “presas” na Rússia

Facas Victorinox
As facas do exército suíço são muito populares na Rússia, o quinto maior mercado para o fabricante Victorinox © Keystone / Gaetan Bally

As principais marcas suíças se retiraram da Rússia por causa da guerra na Ucrânia. Entretanto, pesquisas feitas por um jornal suíço mostram que enquanto uma empresa pode deixar um país, seus produtos muitas vezes permanecem nas prateleiras.

“É um êxodo em massa. Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro, milhares de empresas estrangeiras deixaram o país. Algumas com grandes gestos, outras discretamente”, escreveu a NZZ am Sonntag em um artigo aprofundadoLink externo.

A Victorinox, por exemplo, fabricante do icônico canivete suíço, anunciou publicamente logo após o início da guerra que não forneceria mais produtos à Rússia. Mas como as facas são muito populares na Rússia, não surpreende que os revendedores continuem a vendê-las através de canais não oficiais no chamado mercado cinzento.

A Victorinox diz que seus antigos distribuidores ainda possuem estoques e os utilizam para abastecer os revendedores. “Estamos monitorando isto, uma vez que viola nossos regulamentos de marca registrada”, disse a empresa, acrescentando que é um processo difícil e de longo prazo.

Mas de forma alguma todas as empresas e marcas suíças se retiraram da Rússia. A mais proeminente – e também a mais criticada – das que ficaram para trás é a Nestlé. Após o início da guerra, a multinacional de alimentos disse que somente produtos essenciais seriam vendidos à Rússia. Entretanto, logo se descobriu que a Nestlé simplesmente não estava vendendo marcas premium como a água espumante San Pellegrino. Produtos bem conhecidos como KitKat ou Nesquik continuavam disponíveis nas prateleiras russas.

Após fortes acusações, inclusive do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, de que a Nestlé estava ajudando a financiar um regime de guerra, a empresa restringiu ainda mais sua gama de produtos. Agora somente alimentos para bebês e produtos médicos devem ser vendidos para a Rússia. A Nestlé afirma que não promoverá mais seus produtos na Rússia e que parou todos os investimentos locais.

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Uma vista interior do museu The Nest durante uma visita à mídia na terça-feira, 31 de maio de 2016, em Vevey, Suíça

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Governo ucraniano critica presença da Nestlé na Rússia

Este conteúdo foi publicado em A empresa já estava sob pressão para sair da Rússia, já que muitas outras marcas já tinham saído. Em 11 de março, a Nestlé comunicou como ela havia restringidoLink externo seus negócios no país amplamente condenado por invadir seu vizinho. Mas o clamor da mídia social ganhou força depois de uma conversa entre o primeiro-ministro da Ucrânia devastada…

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A concorrente americana da Nestlé Mondelez assumiu uma posição semelhante. Seu portfólio inclui Toblerone, talvez a marca suíça mais conhecida no mundo. O Toblerone ainda está disponível para compra na Rússia.

A indústria farmacêutica também continua a exportar para a Rússia, mas sem a controvérsia que a acompanha. “Os medicamentos são para pessoas, não para regimes”, disse recentementeLink externo Matthias Leuenberger, CEO da Novartis Suíça.

Mercados cinzentos

No total, a economia suíça exportou mercadorias no valor de pouco menos de CHF2,2 bilhões (US$ 2,2 bilhões) para a Rússia entre janeiro e setembro, apesar das sanções. Isto é semelhante ao montante exportado em 2021 no mesmo período. As exportações de medicamentos, em particular, aumentaram.

A indústria relojoeira, que tem experiência no combate à contrafação e ao mercado cinza, desenvolveu métodos contra canais de distribuição não-oficiais.

“Fazemos regularmente compras de teste no mundo inteiro para verificar a origem do produto por meio de números de série ou marcações especiais”, escreve Swatch. Se for encontrado um revendedor envolvido em atividades do mercado cinza, a cooperação é encerrada, diz.

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O fabricante suíço de acessórios de informática Logitech também escreve: “Temos um processo global para identificar as atividades do mercado cinzento”. Entretanto, acrescenta que isto será mais difícil na Rússia, agora que eles estão terminando suas atividades comerciais lá.

A Logitech, conhecida por seus ratos de computador, não fornece a Rússia desde março. No entanto, seus produtos ainda estão disponíveis lá. A Logitech explica isto dizendo que ainda existem produtos residuais no país.

Fora de nosso controle

Isso é bem possível. Mas o fato é que a maioria das empresas simplesmente não sabe se seus produtos entram na Rússia através do mercado cinzento.

Por exemplo, a empresa suíça de chocolate Lindt & Sprüngli abriu sua primeira loja russa em 2016 e vem se expandindo de forma constante desde então. No ano passado, a Lindt cresceu 18% na Rússia, sendo que o produto mais popular foi a bola Lindor. Agora a Lindt saiu do mercado, mas as bolas Lindor, assim como outros produtos Lindt, ainda podem ser compradas nos supermercados russos.

Em resposta a um inquérito da NZZ am Sonntag, a Lindt disse: “O paradeiro das mercadorias que vendemos aos varejistas está fora de nosso controle quando elas são entregues”. Acrescentou que não estava mais dentro da esfera de influência da empresa se um varejista decidisse revender mercadorias através das fronteiras.

Dizer adeus às vezes é mais difícil do que se pensa, concluiu o jornal.

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