Perspectivas suíças em 10 idiomas

A Suíça contada em livros

A Suíça vista em diferentes óticas: iluminação do Palácio Federal (Parlamento) em Berna durante um evento especial. Keystone

Literatura sobre vida no país desmitifica estereótipos e denota admiração e surpresa com paradoxos nacionais: boa opção para aprender a viver em harmonia com o diferente.

A Suíça parece causar um misto de fascínio e curiosidade aos estrangeiros que vivem no país. O sentimento é literalmente expresso por meio da literatura: existem hoje cerca de mais de 15 livros disponíveis para venda em livrarias ou na internet. O mais interessante é que não se trata de guias de viagem, ou compilações com endereços de restaurantes, mas relatos da cultura local e curiosidades, verdadeiros guias de sobrevivência que parecem orientar os imigrantes mais perdidos e dialogar com os mais ávidos a destrinchar as diferenças culturais. A reportagem levou em consideração somente livros em português, inglês e francês, mas provavelmente há opções em outros idiomas.

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A chegada de uma mala de sonhos

Este conteúdo foi publicado em Samaritana nasceu em São Luís, em uma família humilde que contava 16 crianças. Ela lembra de ter passado fome aos 7 anos e a maneira como olhava o antebraço dourado que parecia um pãozinho francês. Graças a uma bolsa de estudos concedida pelo governo suíço em 1988, a maranhense, então com 30 anos, pôde seguir…

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A comunidade de língua portuguesa tem à disposição o livro Viver na Suíça, lançado em setembro de 2014, e o novíssimo Vida na Suíça, lançado em setembro último. Em francês, o livro Suis-je devenue Suisse? (Me tornei suíça?) foi escrito pela maranhense Samaritana Pasquier sobre sua experiência de adaptação e transformação cultural em 25 anos no país. Para quem entende inglês, o leque de opções é grande, são cerca de 17 livros: Beyond Chocolate, understanding Swiss culture (Além do chocolate, entendendo a cultura suíça; Swisscellany: facts & figures about Switzerland (Miscelânea suíça, fatos e números sobre o país), Once upon an alp (Era uma vez um alpe), e o famoso Xenophobe’s guide to the Swiss (o guia xenófobo da Suíça), além de outros.

Migrantes descrevem país

A maioria é escrito por pessoas que vivem no país e que sentem uma extrema vontade de dividir as idiossincrasias dessa cultura. De acordo com o britânico Diccon Bewes, na introdução do Swiss Watching (considerado pelo Financial Times como livro do ano em 2010, as imagens clichês de montanhas, vaquinhas, Heidi e chocolate escondem uma comunidade interessante e paradoxal. Bewes explica no livro que seu interesse em escrever se deu justamente pela união de uma sociedade extremamente conservadora, que ele exemplifica com a proibição de reciclagem de lixo aos domingos; e ao mesmo tempo muito liberal, ao ter uma atitude respeitosa em relação ao uso de drogas e ao suicídio assistido.

Para o autor, é curioso que todos reconheçam os símbolos do país, mas ao mesmo tempo não conheçam um nome suíço que represente o esporte, ou um prédio ou monumento importante, até porque a cultura local é discreta e não fomenta grandes obras. Outro ponto que chama muita atenção dos autores é a dificuldade de se fazer amizade, como relata a autora do livro Beyond Chocolate, Margaret Oertig-Davidson. Ela compara a sociedade a um coco: a sua dura casca e a dificuldade de atingir a polpa simbolizam a clara distinção entre a vida pública e privada e a problemática em se conseguir privar da intimidade de um suíço.

Liana Soares com seu livro “Viver na Suíça”. swissinfo.ch

Talvez a maior diferença entre os livros de literatura inglesa e os brasileiros sejam, além da língua, claro; a visão particular dos autores sobre o país – que muda de acordo com a cultura de quem escreve. Enquanto os britânicos e americanos relatam com muito humor os comportamentos típicos dos suíços, os brasileiros assumem uma postura mais orientadora, trazendo questões consideradas importantes por esse público, como por exemplo, o frio e como lidar com ele, a dificuldade com a língua e de integração na sociedade. Mas a busca pela perfeição e organização, extrema pontualidade e curiosidades são pontos observados por todos – seja de forma jocosa ou informativa.

Livros ajudam brasileiros no processo de adaptação

A dificuldade com o idioma e a falta de instruções em português diante de tantos costumes diferentes foram o ponta pé inicial para as brasileiras escreverem sobre a Suíça. Mesmo sem patrocínio ou uma editora para vender os livros, elas assumiram os riscos e custos e publicaram os livros Viver na Suíça e Vida na Suíça. A única que publicou seu livro por caminhos convencionais foi Samaritana Pasquier, que escreveu em francês o Suis-Je devenue Suisse? (Me Tornei Suíça?).

Segundo a brasileira Liana Soares, autora do livro Viver na Suíça, a vontade de escrever surgiu basicamente do seu olhar curioso sobre a forma como os locais levam a vida no dia a dia, algo tão interessante de se observar. “A minha curiosidade me fez enxergar além da organização desse país, que chama a minha atenção por ser imbatível. O dia a dia sem contratempos é consequência de uma rotina de trabalho diário, tomada a sério por toda sociedade, para que todos levem uma vida com sistemas que funcionem, gerando menos estresse possível”, explica Liana, que saiu de Brasil há sete anos e trabalha como gerente de testes de software de projetos de tecnologia da Informação em uma empresa suíça.

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“Os suíços são como um cacho de cocos”

Este conteúdo foi publicado em Em “Observando os Suíços”, o autor Diccon Bewes oferece um “divertido e informativo” guia sobre o país dos Alpes, sua morada nos último cinco anos, e seus habitantes. O ex-jornalista de viagens, de 42 anos, hoje chefe da seção inglesa da livraria Stauffacher em Bern, conta à swissinfo.ch como ele teve a ideia de escrever…

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Ainda admirada com o país e feliz por viver em Berna, a escritora compara a fácil fluência do cotidiano com um quebra cabeça que se encaixa perfeitamente, seja com a conexão do ônibus que atende perfeitamente a do trem, refletida até mesmo na língua alemã, tão exata e metódica. A autora começou a compartilhar suas observações em seu blog Ela é Americana… da América do Sul, há quase sete anos e fez tanto sucesso que resolveu resumir as dicas mais importantes, os tópicos mais pedidos e escreveu o livro há pouco mais de um ano. Viver na Suíça relata suas experiências no dia a dia, as comidas típicas, a cultura, informações práticas sobre como encontrar um apartamento, por exemplo. O livro não é vendido em livrarias, mas pode ser adquirido diretamente no blog www.elaeamericana.net.

Explicar a Suíça

As brasileiras Fabiana Mayume Kuriki, Maria Carolina Aeschlimann e Patricia Lobmaier lançaram em setembro, em Genebra, o livro Vida na Suíça. As três amigas (duas advogadas e uma empreendedora social) decidiram escrever após encontrarem tantas dificuldades para se informar sobre o país onde moram atualmente. De acordo com Fabiana Kuriki, a falta de informação em português e a dificuldade de encontrar dicas e orientações em alemão a intrigou de tal maneira que nasceu a ideia de escrever o guia. “A nossa incessante busca nos fez escrever para ajudar os outros brasileiros que muitas vezes não tem acesso a sites ou que não falam outro idioma, mas ao mesmo tempo nos ajudou a nos integrar nesse país”, explica. Segundo Patricia Lobmaier, apesar de já morar na Suíça há oito anos, a experiência de escrever trouxe um enorme aprendizado, tanto de trabalho em conjunto quanto a de saber mais sobre a Suíça.

De acordo com Fabiana, a dificuldade em obter informação é muito séria, mas infelizmente alguns as prefeituras e cantões suíços ainda não atentaram para a gravidade do assunto, principalmente na parte alemã, onde o idioma é uma barreira à integração. “Uma vez recebi mensagem de uma pessoa dizendo que tinha recebido a cartela de iodo na sua caixa de correio e que já tinha até tomado o medicamento”, explica ao relatar o caso das caixas de remédio que o governo distribui para a população tomar em caso de acidente nuclear. Apesar de reconhecer os esforços do governo na integração dos estrangeiros, a brasileira acredita que é importante que a informação para a comunidade de língua portuguesa chegue ao público alvo, de maneira que estimule a integração no país.

Produção independente

Sem patrocínio, as três brasileiras se voluntariaram para escrever e disponibilizaram o livro para download no site www.vidanasuica.com, que criaram em agosto com o mesmo objetivo.

Sem dinheiro para imprimir os livros, elas fizeram apenas algumas cópias e levaram às embaixadas de países de língua portuguesa, informando sobre o canal de comunicação. Foram seis meses de escrita, lançamento e distribuição gratuita. Sacrifício que, segundo Maria Carolina Aeschlimann, valeu. “Foi muito gratificante saber que, além de brasileiros, estamos ajudando a toda uma comunidade de língua portuguesa, inclusive de africanos, que não tem meios para obter informações. Muitas embaixadas não têm página na internet e estamos felizes em saber que conseguimos contribuir com o nosso trabalho”.

Lista de Livros:

– Vida na Suíça (Fabiana Mayume Kuriki, Maria Carolina Aeschlimann e Patricia Lobmaier)e site www.vidanasuica.com

– Viver na Suíça (Liana Soares) e blog Ela é Americana… da América do Sul –  www.elaeamericana.net

– Suis-Je devenue Suisse? (Samaritana Pasquier)

– Swisscellany: facts & Figures about Switzerland (Diccon Bewes)

– Swiss Watching: Inside the land of Milk & Money

– Beyond Chocolate: understanding Swiss Culture (Margaret Oertig-Davidson)

– Once Upon an Alp (Eugene Epstein)

– Ticking along with the Swiss (Dianne Dicks)

– Ticking along too (Dianne Dicks)

– Ticking along free (Dianne Dicks)

– Cupid’s wild arrows (Dianne Dicks)

– Laughing along with the Swiss (Paul Bilton)

– Inside Outlandish (Susan Turttle)

– Swiss me (Roger Bonne)

– Culture Smart! Switzerland (Kendall Maycock)

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