Europeus querem mais democracia suíça
Poucos países estão tão satisfeitos com a sua própria política como a Suíça. Os países vizinhos consideram a Confederação como um modelo de democracia para a União Europeia (UE), mostra uma nova pesquisa.
“Liberdade! Liberdade!”: esse é o apelo que ressoa todas as semanas nas ruas das cidades suíças durante as manifestações contra as medidas sanitárias. A demissão do ministro da Saúde, Alain Berset, é uma das menores exigências. Cartazes e cantos alertam para uma “ditadura da saúde”, acusação apoiada até mesmo pelo Partido Popular Suíço (SVP, direita populista), o maior partido do país.
Seria possível pensar que se trata de uma situação dramática para o sistema político suíço, que se baseia na estabilidade e concordância. E, no entanto, apesar da pandemia, a confiança no governo permanece alta. Em 2020, de todos os países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), a Suíça tinha a maior proporção de pessoas que afirmavam ter muita confiança no seu governo. Esse resultado, fruto de um estudo (PDF, disponível apenas em alemãoLink externo) realizado pelo instituto de pesquisa gfs.bern, está em conformidade com os anos anteriores.
Urs Bieri, codiretor e membro do conselho administrativo do instituto de pesquisa gfs.bern, reuniu uma equipe para estudar o nível de satisfação com a política na Suíça e nos países vizinhos. Para isso, foram entrevistadas cerca de 1.000 pessoas na Suíça, Alemanha, Áustria, Itália e França.
Enquanto na Suíça a pesquisa era voltada para o sistema político nacional, nos países vizinhos ela procurou identificar o nível de satisfação com a UE. Também nesse caso, a população da Suíça está mais satisfeita do que a de seus países vizinhos.
90% dos adultos que vivem na Suíça estão bastante ou muito satisfeitos com o sistema político suíço. Nos países vizinhos, por outro lado, apenas 50% dos entrevistados expressaram satisfação com o sistema político da UE.
A democracia direta contribui para a satisfação
O nível de satisfação continua alto na Suíça, particularmente no que diz respeito às possibilidades de participar nas tomadas de decisão – 93% das pessoas entrevistadas estão bastante ou muito satisfeitas. A liberdade de expressão, as eleições parlamentares e a liberdade de se manifestar por causas políticas contribuem para a satisfação geral com a política. Mas, “entre todo os meios de participação, a democracia direta é particularmente importante”, destaca Bieri.
Nos países vizinhos à Suíça, as possibilidades de participação nas decisões da UE têm uma avaliação significativamente pior. Menos da metade (48%) da população residente as classifica como satisfatórias.
Mas até que ponto o sistema político suíço pode ser comparado ao de uma associação de Estados como a UE? “Não se pode comparar diretamente os dois sistemas, mas é possível comparar os efeitos da democracia na vida e no cotidiano”, explica Bieri. O objetivo do estudo não é julgar qual sistema político é o melhor, mas observar e aprender como outros sistemas resolvem os problemas.
Os países vizinhos desejam uma democracia direta como a suíça
As pessoas entrevistadas nos países vizinhos acreditam que a UE poderia aprender muito com a Suíça. Quer se trate da eleição do governo e do parlamento, do federalismo ou da liberdade de expressão, a Suíça é constantemente percebida como superior à UE.
Também nesse caso, a democracia direta é particularmente importante. 77% das pessoas entrevistadas nos países vizinhos são bastante ou muito favoráveis a que a UE adote o modelo suíço no que diz respeito à possibilidade de votar leis ou mudanças constitucionais. 75% querem poder participar da elaboração de políticas da UE através de iniciativas e referendos, como é o caso na Suíça.
Estará próxima uma reforma política da UE baseada no modelo suíço? “A pesquisa mostra a opinião da população e sua percepção da vida cotidiana. Os vínculos políticos não desempenham nenhum papel”, diz Bieri.
O pesquisador destaca que “a Suíça construiu seu sistema político durante um longo período – às vezes sob pressão externa, como no caso do sufrágio feminino”. A Suíça teve muito tempo para aprender a administrar a democracia direta, afirma. “Esta é uma das razões pelas quais introduzir a democracia direta da noite para o dia não funcionaria em todos os lugares.”
Bieri ficou surpreso com a avaliação lisonjeira da Suíça por parte das pessoas entrevistadas nos países vizinhos: “Certamente, há questões na Suíça que são frequentemente criticadas, por exemplo, a falta de transparência no financiamento dos partidos ou a integração insuficiente das minorias. Mas isso não é, de modo algum, percebido nos países vizinhos”.
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Os “excluídos” da democracia suíça
Adaptação: Clarice Dominguez
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