Como o Iêmen era – no olhar de uma suíça
O Iêmen não é um país de turismo e muito menos um lugar de trabalho para jornalistas e fotógrafos. No entanto, Monique Jacot visita o país desde os anos 1980.
Através da câmera dessa fotógrafa suíça, a arquitetura, cultura e diferentes facetas da vida quotidiana do Iêmen se revelam para o espectador. As imagens podem agora ser vistas em uma grande exposição na Biblioteca Cantonal de Lausanne até 1º de março de 2020.
Jacot originalmente queria simplesmente descobrir a arquitetura no Iêmen. “Mas acabei me apaixonando pelo país”, explicou a fotógrafa na abertura da exposição em Lausanne.
Hoje, aos 85 anos, ainda viaja para o Iêmen. O país encontra-se hoje em meio a uma guerra que já teria provocado a morte de 6.800 civis e pelo menos 10.700 feridos desde março de 2015, afirma a ONU.
O que é?
O conflito tem suas raízes na Primavera Árabe, de 2011, quando uma revolta popular forçou o presidente, Ali Abdullah Saleh, a deixar o poder nas mãos do vice, Abdrabbuh Mansour Hadi.
Supunha-se que a transição política levaria à estabilidade, mas o presidente Hadi enfrentou diferentes problemas, entre eles, ataques da Al-Qaeda e de um movimento separatista no Sul, corrupção, insegurança alimentar e o fato de que muitos militares seguiam sendo leais a Saleh.
O movimento huti, que defende a minoria xiita zaidi do Iêmen e lutou em várias rebeliões contra Saleh na década passada, se aproveitou da debilidade do novo presidente para tomar controle da Província de Saada e de zonas próximas.
Desiludidos, muitos iemenitas, mesmo sunitas, apoiaram os hutis, e, ao final de 2014, os rebeldes tomaram Saná, a capital, forçando Hadi a se exilar.
Fonte: BBCLink externo
Apesar de conhecer bem o país, Jacot não teve facilidade para fotografar. Muitas vezes as próprias pessoas não queriam, ou porque as autoridades a proibiam de fazê-lo. Por isso ela viajou de lugar em lugar, em grupos de três a quatro pessoas. Por vezes eram impedidos de chegar ao destino, o que a obrigava a improvisar e mudar constantemente a rota de viagem, como explica na entrevista.
Alexandra Weber Berney, agitadora cultural da Biblioteca de Lausanne, salienta que a exposição não tem uma ligação direta com a situação atual no Iêmen. Na verdade, trata-se do resultado de um encontro entre Monique Jacot e Virginie Jaton, editora da revista “Editions Couleurs d’encre”, que deu à fotógrafa trinta pinturas originárias do país árabe, que deram origem a um livro.
“É um projeto poético”, afirma Weber Berney. O livro contém não só fotos, mas também poemas tirados de um livro publicado em francês na década de 1980, chamado “Poemas da Revolução Iemenita”. Um deles é o texto “Morte, Amor e Liberdade”, do poeta iemenita Muhammad Shaltami.
A exposição está “muito longe da realidade atual”, diz Weber Berney, ressaltando que ela ajuda a apresentar outra faceta desse país desconhecido para muitas pessoas.
Monique Jacot
Escola de Fotografia de VeveyLink externo (1953 a 1956)
Fotógrafa em publicações como “Die Woche”, “Annabelle”, “Du”, “La Semaine de la Femme” e outras entre 1956 e 1958
Viagens de reportagem para a Organização Mundial de Saúde (OMS) de 1967 a 1970.
Publicações em revistas como Geo, Stern, Elle, Elle, Vogue, Réalités, L’Illustré e Schweizer Illustrierte.
Participação no projeto “Pesquisa Fotográfica no cantão do Valais” de 1989 a 2005.
Bolsa Federal de Estudos em 1974.
Apoio da Secretaria de Cultura do Cantão de Vaud em 1987 e 1988.
Seu acervo é mantido pela Fundação da Fotografia Suíça em WinterthurLink externo.
Adaptação: Alexander Thoele
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