Franco suíço volta a ser moeda refúgio
Com a contagem regressiva para as eleições legislativas na Grécia de 17 de junho, investidores se esforçam para encontrar portos seguros para o seu capital. Ao mesmo tempo, países como a Suíça tentam desesperadamente se defender contra o fluxo de capitais.
A possível saída da Grécia da zona euro e a propagação do pânico em relação à situação de outros países endividados ameaça transformar, mais uma vez, o franco suíço em um ímã para investidores estrangeiros.
Tendo conseguido evitar uma supervalorização da moeda suíça com uma taxa de câmbio fixa de SFr1.20 por euro desde setembro passado, o Banco Central Suíço (SNB, na sigla em alemão) está preocupado que a medida possa não ser suficiente por si só.
A medida tomada no ano passado afastou rapidamente os especuladores que compravam a moeda para fazer um dinheirinho rápido a partir de sua apreciação implacável. Com exceção de um ligeiro aumento antes da Páscoa, o SNB até agora tem sido capaz de defender a valorização do franco, sem os gastos maciços que jogaram o banco central no vermelho em 2010.
Mas a incerteza sobre a permanência da Grécia no euro e o medo em torno dos problemas da dívida da Espanha e de Portugal já teriam obrigado o SNB a agir novamente nas últimas semanas.
O banco central está começando a cochichar sobre outras – ainda indefinidas – medidas para reduzir o ingresso de ativos estrangeiros no país. Medidas que poderiam incluir a criação de um imposto sobre os investimentos estrangeiros que entram na Suíça.
Segurança e fiabilidade
Em tempos de dificuldades econômicas e financeiras, os investidores procuram sempre converter seus fundos em moedas menos voláteis, se contentando com retornos mais baixos para proteger seu capital de encolhimento.
O franco suíço é uma das principais moedas-refúgio que tem atraído volumes indesejados de investimentos estrangeiros desde o início da crise financeira. O problema é que essas entradas maciças distorcem a valorização da moeda, mexendo nas taxas de câmbio e no preço das mercadorias exportadas.
Encontrar um refúgio seguro e confiável nos últimos meses tem sido uma tarefa complicada para os investidores, já que outros países tentam de tudo para se tornarem locais pouco atraentes.
No final do ano passado, o Japão injetou 10 trilhões de ienes (126 bilhões de dólares) nos mercados, diluindo o valor de sua moeda.
O interesse também se voltou para a Coroa sueca e a Coroa norueguesa, mas o receio de uma falta de liquidez na Suécia e uma sucessão de cortes nas taxas de juro na Noruega impediu uma mudança geral de ativos para esses países.
Mercado de moedas e obrigações
Os sinais de uma recuperação econômica sustentada nos EUA têm fortalecido o dólar contra a maioria das principais moedas nas últimas semanas. O dólar tem sido tradicionalmente a maior moeda refúgio em tempos de volatilidade.
Na Europa, os ativos dos países do sul do continente estão sendo convertidos em títulos alemães e holandeses, propriedades londrinas e em libra esterlina.
Obrigações em países economicamente estáveis são “a classe de ativos clássica em tempos de recessão”, de acordo com David Kohl, especialista monetário do banco Julius Bär.
A oposição da Alemanha em um adicional à dívida grega também aumentou a atratividade do país como refúgio na zona euro, de acordo com Daniel Kalt, especialista do banco UBS.
Segundo Kalt, enquanto a chanceler alemã Angela Merkel se mantiver contra a criação dos chamados eurobonds, os títulos alemães continuarão atraindo recursos.
“Se a Alemanha acabar concordando em assumir mais da carga da dívida do sul da Europa, então um dos maiores refúgios para os mercados de ativos na Europa terá desaparecido”, disse Kalt à swissinfo.ch.
Refúgio suíço
David Kohl acredita que a libra esterlina deva desfrutar do status de moeda refúgio por pouco tempo. “A libra tem alguns aspectos de moeda de refúgio, mas talvez seja provavelmente um caso de valorização”, disse à swissinfo.ch.
Já que os refúgios mudam o tempo todo, alguns observadores temem que o franco suíço volte a sofrer uma apreciação, apesar da determinação do SNB em impedir que isso aconteça.
Nos últimos dois anos, os investidores retiraram dezenas de bilhões de euros da Grécia, transferindo esses ativos para a Suíça e uma série de outros países, incluindo Chipre.
A Suíça tem sido até agora capaz de absorver esses ingressos de capital, mas o medo é que uma saída da Grécia do euro leve a uma corrida aos bancos que poderia se alastrar à Espanha, Portugal ou Itália, se o pânico se espalhar.
Nestas circunstâncias, o franco suíço poderia se transformar, mais uma vez mais, em um irresistível refúgio, apesar dos esforços do país para impedir que isto aconteça.
O franco suíço é considerado uma moeda refúgio, o que significa que os investidores e especuladores tendem a comprá-lo quando outras moedas, principalmente o euro e o dólar, estão sob pressão.
O Banco Central da Suíça (SNB, na sigla em alemão) tem enfatizado que não persegue uma meta de taxa de câmbio, mas baseia sua política monetária em seu mandato legal.
Este mandato estipula que “o SNB deve garantir a estabilidade dos preços, tendo em conta a evolução econômica”.
A partir de março de 2009, o SNB interveio nos mercados cambiais. Essas incursões levaram a uma perda de 21 bilhões de francos em 2010.
Enfrentando intensa pressão de políticos e do setor de exportação, o SNB interveio ainda mais nos mercados em 2011, antes de anunciar uma taxa de câmbio fixa de 1,20 francos por euro em setembro.
Desde então, o franco pairou nesta margem, graças ao compromisso assumido pelo BNS de comprar quantidades ilimitadas de reservas cambiais.
Adaptação: Fernando Hirschy
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