Futuro promete luxo e inovações
Considerado pela imprensa especializada como o salão mais inovador da sua categoria, o Salão Internacional do Automóvel de Genebra se encerra neste domingo (16) prometendo novos horizontes para o futuro.
A romaria internacional dos salões de automóveis que começou em Detroit, em janeiro, continuou em Genebra nesse começo de março. Quem gosta de sonhar com os protótipos futurísticos apresentados nesses eventos pode ter alguma dificuldade em meio de tantas premières internacionais com impressão de déjà-vu.
Andando entre os diversos expositores, 250 no total, o visitante tinha mesmo a impressão de estar numa imensa concessionária de automóveis, principalmente nos stands das grandes marcas. Muito prático para quem pensa em mudar de carro, mas um pouco frustrante para os amantes de inovações futurísticas.
A verdade é que o pragmatismo não é uma característica só dos suíços, a indústria automobilística mundial também vem trocando o sonho dos modelos idílicos pela realidade dos estoques encalhados.
Olhando desse ponto de vista ficou mais fácil ver o mesmo Bugatti Veyron, que há 14 anos só muda sutilezas de nomes, acrescentando cada vez mais cavalos e cifras. Pelo menos, em 2014, o modelo Bugatti Veyron Grand Sport Vitesse Rembrandt, com 1200 cavalos, não deve ficar encalhado muito tempo. Apesar do preço estratosférico de 2,18 milhões de euros, a empresa não deve ter dificuldade em achar, no mundo, compradores paras as três únicas unidades produzidas.
Talvez uma das razões principais da falta de modelos futurísticos seja o fato do futuro já ter se tornado realidade. Para o presidente do salão de Genebra, Maurice Turrettini, “cada edição revela novas tecnologias e novos caminhos para os grandes desafios da indústria automobilística”. Aquecimento global, motorização desenfreada dos países emergentes, poluição e esgotamento das fontes de energia fóssil são problemas atuais que não podem ser relegados aos protótipos do futuro.
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“A indústria automobilística está cavando sua própria cova”
Realidade verde
Nesse aspecto, a 84ª edição do Salão Internacional do Automóvel de Genebra não decepcionou. Os carros ecológicos não são mais apenas uma alternativa para os consumidores bem intencionados com o meio ambiente. Eles fazem parte da oferta corriqueira de praticamente todas as marcas presentes no salão.
A questão é uma realidade cada vez mais concreta na Suíça e foi abordada em Genebra pela associação suíça de veículos elétricos e eficientes, e’mobile, em parceria com várias montadoras e empresas de eletricidade.
A associação, patrocinada pela Secretaria Federal de Energia, acentuou a mobilidade elétrica tratada pelos modelos e-up!, da Volkswagen, ZOE, da Renault, e FULU Meteor E.T., da chinesa Tekmobil. As suíças Grenn Motion, que fabrica estações de recarga, e a empresa de energia elétrica Groupe E apresentaram soluções na área da infraestrutura necessária para recarregar os carros elétricos.
Embora uma das características principais do Salão de Genebra seja sua “neutralidade suíça”, forjada no fato do país não dispor de nenhum fabricante nacional como nos outros grandes salões, os suíços conseguem se defender bem quando o assunto é inovação. Espremidos entre marcas luxuosas como Rolls Royce, Jaguar, Bentley e Bugatti, dois protótipos chamaram bastante a atenção do público ávido por novidades: o Xchange, da Rinspeed AG, empresa sediada em Zumikon, no cantão de Zurique, e o Quant, projetado pela nanoFLOWCELL AG, em Zurique.
Autonomia revolucionária
“O e-Sportlimousine Quant é um veículo de pesquisa projetado para testar nas estradas sistemas de armazenamento de energia inovadores, concentrando-se especificamente no desenvolvimento e melhoria da tecnologia de baterias de circulação”, explica o suíço Nunzio La Vecchia, diretor técnico da nanoFLOWCELL AG.
Para La Vecchia, o Quant não é nem um carro de exposição nem um carro conceitual. O veículo é o primeiro equipado com a chamada “nanoFLOWCELL”, um sistema criado inicialmente pela Nasa em 1976 que combina um acumulador eletroquímico com uma pilha a combustível.
O resultado é impressionante. Segundo La Vecchia, o Quant teria uma autonomia de 600 quilômetros e pode ser recarregado em alguns minutos, coisa impensável para os atuais carros 100% elétricos. O carro possui quatro motores, um em cada roda, e pode desenvolver até 925 cavalos.
Conexões com o futuro
Outra tendência vista neste Salão de 2014, a conectividade deve ser o próximo horizonte da indústria automobilística e de outros setores pioneiros da alta tecnologia. Assim, por exemplo, a Apple usou o Salão de Genebra para lançar o seu CarPlay, um assistente vocal que integra o sistema operacional do iPhone e todas suas possibilidades ao carro.
A conectividade é o primeiro estágio para a condução totalmente autônoma. Graças a uma comunicação interativa, principalmente a troca contínua de informações entre veículos, pedestres e a infraestrutura rodoviária, será possível evitar acidentes e talvez até, quem sabe um dia, fazer tudo em um carro menos dirigir.
Olhando para esse horizonte longínquo, o preparador de carros suíço Rinspeed aproveitou o evento nacional para apresentar um novo estudo chamado Xchange, uma visão da mobilidade urbana de amanhã. A empresa suíça já mostrou que costuma olhar para os carros com outros olhos quando lançou o sQuba, um carro submarino inspirado no filme de James Bond “007 O Espião que me Amava”.
Para o dono da empresa, o suíço Frank Rinderknecht, a condução autônoma deve se tornar realidade e por isso é necessário pensar em como o motorista pode aproveitar o tempo que ele passa no carro sem dirigir. “Até agora quase ninguém chegou a uma conclusão lógica a partir da perspectiva do condutor. Afinal, viajar em um carro sem motorista já não me obriga a olhar para a estrada, mas vai me deixar passar o meu tempo de forma mais significativa”, disse.
O Xchange dispõe de bancos relaxantes que lembram os assentos da classe executiva das companhias aéreas e oferece a mesma gama de distrações, inclusive um telão para ir assistindo a um filme entre um engarrafamento e outro.
Para todos os bolsos
O luxo é outra característica do Salão de Genebra, razão pela qual muitas marcas lançam seus modelos no evento como forma de prestígio. O grupo francês PSA, que controla as marcas Peugeot e Citroën, apresentou em Genebra sua estratégia para os próximos anos, voltada principalmente para as vendas no segmento premium, o mais rentável do mercado.
Os dirigentes das duas marcas, agora comandadas pelo português Carlos Tavares, repetiram em uníssono os objetivos do grupo nesse sentido. “A gama DS da Citroën vai se tornar uma marca própria, premium, inspirada no ‘luxo a la francesa’, que oferece uma riqueza de materiais inusitados, como madeira e couro de alta qualidade”, explica Frédéric Banzet, presidente da Citroën, ao swissinfo.ch.
A marca lançou em Genebra o crossover C4 Cactus, mistura de minivan, sedã e SUV, que deve mesmo conquistar o mercado pelo seu preço, em torno de 13 mil euros.
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Portugueses tomam conta da PSA
O 84° Salão Internacional do Automóvel de Genebra aconteceu entre os dias 6 e 16 de março de 2014. 250 expositores vindos de mais de trinta países dividiram uma área total de 110.000 m2.
O Salão se divide em vários setores, entre eles os de carros particulares de 3 ou 4 rodas, carros elétricos e à propulsão alternativa, carrocerias especiais, design, engenharia, preparadores de carros, acessórios e autopeças para carros particulares.
Única exposição internacional anual de automóvel realizada em “campo neutro” na Europa, o Salão do Automóvel de Genebra é conhecido por sua representatividade. Os principais fabricantes mundiais costumam revelar notícias significativas na presença de seus presidentes. Em 2014, foram mais de 146 lançamentos mundiais e europeus só nos setores de carros particulares, carrocerias especiais e preparadores.
O Salão de Genebra também distingue o prêmio “The Car of the Year”. O Carro do Ano é um prêmio estabelecido na Europa pela fundação Car Of the Year desde 1964, contando com a participação de jornalistas ligados à imprensa especializada em automóveis de sete países. A organização local das revistas especializadas escolhe os automóveis finalistas, que formam uma lista com somente sete indicações.
Em 2014, os sete finalistas foram BMW i3, Citroen C4 Picasso, Mazda 3, Mercedes Classe S, Peugeot 308, Skoda Octavia e Tesla Model S. Estes veículos têm uma meta mínima de vendas de 5.000 unidades por ano. O Peugeot 308 foi eleito o Carro do Ano de 2014.
Este ano, o Salão de Genebra também homenageou a corrida 24 Horas de Le Mans com uma exposição de 20 carros contando a história do famoso circuito francês.
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