Violência estraga a festa da Eurocopa
Após a briga entre hooligans russos e ingleses que deixou pelo menos 35 feridos em Marselha, a imprensa suíça se interroga sobre as razões dessas explosões de ódio e as medidas de segurança aplicadas pela França.
“É lógico que deve-se prever sanções esportivas contra a Inglaterra e a Rússia, cujos torcedores transformaram nesse fim de semana o velho porto de Marselha em um campo de batalha”, diz o jornal Le Temps, apontando, de passagem, que os hooligans são “elementos descontrolados e que a esmagadora maioria dos torcedores russos e ingleses não tem nada a ver com esse quebra-pau inaceitável”.
“No entanto, é normal questionar a atitude da polícia francesa […] cujo estado de nervosismo e cansaço é óbvio. Após sete meses de emergência por causa da ameaça terrorista, e semanas de confrontos com grevistas que se opõem ao projeto de lei sobre o trabalho, muitas unidades já disseram não aguentar mais o clima de tensão crescente”, diz ainda o jornal de língua francesa.
De acordo com o Le Temps, vários especialistas ingleses em hooliganismo dizem que “uma parte dos incidentes de Marselha poderia ter sido evitada se a polícia francesa não tivesse empunhado logo seus cassetetes e gás lacrimogêneo”.
Um outro mundo
O comentarista do jornal La Liberté, de Friburgo, sonha no entanto com “um outro mundo, uma outra Eurocopa, um campeonato onde a festa seria bonita e o esporte rei. Uma pequena pausa de um mês, onde poderíamos pensar só no esporte. A simples alegria de estar juntos. Sem ódio, sem violência, sem racismo nem preconceito religioso ou social. Doce utopia!”.
E depois de apenas três dias do torneio, o que ele vê? “Torcedores se matando, uma violência desenfreada em Marselha, Nice, e até mesmo dentro do Stade Vélodrome. Apesar dos controles, bombas de fumaça e rojões passaram entre os dedos da segurança. E se fossem granadas ou cintos explosivos? De quem seria a culpa? ”, pergunta.
“Da França, da UEFA, que se concentraram tanto na ameaça de ataques e conflitos sociais que se esqueceram do hooliganismo, esta ferida recorrente que ressurge a cada dois anos por ocasião da Eurocopa ou da Copa do mundo? Finalmente, não é nossa sociedade que assume a responsabilidade? Uma sociedade onde o fosso entre ricos e pobres continua a aumentar, com cada vez mais desempregados e desiludidos que às vezes encontram seu caminho em comportamentos extremos”, comenta.
Baderneiros
“Mais uma vez, estragaram a festa”, escreve o Le Matin. “Isto é preocupante, porque os apóstolos da violência gratuita não são controláveis. A Europa ocidental conseguiu tirá-los dos estádios através da criação de uma política de preço que não era compatível com o nível deles. Já a Europa do Leste, que parece não se preocupar muito com o fenômeno, ofereceu-lhes um novo campo de expressão.”
“Sempre houve baderneiros”, constata o tabloide da região oeste da Suíça. “Eles estão agora na Eurocopa e vão estar amanhã em outro lugar. A história demonstra isso: os poderes políticos não têm nenhum remédio contra esse tipo de câncer.”
O jornal de língua francesa propõe uma solução radical: “excluir todos os torcedores estrangeiros e vender todos os bilhetes só para os residentes do país organizador”.
Mais que um esporte
Com a ameaça do terrorismo, a agitação social e as greves “nada será poupado aos organizadores na França”, observa o Aargauer Zeitung e o Neue Luzerner Zeitung. “A tal ponto que quase se esquecem que também tem o futebol. A França, como a Suíça, ganhou o seu primeiro jogo, mas em vez da febre do futebol, o que se vê é o aumento da consternação e do medo”.
“Sabemos há muito tempo que o esporte de alto nível perdeu a sua inocência. E este campeonato na França nem mesmo nos oferece um parêntese em nossas vidas diárias. Uma nuvem escura paira sobre a festa, formada de circunstâncias sociais, políticas e nacionais. Isto significa que o futebol é mais do que um esporte. E esta é, infelizmente, cada vez mais a realidade”, concluem os dois jornais de língua alemã.
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Adaptação: Fernando Hirschy
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