Turismo suíço contabiliza prejuízos devido à falta de viajantes
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Muito afetados pela crise do coronavírus, o setor de turismo busca formas de manter o turista suíço em casa no verão. Mas o esforço não será suficiente para compensar a falta de turistas estrangeiros. Um retorno à normalidade só deve ocorrer nos próximos anos.
Turistas japoneses fazendo selfies na montanha Jungfraujoch (3.581 metros acima do nível do mar); indianos passeando em trens panorâmicos entre Montreux e os Alpes bernenses; escaladores norte-americanos carregando cordas e picaretas pelas ruas do vilarejo alpino de Zermatt; chineses desembarcando no centro de Lucerna para comprar relógios: essas são algumas das cenas que não serão vistas na Suíça no verão de 2020.
Com o fechamento das fronteiras de muitos países e a paralisação de grande parte do tráfego aéreo, a crise do coronavírus tem um grande impacto sobre o turismo. Segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT), o número de viajantes internacionais pode cair de 60 a 80% no ano, como resultado da pandemia. Trata-se de um declínio não visto desde o início das pesquisas em 1950.
As perspectivas para o setor na Suíça também não são boas. A abertura parcial das fronteiras com os países vizinhos a partir de 15 de junho – e com outros membros do “Espaço Schengen” até 6 de julho – trará algum alívio, mas não será suficiente para salvar a temporada.
“Os efeitos a curto prazo já são terríveis”, afirma Véronique Kanel, porta-voz da Suíça Turismo, a agência oficial. As previsões para o verão ainda são cautelosas e consideram taxas de ocupação de 24% no setor hoteleiro e 42% no setor de acomodação suplementar ou alternativo”.
Segundo um estudo realizado pela Universidade de Ciências Aplicadas da Suíça ocidental (HES-SO), o turismo suíço, que responde por 2,9% do PIB nacional, poderá ter um prejuízo de até 8,7 bilhões de francos suíços em 2020, empurrando quase um quarto das empresas do setor para a falência.
Cidades afetadas
No entanto, as regiões do país não vivem a crise da mesma forma. Metrópoles como Lucerna, Genebra e Zurique, onde o turismo de negócios e conferências já ficaram paralisados durante a primavera, serão particularmente afetadas. De acordo com previsões do Centro de Estudos Econômicos (KOF), espera-se uma queda de quase 50% dos pernoites nessas cidades no verão, em comparação com 20-30% nas regiões alpinas.
Tradicionalmente, as regiões alpinas, além de alguns destinos populares como Interlaken ou Zermatt, são menos dependentes do turismo estrangeiro do que os centros urbanos. O medo do vírus e o distanciamento social também incentivarão muitos suíços a procurar destinos no interior do país e evitar as cidades.
A Suíça depende muito do turista estrangeiros, que são responsáveis por mais da metade de os pernoites e isso, sobretudo, no verão. Apesar das campanhas internas para incentivar os suíços a viajarem no seu próprio país, essa massa não será suficiente para cobrir as perdas devido à ausência do viajante externo. “Mesmo sendo em menor número do que os europeus, esses turistas gastam mais dinheiro em suas viagens à Suíça”, enfatiza Nicolas Délétroz, professor da HES-SO.
Não são apenas hotéis, restaurantes e empresas de teleféricos que sofrerão com a falta de chineses ou americanos. Em Lucerna, as lojas de relógios geram quase 90% do faturamento com a visita de grupos de turistas, especialmente originários da China
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Em Genebra, os turistas do Oriente Médio farão muita falta ao comércio de produtos de luxo em agosto, período particularmente apreciado por essa rica clientela para flanar às margens do Lago Genebra.
Impacto a médio prazo
Os especialistas não esperam que turistas extra-europeus retornem antes de 2021. E ainda levará tempo para que o setor volte ao nível de atividade de 2018. “O turismo suíço vai sofrer por muito tempo os efeitos da pandemia provocada pelo novo coronavírus. Se tudo correr bem, é provável que isso só ocorra a partir de 2023 ou 2024”, analisa Kanel.
Aos olhos de Nicolas Délétroz, é sobretudo o setor de transporte aéreo que ditará o ritmo e a intensidade da retomada do turismo do exterior. “Não acredito que as pessoas mudem seu comportamento. Por outro lado, um aumento acentuado no preço das passagens aéreas e mudanças na frequência das conexões aéreas pode ter uma influência decisiva no turismo intercontinental”, afirma.
Já hoje observa-se um aumento do turismo em escala continental. “É particularmente o caso na região da Ásia-Pacífico. Os japoneses não vão mais necessariamente à Europa e aos Estados Unidos passar suas férias. Muitas vezes eles preferem viajar para outros países da Ásia ou da Oceania”, destaca o especialista.
No entanto, a Suíça continuará a ser um destino privilegiado. “Talvez muitos turistas percam o interesse em passar as férias na praia em um país do outro lado do oceano. Porém muitos asiáticos continuarão a considerar a Suíça um destino que vale a pena visitar pelo menos uma vez na vida”, completa Délétroz.
Cartões de descontos, ofertas de hospedagem, acesso gratuito a atividades de lazer e outras promoções: o setor de turismo na Suíça não poupa esforços para atrair os concidadãos no verão. “Vivemos agora o momento de atrair clientes locais, oferecendo-lhes valor agregado de qualidade”, afirma Kanel.
Formas incomuns de acomodação, caravanas, campings e condomínios turísticos reservados às famílias entraram nos catálogos das empresas. Contrariando a crença popular, existem formas baratas de fazer turismo na Suíça.
No entanto é preciso um grande esforço para convencer os suíços a passarem suas férias de verão no país. “Para atrai-los, os destinos nas montanhas terão de ser mais imaginativos”. Eles não podem simplesmente confiar na beleza da paisagem”, reforça Délétroz.
A crise do coronavírus pode ser uma oportunidade para impulsionar o turismo de verão e outono, até então negligenciado em detrimento do inverno, quando o forte é o turismo de esqui. Mas para que isso aconteça, é necessário ter mais cooperação entre os diferentes atores do setor. “Temos de e oferecer aos clientes maior mobilidade turística de acordo com seus interesses (ciclismo, caminhadas, termas, etc.), ao mesmo tempo em que focamos em estadias mais curtas”, argumenta o especialista.
Adaptação: Alexander Thoele
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