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Indústria suíça enfrenta uma escassez recorde de mão de obra qualificada

Laboratório da MPS em Bienne. Copyright | Sébastien Deloy Studio Photo Sppj ©

A empresa MPS Micro Precision Systems, sediada em Berna, precisa urgentemente contratar pessoal especializado para sustentar seu crescimento. Essa é uma situação que afeta todo o setor industrial e pesa nas vendas no momento em que a demanda está em seu ponto mais alto.

“É aqui que são fabricadas as peças para os sistemas que a empresa vende”. Em uma oficina da empresa MPS Micro Precision Systems, com sede em Biel, no cantão de Berna, Fabio Mazzu aproxima-se de uma grande máquina retangular que está funcionando a pleno regime. “À entrada, há barras de aço ou inox com três metros de comprimento. Os segmentos são cortados e trabalhados segundo um esquema programado por computador. À saída, obtemos, por exemplo, esses parafusos com um design bastante sofisticado. Sua precisão é garantida em 10 mícrones, o equivalente a um décimo de um fio de cabelo”.

Fabio Mazzu é gerente de produção no setor de montagem. Um papel fundamental nesta empresa conhecida mundialmente pela qualidade de seus produtos e atendimento personalizado. As aplicações vão do setor aeroespacial ao setor médico, incluindo relojoaria e semicondutores. Atrás de Fabio Mazzu, pode-se ouvir o zumbido de uma dúzia de dispositivos cor-de-laranja produzidos pela Tornos, um fabricante histórico de máquinas-ferramentas do Jura bernese. “Acima de tudo, temos falta de torneiros. São mecânicos e mecânicas polivalentes especializados na produção de peças metálicas complexas”, indica.

O trabalho consiste em elaborar o programa da máquina CNC (comando numérico computorizado), após a concepção do processo de fabricação. Em seguida, é necessário selecionar as ferramentas que serão inseridas na máquina e ajustar as configurações. Há meses que a MPS sofre com a falta de pessoal. Em consequência, os operários e operárias precisam monitorar cinco a seis tornos em vez de dois. “Naturalmente, essa sobrecarga gera estresse. Temos que estar próximos das equipes e atentos, a fim de evitar problemas de produção, como os burn-outs”, continua Fabio Mazzu.

Trabalhos específicos da região

A escassez de mão-de-obra na indústria penaliza a competitividade do comércio externo suíço, que representa cerca de 40% do PIB nacional, uma proporção que torna a Suíça um país muito dependente desse setor. Em conjunto, a indústria e as ferramentas (27%) e a relojoaria (10%) representam mais de um terço (37%) das exportações suíças, segundo o Departamento Federal de Estatística (dados de 2021). Essa proporção segue a dos produtos farmacêuticos e químicos, tradicionalmente em primeiro lugar nas vendas de produtos suíços no exterior, com quase a metade do valor total das vendas.

Empregando cerca de 475 pessoas, a MPS deverá aumentar seu volume de negócios de 75 milhões de francos suíços em 2022 para 85 milhões de francos suíços no exercício em curso. A demanda é extremamente elevada, impulsionada pela recuperação após a pandemia de Covid-19, gerando um crescimento de vendas de aproximadamente 13%. Para atingir esse objetivo dentro do prazo previsto, a empresa tem de preencher cerca de vinte postos de trabalho atualmente em aberto.

O perfil mais procurado é o do técnico em polimecânica especializado em torneamento de barras, com um certificado federal de competência (CFC) e alguns anos de experiência. “Esse tipo de profissão só existe nas regiões suíça e francesa do Jura. É inútil tentar recrutar em outros locais da União Europeia. A única maneira de resolver esse problema é capacitar mais pessoas, sejam elas jovens em fim de curso ou pessoas que procuram se reorientar na vida profissional”, adianta Nicola Thibaudeau, CEO da MPS.

Engenheira formada em engenharia mecânica pela Escola Politécnica de Montréal, Nicola Thibaudeau dirige a MPS Micro Precision Systems há 20 anos. MPS Micro Precision Systems AG

Empregadores contratam pessoal especializado

No nicho de torneamento, a procura por pessoal especializado está em alta, como atesta o portal de emprego Jobup, que indica que, em abril de 2023, a indústria suíça pretende contratar 1.550 polimecânicos. A concorrência entre os empregadores é intensa. “É essencial oferecer perspectivas de crescimento dentro da empresa, melhorando ao mesmo tempo as condições de enquadramento, por exemplo, flexibilizando os horários de trabalho e a possibilidade de gozar férias”, afirma Nicola Thibaudeau.

Diretor da Job Watch, uma agência de recrutamento especializada em relojoaria e microtecnologia baseada em Yverdon-les-Bains, Benoit Fontaine nunca observou uma tal escassez nos últimos 15 anos na região do Jura, o verdadeiro pulmão da indústria helvética de alta precisão. “Existem atualmente quase 700 vagas abertas, em comparação com 350 na mesma época em 2019, antes da pandemia de Covid-19. As profissões mais procuradas se encontram em toda a cadeia produtiva de peças, desde programadores CNC a mecânicos de usinagem”, salienta.

A associação Swissmem publicou o depoimento de Alain Kiener, da Bieri Hydraulik, em Liebefeld, no cantão de Berna. O gerente de produção observa que, atualmente, é quase impossível recrutar especialistas pela via tradicional. “Para contratar um profissional, toda a equipe tem de recorrer aos seus contatos pessoais”, afirma. O gerente de produção defende a possibilidade de contratar e formar pessoas que não correspondem 100% ao perfil procurado. A ênfase é então colocada no potencial de integração e na vontade de aprender. “Para atrair trabalhadores supersolicitados, é a imagem da empresa e o interesse despertado pelos projetos que são decisivos”, diz Nicola Thibaudeau.

Um funcionári operando uma máquina de controle numérico (CNC). Copyright | Sébastien Deloy Studio Photo Sppj ©

Valorizar profissões técnicas

Mas como se chegou a essa escassez? “É simples: nos últimos dez anos as empresas não têm formados especialistas suficientes para suprir as necessidades da indústria. A contratação de aprendizes exige um esforço por parte dos empregadores e, enquanto algumas empresas se empenham plenamente nessa tarefa, outras preferem não fazê-lo. Como resultado, a reserva de competências se esgota assim que a demanda aumenta”, responde Dominique Lauener.

Presidente da Associação dos Fabricantes de Tornos e Fresas, Lauener foi o pivô da criação, em 2013, do Centro de Aprendizagem Técnica da Região do Jura (CAAJ, na sigla em francês), em Moutier, no cantão de Berna, e em La Chaux-de-Fonds, no cantão de Neuchâtel. Essa estrutura oferece um curso de dupla aprendizagem para torneamento e ofícios mecânicos, um progresso que foi aprovado por unanimidade pelos industriais da região.

A Swissmem, por sua vez, apela à indústria para melhorar a imagem das profissões da área. A associação de classe lançou as plataformas “Fascínio técnico” e “find-your-future” com o propósito de promover o setor e apoiar a formação educacional. Os círculos profissionais endereçam uma mensagem particular às jovens, que estão sobremaneira sub-representadas no ramo, lembrando que as bancadas de trabalho insalubres deram lugar a sistemas inteiramente informatizados.

Para Nicola Thibaudeau, da MPS, esses esforços são um passo na direção certa. Esta engenheira aeronáutica de formação considera que a bola está no campo da indústria e, contrariamente ao que se pensa, não pede nada aos poderes públicos. “Cabe a nós, empresas, resolver esse problema. Temos de nos mobilizar para melhorar a imagem das profissões de produção e destacar as oportunidades de capacitação”.

Edição: Samuel Jaberg

Adaptação: Karleno Bocarro

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