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Livro eletrônico desafia livro convencional

Não falta o que ler no maior evento do gênero em Genebra. swissinfo.ch

Aberta ao público em Genebra, de 22 a 26 de abril, nova edição do Salão do Livro, "o mais importante evento cultural da Suíça".

Livros de todos os gêneros e para todos os gostos. Toneladas de livros. E uma pergunta: qual o futuro do livro de papel?

Imagine-se num vilarejo, com ruelas estreitas, distribuídas por letras (nos Salões anteriores elas tinham nomes mais evocativos, de escritores prestigiosos como Balzac, Dostoievsky ou Hemingway), onde as casas, embora não passem de barracas sem teto – sem geladeiras nem fogão – estão bem equipadas com mesas e armários repletos de livros. Livros e mais livros, de deixar a gente tonta…

Você já pode fazer uma idéia de uma mostra que reúne mais de setecentos expositores, não se limita ao livro, reservando, por exemplo, grande espaço para a arte. O Salão espera atrair cem mil interessados até domingo à noite. Mas, ao visitá-lo, há quem questione a influência da internet sobre o setor.

O livro eletrônico “e-book” está aí

Seja como for, no momento, o Salão Internacional do Livro e da Imprensa (este é seu nome oficial) desconhece a propalada “crise” econômico-financeira, garante o seu presidente, Pierre Marcel Favre. Para ele o setor do escrito e do livro é até “um remédio contra a sinistrose”. E, para fortalecer seu argumento, lembra que outros salões do gênero (Bruxelas e Paris) tiveram maior afluência este ano.

Se Favre não considera o livro eletrônico uma ameaça, pode-se indagar, no entanto, se o digital não representa o futuro para o livro. Em suma, se Favre tem ou não razão.

Ainda domingo (19.04.2009), o jornal suíço, Le Matin Dimanche estimava que os jovens vão pegar gosto pela leitura através do e-book. Até porque, desde a virada o milênio, o livro eletrônico evoluiu muito. Ele já existe em forma de “tablete”, é leve, fácil de transportar. E, principalmente, fácil de ler, mesmo ao sol.

A vantagem do livro eletrônico sobre o livro convencional é que nesse “tablete” você pode armazenar centenas de livros. No Reader PRS-505, da Sony – que pesa 260 g – e está sendo vendido na Europa por 390 dólares, aproximadamente, a bateria dura o tempo necessário para a leitura de 6.800 páginas, lembra o jornal.

Outro exemplo: com o iPhone, o acesso é gratuito à gigantesca “ciberlivraria” Amazon. A desvantagem é que o tamanho da tela deste último suporte é duas vezes menor que a do Reader mencionado.

Bibliotecas digitais vão na onda

Resta que a possibilidade de consultar milhões de livros na Internet tem aumentado bastante recentemente. Isso pode, de fato, reforçar o progresso do digital no setor.

Terça-feira passada, dia 21, a UNESCO inaugurou a ‘Biblioteca Digital Mundial’ que já reúne 1200 documentos raros, como as primeiras imagens filmadas pelos criadores do cinema, os irmãos Lumière. Interessante é que as buscas podem ser efetuadas em sete idiomas, inclusive o português.

Mas já existem na mesma área dois gigantes: a Europeana (portal do livro europeu), que permite acessar mais de 4,5 milhões de livros, mapas, fotos, filmes, jornais… e o Google Book Search, criado em 2005, onde estão disponíveis sete milhões de livros, às vezes atropelando direitos autorais. (Veja links, ao lado).

Livro digital parceiro do livro convencional

Essa evolução do livro virtual não desarma defensores do “livro físico”. Assim, um especialista presente no Salão de Genebra, que prefere não se identificar, acha que o livro eletrônico será apenas um complemento… porque quem utiliza os readers não é voltado unicamente para o digital.

Se estamos acostumados a trabalhar através da Internet e os jovens aprendem a trabalhar com esse suporte, “a web é um complemnto ao livro físico que existirá sempre, porque há esse prazer de tocar o livro, de viver com o livro”.

Ele lembra, ainda, que ninguém sabe como funcionará a comunicação daqui a 20 anos, por exemplo. “Pode haver um prazer e um conforto na leitura do livro eletrônico. Mas o contato físico com o produto, a beleza desse produto permanecerá sempre”, realça.

A mesma intuição é compartilhada por Patrice Felhmann, diretor de um das maiores empresas atacadistas suíços de livro (OLF): “Espero que o livro de papel vá subsistir. Novos suportes aparecem e desde sempre muda o comportamento dos usuários. E seria uma utopia pensar que só o papel sobreviveria.”

Fehlmann acha, porém, que o comportamento do usuário é mais importante que os utensílios à disposição dele, enfatizando que Google Book Search e companhia representam a mesma ameaça que os autores de música enfrentaram (e estão enfrentando). Afinal, “para viver o autor precisa vender o que faz, não há como oferecer tudo gratuitamente”, arremata.

O inglês tem vez

Enquanto o digital não vem, ou vem apenas discretamente, o Salão de Genebra continua sendo um importante ponto de encontro anual de editores, distribuidores e livreiros, na grande maioria os que trabalham com obras em francês.

Mas há exceções. A produção inglesa, por exemplo, marca presença. O que procede, porque Genebra, sede européia da ONU, é cosmopolita, sendo o inglês a língua estrangeira mais utilizada.

A participação de editores língua alemã é também um pouco menos inexpressiva neste ano. Num país onde praticamente 70% da população é de língua germânica, tem lógica.

Na mostra, que visa o grande público, a procura maior é mesmo de livros físicos, concretos. Cercado por tantas obras sobre os mais variados assuntos, na hora da escolha, geralmente, o visitante que não chega com uma lista de livros na cabeça, deixa-se guiar pelo faro.

A lista dos mais lidos é uma referência, não absoluta, as “dicas” da Internet podem ser outra, e o “ouvi falar”, uma terceira, facilitando a decisão quando já se sabe aonde nos levam nossos interesses. Mesmo aos estandes de livros ingleses ou africanos.

De Machado de Assis a Orhan Pamuk

Há, de fato, pelo sexto ano consecutivo, uma mostra de livros africanos em francês, onde – nos que nos toca mais de perto – encontramos até traduções de Machado de Assis, Eça de Queirós, ao lado de várias obras do moçambicano Mia Couto.

E porque não uma visita ao estande da Turquia, convidada de honra este ano, como o Brasil o foi nos anos noventa? A Turquia, candidata à União Européia e mal amada pela União, tem uma cultura muito rica. O país publica 33 mil livros por ano, fez questão de nos assinalar Fulya Durgut, principal responsável pelo estande de 600 m2.

O autor turco mais famoso é Orhan Pamuk, Nobel de literatura em 2006, para não falar de Nedim Gürsel e Sema Kaygusuz. Os brasileiros que dominam o francês teriam interesse em ler La ville dont la cape est rouge de Ash Erdogan, em que a autora evoca uma Rio de Janeiro violenta mas fascinante.

Pintura e escultura prestigiadas

Mas se você cansou do assunto, uma voltinha pela Europ’Art vale a pena. Essa mostra paralela de pintura e escultura apresenta ofertas para todos os gostos. Lógico, já pelo fato de haver galerias de diferentes países. E galeristas estimam que este ano o nível artístico, que ainda deixa a desejar, melhorou bastante. Mérito a ser atribuído em parte ao organizador da mostra, o famoso grafista suíço Roger Pfund.

Não se pode esquecer de mencionar ainda outra exposição, sempre no âmbito do Salão do Livro, aquela que é dedicada aos Giacometti, pai e filhos. Dos Giacometti, Alberto – aquele das esculturas desencarnadas – é o mais famoso. Mas o pai, Giovanni, e o irmão de Alberto, Diego, são também artistas conceituados. Faltando-nos espaço, remetemos o leitor à excelente reportagem sobre o assunto, em francês e inglês, realizada por um colega de swissinfo. (Confira no link ao lado).

swissinfo, J. Gabriel Barbosa

Criado em 1987, o Salão do Livro realiza-se tradicionalmente no Palexpo (Palácio das Exposições), situado ao lado do aeroporto internacional de Genebra (Cointrin), no mesmo local – embora ocupando menos espaço – que o anual ‘Salão do Automóvel’, aliás bem mais antigo (A 79a. edição ocorreu em março).

Esses expositores de livros, de modo geral, destinados ao grande público, não vêm à Genebra em busca do lucro imediato que é pouco, mas para mostrarem o que têm. A grande feira é, de fato, um investimento, o ganho pode vir mais tarde. E o livro, por mais respeito que inspire e mais nobre que seja, não deixa de ser uma mercadoria.

Uma mercadoria apreciada diferentemente pelos leitores. Assim, entre os livros de língua inglesa, os best-sellers continuam sendo escritos pelos mesmos autores: John Grisham, John Le Carré, Michael Connelly, Harlan Coben, Stephen Clark, Stephenie Meyer e sua trilogia Twilight, Eclipe e Breaking Dawn… Deste último foi tirado um filme.

E na sequência do filme Slumdog Millionaire que o indiano Vikas Swarup fatura em cima do livro do mesmo nome. O afegão Khaled Hosseini, autor de O Caçador de Pipas, é também um fenômeno de livraria.

Da literatura francesa, entre os suíços autores que vêm se mantendo nos últimos anos figuram Anne Cunéo, Yvette Z’ggragen, Nicolas Bouvier…

E entre as publicações em francês: Daniel Pennac, Bernard Werber, Tahar Ben Jelloun (marroquino), Amélie Netomb (belga), J.M.G.Le Clézio, Anna Gavalda, Nancy Houston (canadense, mas radicada ainda jovem na França) …

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