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‘Made in the world’, o adeus às barreiras geográficas

Keystone

Os produtos abandonam gradualmente as etiquetas "Made in Switzerland" ou "Made in USA” para se tornar “Made in the world”, ou seja “Indústria Mundial”, que hoje representam 80% do comércio mundial. Um modelo que multiplica os negócio, mas pode excluir as economias mais pobres. A OMC e outros atores tentam agora preencher esta lacuna.

A globalização não pode ser revertida e seu ritmo tem apagado fronteiras geográficas. O próximo avião que você viajar terá provavelmente uma fuselagem italiana, portas de saída francesas, controle de instrumentos americanos e uma asa japonesa.

Estes produtos são made in the world, uma indústria mundial baseada nas chamadas cadeias globais de valor (CGV) que, de acordo com a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), estão presentes hoje em 80% do comércio mundial.

Um país fornece a pesquisa, um outro o projeto, um terceiro a fabricação de componentes, o quarto a montagem. Esta dinâmica se repete no setor de serviços: alguns países já se tornaram especialistas em call centers, outros em serviços contábeis ou informáticos.

“As CGV tornaram-se a espinha dorsal e o sistema nervoso da economia mundial”, afirma o Conselho da Agenda Global do Fórum Econômico Mundial (WEF), um grupo de especialistas que dissecaram em 2012 este fenômeno no estudo A Mudança Geográfica do Deslocamento das CGV: Implicações para os Países em Desenvolvimento e a Política Comercial.

A OMC e a OCDE alertaram que a fragmentação dos processos de produção está desafiando a maneira pela qual o mundo vê e interpreta a evolução do comércio mundial.

“O que se vê não é o que é na realidade”, diz a OCDE, que cita um exemplo simbólico: Em um tablet Ipad, com um custo de fabricação de 187,51 dólares, a distribuição do valor dos componentes será a seguinte: Coreia (80,05 dólares), China (20,75), EUA (22,88), Alemanha (16,08), outros países (47,75). Isto “é apenas uma parte da história”, precisa, já que as empresas fornecedoras usaram, por sua vez, insumos intermediários importados para a fabricação de seus componentes.

Hoje, um produto ou componente que cruza a fronteira para ser processado ou receber valor agregado é contabilizado.

As cadeias globais de valor estão causando uma distorção no conceito tradicional de comércio exterior. A UNCTAD estima que dos 19 bilhões de dólares em importações globais em 2010, cerca de 5 bilhões correspondem a produtos que foram contabilizados mais de uma vez.

A OMC estima que o comércio entre os EUA e a China teria sido 40% menor em 2008, se fosse usado uma metodologia que considerasse o impacto das operações de valor agregado entre ambos.

Através da iniciativa Made in the world (Miwi initative), OCDE e OMC trabalham em uma nova metodologia para refletir o impacto do valor do comércio global e em um banco de dados público.

Mais oportunidades e empregos

Para Keith Rockwell, porta-voz da Organização Mundial do Comércio (OMC), as CGV fornecem três benefícios principais: novas oportunidades de negócios, comércio mais eficiente e criação de emprego.

Quando apenas produtos finais eram negociados entre os países, “havia uma tendência a expulsar do mercado os países menores e mais pobres. Hoje, até mesmo as pequenas nações emergentes podem desenvolver uma indústria capaz de se especializar em um determinado segmento ou setor”, explica Rockwell.

“Os países produzem as partes dos produtos que eles têm vantagens comparativas. E, como resultado, geram mais emprego e investimento direto estrangeiro”, acrescenta.

Hans-Peter Egler, chefe de Promoção Comercial da Secretaria de Estado para Economia da Suíça (Seco), concorda com os benefícios desta forma de comércio global que, em sua opinião, promove oportunidades eficientes e trocas de bens e serviços entre os diferentes mercados.

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Falta de infraestruturas

Para Jean-Pierre Lehmann, professor de Economia Política Internacional do Instituto IMD, de Lausanne, e coautor do estudo, as “oportunidades para que os países em desenvolvimento se insiram no mercado global não são acessíveis para todas as economias”, disse.

Economias que participam deste comércio sem fronteiras precisam dispor de “uma infraestrutura razoavelmente boa, um fornecimento confiável de energia, uma força de trabalho com um nível de escolaridade razoável e um ambiente favorável para os negócios”, disse ao swissinfo.ch.

De acordo com esse estudo, as empresas envolvidas nessas cadeias devem assegurar aos seus clientes que elas serão capazes de produzir dentro de um quadro de normas de condições de trabalho necessárias e aceitáveis. “Condições que muitas vezes são difíceis de serem cumpridas pelas PME”.

A OMC reconhece que nem todas as economias são capazes de aproveitar o potencial desta forma de comércio. “É verdade que muitos países pobres não estão participando das cadeias globais de valor. Falta para eles conhecimento e a infraestrutura necessária”, observa Rockwell.

A OCDE estima que entre seus 30 países membros, o chamado conteúdo de insumos intermediários importados (imported intermediate input content) representou 25% das exportações realizadas em 2005 (os dados mais recentes).

Em economias como os EUA ou a Índia, o peso dos insumos intermediários importados é equivalente a cerca de 13% de suas exportações. No Brasil e no Japão, cerca de 15%. Mas na Europa, a proporção estimada é muito maior: Grã-Bretanha (20%), França (25%), Alemanha (26%), Hungria (56%) e Luxemburgo (60%).

Na Suíça, o conteúdo de insumos intermediários importados utilizados nas exportações é de cerca de 30%. De acordo com dados da OCDE, é mais importante em setores como produtos químicos (70%) e serviços (50%).

Reduzir a exclusão

Para fortalecer os elos mais fracos da cadeia do comércio mundial há várias medidas em vigor, entre elas a Aid for Trade. Esta iniciativa, promovida pela OMC, reúne agências e doadores internacionais com a missão de ajudar os governos dos países em desenvolvimento a remover barreiras em suas economias ao comércio internacional. Estes incluem Burkina Faso, Colômbia, Vietnã, Honduras e Haiti.

Rockwell observa que nos últimos anos tem sido alocados em torno de 40 bilhões de dólares por ano para financiar vários programas com países em desenvolvimento. Países como Bangladesh, Camboja, Vietnã e Costa Rica estão empenhados em implementar políticas para atrair investimentos e melhorar a competitividade.

A Suíça também participa um pouco no comércio dos produtos da Indústria Mundial através de programas de desenvolvimento da Seco. “Apoiamos a promoção de commodities agrícolas sustentáveis, como café, cacau e algodão e a adoção pelas empresas de normas de trabalho estabelecidas pela Organização Internacional do Trabalho (OIT)”, afirma Hans-Peter Egler.

Adaptação: Fernando Hirschy

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