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Medicina moderna não está salvando vidas no Quênia

Cancer patients sit in a chemotherapy ward while receiving treatment.
Entre 2020 e 2040, a incidência e as mortes por câncer estão previstas para aumentar mais rapidamente na África em comparação com outras regiões do mundo. Os pesquisadores estimam que haverá 2,1 milhões de novos casos de câncer e 1,4 milhões de mortes relacionadas ao câncer na África até 2040. Reuters / Olivier Asselin

Na última década, testemunhamos um avanço enorme no tratamento de câncer e outras doenças genéticas. Mas por que o tratamento para essas enfermidades não está disponível em todo mundo?

Quando minha mãe foi diagnosticada com câncer de mama em 1994 nos Estados Unidos, o medicamento Herceptin ainda não havia chegado ao mercado. Levaria mais quatro anos até que fosse aprovado pelo FDA como o primeiro medicamento direcionado para uma forma agressiva de câncer de mama, transformando o prognóstico de milhões de mulheres que conviviam com a doença.

Esta é a primeira história de nossa série sobre os dilemas enfrentados por governos, hospitais e pacientes sobre a acessibilidade a novos e caros tratamentos para câncer e outras doenças genéticas que causam risco de morte. 

Naquela época, havia pouca conversa sobre biomarcadores genômicos, anticorpos monoclonais ou inibidores de checkpoint imunológico, que revolucionaram o tratamento de muitos cânceres. Em vez disso, minha mãe passou por rodadas de quimioterapia tóxica e cirurgias que deixaram cicatrizes em seu peito. A única terapia direcionada na época era o Tamoxifeno, que causava ondas de calor e fadiga intermináveis.

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A child sits looking up at a doctor who is examining them.

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Será o fim da medicina acessível?

Este conteúdo foi publicado em As empresas farmacêuticas estão próximas de uma cura para o câncer, mas será que os preços elevados tornarão os tratamentos inacessíveis para a maior parte do mundo?

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A realidade mudou para a maioria das mulheres dos EUA e de outros países ricos, incluindo a Suíça. Embora ainda existam muitas que sofrem e morrem de câncer de mama, as chances de sobrevivência melhoraram drasticamente graças a tratamentos que visam a causa subjacente dos tumores e infligem menos danos às células saudáveis.

No entanto, muitos desses tratamentos ainda não são acessíveis à grande maioria das pessoas no mundo. Uma das principais razões é porque eles custam muito. Se existe um tratamento que pode salvar a vida de alguém, por que uma mulher no Quênia tem que esperar anos para acessá-lo e para isso precisa vender todos seus pertences para pagar pelos medicamentos?

Viajei para o Quênia em junho para investigar a falta de acesso a medicamentos, o alto custo dos tratamentos e o que o governo e as empresas farmacêuticas estão fazendo para melhorar a acessibilidade aos cuidados que mudam vidas.

Meu foco era câncer e doenças genéticas como a doença falciforme, porque a maioria das pessoas que morrem dessas enfermidades vive na África. Apenas um exemplo: cerca de 70% das mortes por câncer ocorrem em países de baixa e média renda. Essas também são as doenças em que as empresas farmacêuticas estão gastando a maior parte de seus orçamentos de pesquisa e desenvolvimento e onde os avanços científicos estão aumentando as perspectivas de cura.

As empresas farmacêuticas suíças como Roche e Novartis estão na vanguarda da mudança da indústria para “grandes medicamentos” – medicamentos e tratamentos que deveriam trazer mudanças transformadoras para um pequeno segmento de pacientes, mas a preços exorbitantes.

Escolhi o Quênia porque ambas as empresas têm programas para disponibilizar seus medicamentos lá e o país quer ser um centro de tratamento do câncer na região.

Conversei com mais de 15 médicos que trabalham em hospitais públicos e privados para descobrir o que estão aprendendo sobre o câncer no Quênia, para entender as lutas que enfrentam e o que as grandes empresas farmacêuticas podem e devem fazer para melhorar o tratamento e as taxas de sobrevivência no país.

Conheci médicos como Rispah Torrorey-Sawe, patologista e imunologista que tem a missão de descobrir por que tantas pessoas estão morrendo de câncer tratável no Quênia. Ela carregou amostras de saliva em um voo pelo continente para testá-las e observar as mutações genéticas para que os pacientes do hospital da Universidade Moi pudessem receber o melhor tratamento.

E conversei também com Gavin Orangi, que mantém anotações meticulosas sobre seus pacientes na clínica de câncer que administra no condado de Makueni, no sudeste do Quênia. Ele construiu um registro digital de câncer excepcional que pode competir com qualquer coisa encontrada nos melhores hospitais da Suíça.

Como fizemos

Por que tratamos desse tema

A ciência desenvolveu novas formas de tratamento do câncer e de outras doenças genéticas, que poderão garantir a sobrevivência e melhorar a qualidade de vida de muitas pessoas. No entanto, essas novas tecnologias não chegam em todas as partes do globo. Queríamos entender por que e o que está sendo feito para garantir que todos tenham acesso à medicina.

Encontrando fontes

Nos esforçamos para garantir uma cobertura equilibrada dos fatos em todas as reportagens da swissinfo.ch. Isto significa que todos os fatos e posições relevantes são considerados ao selecionar as fontes para analisar um assunto. Neste caso, procuramos organizações globais de saúde com projetos no Quênia para encontrar especialistas, falamos com as maiores empresas farmacêuticas da Basiléia e do Quênia e trabalhamos com um jornalista local para identificar autoridades governamentais, hospitais e organizações de pacientes que estão influenciando o debate e criando um espaço para os pacientes compartilharem suas experiências. Também viajamos ao Quênia para obter mais informações sobre o tema e fazer nossas próprias observações.

Se você quiser saber mais sobre nossos métodos de trabalho, dê uma olhada aqui.

Entre em contato conosco

Se você tiver alguma pergunta sobre este tópico, quiser debater conosco ou com leitores sobre o assunto, envie um e-mail ao seguinte endereço: english@swissinfo.ch.

Além, há médicos como Nicholas Abinya, Adrian Gardner e Naftali Busakhala, que estão determinados a nutrir uma nova geração de especialistas em câncer no país para que os pacientes não tenham que gastar suas economias viajando para a Índia ou África do Sul para atendimento.

E também conheci Kevin Makori e Chite Asirwa – que acreditam que um bom atendimento não precisa custar uma fortuna. Eles fazem parte de uma equipe do Instituto Internacional do Câncer que está construindo um centro de pesquisa do câncer no leste da África, onde máquinas de diagnóstico de primeira linha estão escondidas em contêineres cercados por florestas exuberantes.

“Precisamos entender que em algumas partes do mundo agora, o tratamento do câncer pode estar de 15 a 30 anos atrás de outras partes do mundo”, Makori me disse. “Estamos todos neste mundo, mas alguns de nós têm a garantia de acessar o melhor nível de atendimento possível. Enquanto outros estão atrás de qualquer padrão global de atendimento em cerca de 15 a 20 anos. Não preciso mencionar o que isso significa em termos de resultados para os pacientes.”

Esses médicos e os mais de 20 pacientes, defensores de pacientes e funcionários do governo com quem conversei têm a intenção de garantir que o Quênia e a África de maneira mais ampla construam sua própria infraestrutura e capacidades de enfrentamento do câncer. À medida que os tratamentos se tornam mais personalizados para os riscos exclusivos de cada paciente, os profissionais médicos estão cientes de que os pacientes da região não podem confiar nos tratamentos contra o câncer testados no Ocidente.

No Quênia, os médicos estão sendo forçados quase diariamente a tomar decisões de vida ou morte. Eles sabem que existe um tratamento que pode oferecer a um paciente mais seis meses de vida, mas pagar por isso pode mergulhá-lo na pobreza.

Estes são dilemas não apenas enfrentados pela África ou países com recursos mais limitados. Eles estão cada vez mais enfrentando médicos, pacientes e governos na Suíça e em outros países ricos. À medida que o número e o preço dos novos tratamentos para o câncer e outras doenças que ameaçam a vida explodem, os governos lutam para encontrar dinheiro para pagá-los e questionam quanto benefício eles realmente trazem aos pacientes.

Esta série de reportagens, publicada semanalmente, investiga o acesso a medicamentos e questiona se as curas que a indústria farmacêutica está desenvolvendo serão acessíveis a todos, ou apenas à minoria global que tem dinheiro para pagar.

Edição: Nerys Avery

Adaptação: Clarissa Levy

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