Mulheres descartadas das empresas suíças
Na Suíça, poucas mulheres ocupam cargos de direção nas empresas. Para tentar remediar o desequilíbrio, o governo publicou um manual de "boas maneiras", cuja eficácia vem sendo bastante questionada.
O livreto da Secretaria Federal de Economia (SECO) pretende encorajar as empresas do país a contratar mais mulheres para os postos de direção. Uma mudança fundamental na cultura das empresas helvéticas, segundo a União Patronal Suíça.
Atualmente, na Suíça, as mulheres representam cerca de 4% dos postos de direção e ocupam 8,3% das cadeiras nos conselhos de administração. A SECO observa que a situação mudou muito pouco nos últimos dez anos. “Um dos principais motivos é a difícil combinação entre trabalho e família. As condições de enquadramento devem ser ajustadas corretamente, senão as mulheres que têm família não conseguirão avançar em suas carreiras”, diz Martina Schläpfer, responsável da seção trabalho/mulher/família da secretaria de economia.
“A segunda razão é o teto de vidro. É muito difícil para as mulheres atingir os mais altos escalões da hierarquia, porque muitas vezes as competências profissionais não são suficientes: outros fatores desempenham um papel importante como os contatos pessoais. Os homens têm melhores contatos e se recomendam uns aos outros para os postos de liderança”, observa.
Martina Schläpfer acrescenta: “No entanto, estudos mostram que empresas com uma proporção equilibrada de mulheres na direção são mais eficientes, e que as equipes mistas são mais criativas e respondem melhor às expectativas dos clientes”.
As “boas maneiras” propostas no livreto da SECO, “Mulheres em cargos de liderança: Chaves para o Sucesso”, são baseadas na experiência de dez empresas.
As técnicas abrangem diversas áreas, tais como mudança da cultura empresarial, desenvolvimento de carreira, equilíbrio trabalho/vida privada e processo de recrutamento, que, de acordo com Martin Schläpfer, é geralmente mais adaptado aos homens.
Objetivos
Algumas empresas têm metas bem claras. A gigante farmacêutica Roche quer contar com 20% de mulheres no seu top management até o final de 2014. Já a IBM Suíça incentiva uma proporção mais equilibrada de mulheres nos cargos de confiança, já que a direção da empresa está nas mãos de uma mulher, Isabelle Welton. A empresa tem 21% de mulheres em seu conselho de administração e 33% nos cargos de liderança.
A própria secretaria federal de economia nomeou, pela primeira vez, uma mulher na chefia, com Marie-Gabrielle Ineichen que assumirá o cargo em 1° de abril. Por outro lado, duas das empresas citadas, a de consultoria PricewaterhouseCoopers e a de eletrônicos Feller, não têm nenhuma mulher nos cargos de direção, apesar de terem programas de aconselhamento e apoiarem o trabalho a tempo parcial.
As empresas citam várias razões para encorajar uma maior participação das mulheres nos cargos de chefia, que vão desde o temor de uma escassez de pessoal no mercado de trabalho de 2015 ou simplesmente para se passar como boas empregadoras.
Medidas voluntárias ou cotas?
A União Sindical Suíça continua duvidando da iniciativa da SECO. “A publicação é muito boa, mas também mostra que não avançamos realmente se contamos só com medidas voluntárias”, diz Christina Werder, secretária da igualdade.
A sindicalista ressalta que a igualdade foi consagrada na Constituição suíça há 30 anos, mas nunca alcançou realmente o mundo profissional, especialmente porque as mulheres continuam ganhando ainda cerca de 20% menos que os homens.
Para ela, o debate precisa de um novo impulso. “É por isso que os sindicatos estão chamando as pessoas para um comício dia 14 de junho, pedindo a igualdade de remuneração, mais lugares em creches ou ainda a licença paternidade”, diz, referindo-se ao planejamento de uma greve em favor das mulheres.
“As mulheres pedem a igualdade salarial há muito tempo, mas temos de admitir que isso não vem voluntariamente. É a mesma coisa com as mulheres em posições de liderança”, diz.
A Suíça já discutiu a questão de cotas para mulheres nas empresas, como acontece na Noruega desde 2008 e que será imposta aos conselhos de administração franceses até 2017. Mas Martina Schläpfer nota que este não é um tema na agenda política, uma vez que todas as iniciativas legislativas sobre o assunto foram rejeitadas.
Ela admite que as medidas voluntárias levam tempo. “Mas se as empresas agem segundo suas próprias convicções, é mais certo que mudem”.
100 anos. O Dia Internacional da Mulher, 8 de Março, comemora as conquistas econômicas, políticas e sociais das mulheres. As primeiras manifestações foram realizadas em 1911 na Áustria, Dinamarca, Alemanha e Suíça, e reuniram mais de um milhão de pessoas. Hoje, vários países marcam esta data. Em cerca de 25 países, incluindo Afeganistão, Rússia, Ucrânia, Vietnã e Zâmbia, o dia 8 de março é feriado.
Manifestações.
A Suíça participa através de vários eventos às manifestações internacionais para esse dia: a escola internacional de administração (IMD) de Lausanne organiza dois dias dedicados às mulheres em posições de liderança (10 e 11 de março). Em Berna, foi realizada uma conferência bilateral Suíça-Estados Unidos sobre as mulheres, dia 7 de março. A União Sindical Suíça também organiza um evento dia 08 de março.
Salário. As mulheres ganham em média 20% menos que os homens. A Secretaria Federal da Igualdade (BFEG, na sigla em francês) observa que cerca de 40% destas diferenças são devidas à discriminação. As mulheres que ocupam cargos de chefia ganham até 30% menos que os homens.
Tempo parcial. A BFEG acrescenta que o mercado de trabalho ainda está dividido entre profissões “masculinas” e “femininas”, menos remuneradas. No emprego, seis em cada dez mulheres trabalham a tempo parcial. Entre os homens, essa estatística sobe para um em cada oito ou 12%.
Mal europeu. A Suíça não é um caso isolado. Um estudo da empresa de consultoria Mercer nota que dois terços das empresas europeias pesquisadas não possuem uma estratégia para incentivar as mulheres a assumir papéis de liderança. Apenas 11% delas desenvolveram tais iniciativas.
Adaptação: Fernando Hirschy
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