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“Não é mais o lugar onde todos estão ansiosos para vir”

Novas instalações da multinacional americana Biogen em Luterbach, no cantão de Solothurn. Nela irão trabalhar 400 funcionários. Keystone

A Suíça ainda é considerada um dos países mais atraentes no mundo para a instalação de empresas. Todavia, a reforma fiscal e a política de imigração preocupam hoje os investidores internacionais. A liberdade de circulação de mão-de-obra é um fator decisivo para as empresas com produtos de alto valor agregado, como explicam as agências de promoção comercial das regiões econômicas mais relevantes.

A região mais atraente da Suíça, segundo os relatórios anuais dos bancos Credit Suisse e UBS continua sendo incontestadamente o cantão de Zug. Quatro fatores explicam: boas condições financeiras, potencial de mão-de-obra especializada, acesso às vias de transporte e estabilidade.

“Esses fatores são levados em primeiro lugar pelas empresas ao procurar um lugar para se instalar”, explica Beat Bachmann, diretor da Agência de Promoção Econômica de Zug. Se a atratividade da Suíça sofre uma alteração, percebe-se rapidamente em Zug. Um exemplo é o número de novas empresas instaladas que, segundo Bachmann, sofreu uma forte retração nos últimos dois anos no país.

“A explicação é que a Suíça se tornou menos interessante para investidores estrangeiros segundo alguns critérios. O fator negativo mais importante é, no momento, a questão da disponibilidade da mão-de-obra especializada”, afirma Beat Bachmann ao referir-se à proposta constitucional “Contra a imigração em massa”, aprovada em plebiscito em 2014 e cujo objetivo é reduzir a imigração de trabalhadores oriundos dos países da União Europeia.

Quotas ainda são aplicadas na Suíça aos trabalhadores estrangeiros que vêm dos países fora do espaço da União Europeia e da Associação Europeia de Comércio Livre, os chamados países terceiros. A redução dessas quotas pelo governo federal teria funcionado, segundo Bachmann, como um sinal extremamente negativo.

“Essas medidas causam grande preocupações às empresas devido à incerteza de encontrar os profissionais necessários. Naturalmente elas se esforçam em contratar a mão-de-obra local, mas que muitas vezes não está disponível. Além disso, ao instalar uma nova unidade em outro país, a empresa pode ter necessidade de ter o apoio dos funcionários da casa matriz.”

Utilizar o potencial local

No cantão de Zurique, atrás apenas de Zug no ranking dos lugares mais atraentes para as empresas, a promoção comercial está sob a responsabilidade do Departamento de Economia e Trabalho, também responsável pela colocação profissional. “Tentamos atender não apenas as necessidades das empresas, mas também os interesses econômicos globais da região e isso inclui também ajudar as pessoas que estão procurando um emprego”, afirma a assessora de imprensa, Irene Tschopp.

“Se recebemos, por exemplo, o pedido de autorizar a contratação imediata de informáticos de países terceiros, contatamos os provedores e eles avaliam se há disponibilidade de mão-de-obra especializada como, por exemplo, informáticos desempregados.”

As empresas se preocupam com a disponibilidade desses profissionais, mas ainda “há muitas delas que estão se instalando em Zurique ou expandindo suas instalações”, ressalta Irene, dando exemplos como as empresas Google ou Zimmer Biomet.

No cantão Basel-campo, o diretor da promoção comercial, Thomas de Courten, também deputado-federal do Partido do Povo Suíço (UDC), responsável pelo lançamento da iniciativa “Contra a imigração em massa.”. Segundo o político, a região não sofreu com a iniciativa. Questionado sobre o papel da livre circulação como critério para as empresas interessadas em se instalação no cantão, ele responde: “No contexto internacional, o regime de cotas para profissionais de países terceiros tem funcionado muito bem na nossa região.”

“Efeito de dissuasão”

“Finding great people is key to any business success” (Encontra as pessoas ideais é a chave do nosso negócio”) é o título de um video da agência Greater Zurich Area AG (GZA), responsável pela promoção comercial no exterior de Zurique, Zug e oito outros cantões, regiões e cidades. Ela ressalta especialmente o nível elevado de qualidade de vida, a confiança e também a atratividade da região para profissionais qualificados de todas as partes do mundo.

“Para as empresas que contatamos de forma proativa, a possibilidade de contratar os especialistas necessários é fator chave de promoção comercial. A iniciativa teve um efeito dissuasor, especialmente para as empresas com produtos de alto valor agregado, diz. “Não podemos mais prometer às empresas que elas receberão os vistos de trabalho necessário.”

“A confiabilidade, que na disputa entre os locais mais atraentes para fazer negócio, era o mais importante trunfo da Suíça, sofreu. Como ninguém sabe como essa iniciativa será aplicada e quais serão as condições de tributação das empresas, as empresas preferem aguardar por mais informações”, diz Sonja Wollkopf Walt.

Essa posição é demonstrada através dos números. No período de 2009 até 2013, a GZA e seus parceiros cantonais, regionais e municipais conseguiram promover a instalação de 464 empresas e, por tabela, permitir a criação de 4.165 postos de trabalho. Ou seja, uma média de 80 empresa com 830 postos de trabalho. No último ano foram 65 empresas com 457 postos de trabalho. A expectativa em 2015 é de um desenvolvimento semelhante.

“Ano de vacas gordas acabou”

Experiências semelhantes foram feitas por outras agências de promoção na parte oeste da Suíça. “Se tornou mais difícil atrair empresas”, explica Thomas Bohn, diretor da Greater Geneva Berne Area (GGBa), responsável pela promoção de seis cantões da Suíça francófona. Em 2014, ela conseguiu atrair 87 empresas com mais de mil postos de trabalho. “Foi um ano muito bom”, avalia Bohn, “mas estou seguro que passou o tempo de conseguir trazer grandes empresas com centenas de funcionários. Estamos agora vivendo um período de certa insegurança”. Dentre as razões: a iniciativa contra a migração em massa e a reforma da taxação de empresas. “Firmas que se interessam pela Suíça escolhiam o país exatamente pela questão da segurança e estabilidade”. Porém a Suíça continua sendo muita atraente em comparação internacional, adiciona Thomas Bohn, lembrando-se dos rankings internacionais, onde o país encontra-se geralmente nas primeiras posições. “Mas seguramente não somos o local que todos querem ir.”

Declínio na vinda de novas empresas

Em 2014: 274 empresas estrangeiros instalaram-se na Suíça. Elas trouxeram 780 postos de trabalho. Em 2013, esse número representou uma queda de 8%. O número de postos de trabalho criados caiu 20%.

A avaliação foi feita pelo Secretariado Geral da Conferência de Diretores Cantonais de Economia (VDK). O órgão avalia anualmente números gerais de instalação de empresas estrangeiras e também o número de postos de trabalho criados por ela.

Regula Matzek, assessora de imprensa da BaselArea, também diagnostica condições mais difíceis. “Empresas interessadas em vir para cá estão muito bem informadas sobre a situação atual do país e, por vezes, também alarmadas. Elas fazem perguntas críticas durante as nossas conversas e necessitam, dessa forma, de argumentos mais convincentes”, diz. Porém o interesse pelo país como local de investimento continua estável. A Suíça “é o país na Europa com a maior concentração de empresas especializadas na área de life-sciences”, assim como detém uma concentração importante de talentos profissionais como mostram os “funcionários de 165 países e os trabalhadores transfronteiriços oriundos de países como a Alemanha e França.”

Questionada sobre as consequências da limitação da livre circulação para a região econômica, Matzek mostra-se otimista e lembra uma citação de Severin Schwan, CEO da multinacional farmacêutica Roche, também baseada na Basileia. Em uma entrevista à rádio SRF sobre o tema da iniciativa contra a imigração em massa, o executivo afirmou “que soluções boas e pragmáticas serão encontradas”. “Eu compartilho dessa crença”, reforça Regula Matzek. Seu balanço é de “retração, mas não podemos falar de uma queda total.”

Adaptação: Alexander Thoele

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