Novo ‘status verde’ lançado para ajudar as espécies ameaçadas de extinção
A União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), com sede na Suíça, tem uma nova ferramenta padronizada globalmente para classificar as populações de plantas e animais. A pesquisadora da Universidade de Oxford, Molly Grace, descreve o potencial do “ status verde”, o novo instrumento desenvolvido para medir o progresso da conservação ambiental.
Atualmente, mais de um quarto (28%) das espécies estudadas pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN) estão ameaçadas de extinção, de acordo com a última edição da Lista Vermelha, publicada no Congresso Mundial de Conservação em Marselha, realizado em setembro. Ao todo, 38.543 espécies correm risco, do universo de 138.374 estudadas.
A Lista Vermelha da IUCN continua sendo uma ferramenta crucial para conservacionistas e tomadores de decisão. Mas, nos últimos dez anos, os cientistas desenvolveram um novo padrão global de “lista verde” para proporcionar a visualização de um quadro mais completo das ameaças às espécies em risco e também dos esforços de recuperação.
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SWI swissinfo.ch: Muitas pessoas já ouviram falar da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas. Agora, a IUCN introduziu um “status verde”. Qual é a diferença?
Molly Grace: A Lista Vermelha documenta o risco de extinção enfrentado por uma espécie. É uma ferramenta essencial que nos permite avaliar quais espécies precisam ser protegidas. No entanto, prevenir a extinção é apenas o primeiro passo. O objetivo final é que a espécie se recupere e se desenvolva para que possa desempenhar plenamente suas funções ecológicas. Graças ao novo “status verde”, podemos avaliar o impacto de programas de conservação passados e futuros e o nível de recuperação de cada espécie. É uma ferramenta complementar à Lista Vermelha e oferece uma perspectiva mais otimista sobre os esforços de conservação.
SWI: Como funciona a nova ferramenta?
MG: Uma espécie recebe uma pontuação de 0 a 100 que reflete o tamanho e a distribuição da população atual em comparação com a situação original antes da intervenção humana. Zero significa que a espécie está extinta, 100 significa que está totalmente recuperada.
Até agora, avaliamos 181 espécies. Mas, no total, são cerca de 160.000. Ainda temos muito trabalho a fazer.
SWI: Você pode dar um exemplo de como o status verde pode ser usado?
MG: O condor da Califórnia, por exemplo, é considerado um animal “em estado crítico de ameaça” e está na Lista Vermelha da IUCN [desde 1994]. No entanto, a avaliação de seu status verde mostrou que se os programas de conservação continuarem, veremos uma forte recuperação, até quase 75% de uma recuperação total.
O caso do panda gigante também é interessante. Na Lista Vermelha atualizada, ele passou do status “em perigo” para “vulnerável”. No entanto, existe o risco de que os esforços de conservação deixem de ser uma prioridade à medida que a espécie melhora. Graças a uma ferramenta como o status verde, podemos celebrar o sucesso e, ao mesmo tempo, alertar que, se pararmos nossos esforços, a situação se deteriorará dramaticamente.
SWI: O status verde também pode contribuir para a conservação de espécies ameaçadas de extinção na Suíça?
MG: Claro. Uma espécie que analisamos e que também está presente na Suíça é o lobo cinzento. Embora seja uma espécie de “menos preocupação” na Lista Vermelha, a escala do “Status Verde” aponta que a espécie desapareceu em várias regiões. Nossa análise mostrou que, sem esforços de conservação, haverá cada vez menos lobos cinzentos na Suíça e na Europa.
Mais de 38.500 espécies estão ameaçadas de extinção. Isso representa 28% das quase 140.000 espécies estudadas pela IUCN. Entre as espécies ameaçadas, 33% são mamíferos, 41% anfíbios, 14% aves, 33% corais e 34% coníferas.
Nos últimos anos, a situação piorou para espécies como o dragão de Komodo. Tubarões e raias também estão em declínio devido à pesca intensiva e à crise climática.
Em contraste, a situação de quatro espécies de atum pescadas comercialmente está melhorando, relata a IUCN.
Na Suíça, quase 60% das 1.000 espécies de insetos estão ameaçadas ou potencialmente ameaçadas, de acordo com o primeiro relatório governamental aprofundado sobre insetos, publicado em 7 de setembro.
SWI: Quais programas de conservação foram mais bem-sucedidos?
MG: Um bom exemplo de recuperação é a libélula de patas amarelas (Stylurus flavipes), inseto que precisa de água limpa. Devido aos rios e corpos d’água poluídos, houve um declínio acentuado dessa espécie. No entanto, regulamentos eficazes adotados nas últimas décadas na União Europeia ajudaram a melhorar a qualidade da água. A libélula de patas amarelas é agora considerada uma espécie totalmente restaurada.
Em geral, os programas de conservação mais bem-sucedidos são aqueles que envolvem o maior número possível de partes interessadas e levam em consideração as necessidades humanas. Se não conseguirmos encontrar um meio-termo entre os humanos e a vida selvagem, geralmente é a vida selvagem que sai perdendo.
SWI: É bem sabido que certas espécies, como o tigre siberiano, o rinoceronte de Sumatra ou o elefante asiático, estão ameaçadas de extinção. Que outras espécies também estão ameaçadas de que as pessoas podem estar menos conscientes?
MG: Um grupo em que as pessoas provavelmente não pensam são os fungos, que muitas vezes são ignorados pelos esforços de conservação. No entanto, eles desempenham um papel crucial no ciclo dos nutrientes.
Depois, há animais como o sapo de Darwin (Rhinoderma darwinii), a civeta de palmeira de Owston (Chrotogale owstoni) e o antílope da estepe (Saiga tatarica), caçados por seus chifres. Mesmo que as pessoas nunca tenham ouvido falar dessas espécies, não podemos fechar os olhos e desviar o olhar. Cada espécie desempenha um papel na manutenção do equilíbrio dos ecossistemas dos quais dependemos.
Adaptação: Clarissa Levy
Adaptação: Clarissa Levy
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