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“O Brasil tem um grande potencial”

Stephan Buser durante um encontro em Zurique. swissinfo.ch

Um suíço do estrangeiro, cuja principal função é abrir portas entre mercados e conectar pessoas.

Stephan Buser, diretor executivo da Câmara de Comércio Suíço-Brasileira, explica porque o Brasil continua sendo muito atrativo para as empresas helvéticas.

O encontro havia sido marcado para ocorrer no restaurante Old Fashion, em um bairro chique de Zurique e poucos metros distante do lago. O convite estava endereçado a contatos pessoais da Câmara de Comércio Suíço-Brasileira, mas algumas tinham vivo interesse de saber mais sobre o Brasil, como um jovem empresário de Genebra atuante no ramo da internet, com planos concretos de se instalar em São Paulo.

Radicado há quatro anos na maior cidade da América do Sul, Stephan Buser fala sobre os investimentos suíços no Brasil e conta também como um estágio de alguns meses na capital brasileira acabou o transformando em suíço do estrangeiro.

swissinfo.ch: Como está a situação atual das empresas e do investimento suíço no Brasil?

Stephan Buser: O que posso dizer é que, através dos números de exportação e importação, houve uma baixa no ano passado devido à crise, que também afetou o Brasil. Mas em geral podemos dizer que a tendência é de aumentar. Existem muitas empresas interessadas no Brasil. Sentimos que seu mercado interno continua crescendo.

swissinfo.ch: Quais foram as grandes empresas suíças que se estabeleceram mais recentemente no país?

S.B.: A mais nova foi a EMS Chemie, do qual participei inclusive da apresentação em São Paulo. Eles acabam de abrir uma fábrica para a produção de peças automotivas no Brasil.

swissinfo.ch: Como diretor executivo da Câmara de Comércio Suíço-Brasileira, o que o senhor costuma escutar dos executivos suíços sobre sua experiência no país? O chamado “Custo Brasil” continua sendo um tema?

S.B.: O Custo Brasil continua sendo um tema. Muitas pessoas falam da burocracia, das complicações para fazer passar as mercadorias. Percebemos também certas mudanças na Anvisa (n.r.: Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para o setor de saúde, que deve até se complicar nos próximos anos. Ela irá aumentar as exigências na produção não apenas de farmacêuticos, mas de todos os produtos que afetam a saúde de seres humanos e animais. Isso pode incluir também alimentos.

swissinfo.ch: O senhor concorda com a posição da ministra suíça da Economia, Doris Leuthard, de considerar o Brasil prioritário como membro do chamado grupo Bric de economias emergentes?

S.B.: Sim, concordo plenamente. O Brasil cresceu muitos nos últimos anos. Muitos dos seus habitantes saíram da pobreza. Por isso o potencial do país de continuar a crescer é muito grande. Mas eu sempre digo aos interessados que nem todo produto pode ser vendido no Brasil, pois alguns deles só têm um pequeno nicho do mercado. O conselho que dou aos empresários é de estudar bastante para saber se seu produto terá aceitação no país pelo preço que eles estão imaginando, incluindo também os custos de importação.

swissinfo.ch: Uma dica a investidores suíços: com seu conhecimento de mercado, o que as empresas suíças poderiam levar ao Brasil?

S.B.: Um setor que nós, da Câmara de Comércio Suíço-Brasileira, acreditamos que vai crescer bastante no Brasil é o de tecnologias ambientais. Por exemplo, estamos organizando nesse momento juntamente com a Osec (n.r.: Agência Suíça de Promoção do Comércio Externo) um estande suíço em uma feira de meio-ambiente. O mercado ainda é pequeno, mas tem um enorme potencial.

swissinfo.ch: Quais são as principais atividades da Câmara de Comércio Suíço-Brasileira?

S.B.: A Câmara tem duas grandes funções: em primeiro lugar, trabalhar para as empresas instaladas no Brasil.

swissinfo.ch: São quantas empresas? São todas suíças?

S.B.: Temos duzentos associados. Eles vão de grandes empresas como a Nestlé, Roche ou Sulzer, mas incluem também empresas de uma pessoa só. Nem todas elas são suíças. Algumas têm 100% de capital brasileiro ou capital misto. Alguns associados são brasileiros, mas têm interesses nas empresas suíças como é o caso de escritórios de advocacia.

Então, voltando às nossas atividades, organizamos para os associados encontros que permitem que eles façam “networking” entre eles ou com novos parceiros de negócios. Também temos almoços com palestrantes, pessoas geralmente de grande relevância. Por exemplo, na última assembleia geral, convidamos José Nêumanne, um grande jornalista do diário Estado de São Paulo. Fazemos também seminários e comitês de trabalho, que pode ser no ramo jurídico, marketing, recursos humanos ou de meio ambiente. O objetivo é manter o nosso público o mais bem informado possível sobre o que está ocorrendo no país. O setor jurídico é bastante ativo, pois as leis brasileiras mudam constantemente. Há sempre novas medidas provisórias.

Também apoiamos a entrada de novas empresas no mercado brasileiro. Nesta função estamos montando pavilhões suíços em feiras onde sentimos grande potencial para as empresas suíças. O apoio da Cãmara de Comércios Suíça-Brasileira vai da locação do espaço na feira, organização da montagem do estande com um design atrativo, coordenação do catering, da limpeza e da segurança no estande, além de apoiar as empresas expositoras de forma que eles possam participar na feira sem maiores preocupações.

Na mesma direção vai nosso apoio às pequenas e médias empresas da Suíça quando eles entram em contato conosco (ou através da OSEC) para pedir uma pesquisa de mercado e lista de potenciais parceiros profissionais como distribuitores.

swissinfo.ch: As empresas brasileiras se interessam em exportar para a Suíça?

S.B.: Sentimos que muitas empresas no Brasil nem pensam em exportar. O mercado interno para elas é tão interessante, que isso não faz parte dos seus planos. Quanto à questão do conhecimento, minha opinião é que muitas delas desconhecem as potencialidades do mercado suíço. É por isso que a Osec faz eventos a cada ano no Brasil, em várias cidades, para promover a Suíça como um possível portal de entrada para a Europa. Com sua localização central, as facilidades de instalação e as boas universidades, a Suíça é atraente como primeiro local na Europa para o investidor se instalar se quiser atingir os mercados europeus. Um dos exemplos é a Vale, uma das maiores empresas brasileiras, que instalou sua sede europeia na parte francesa da Suíça.

swissinfo.ch: No lado pessoal, como o senhor foi parar no Brasil?

S.B.: Minha primeira experiência no Brasil foi uma viagem de férias para acompanhar um grupo de amigos. Foi quando me apaixonei pelo país. Então decidi fazer por lá um estágio quando ainda estava na faculdade – fiz a Escola de Hotelaria de Lausanne. Me esforcei muito para conseguir uma vaga e fui então à Brasília, trabalhar no Hotel Naoum. Eu gostei muito dessa cidade pelo seu planejamento e arquitetura. Depois, além de me apaixonar pelo país, também me apaixonei por uma mulher que conheci por lá. Ela se tornou a minha esposa, o que fez com que as minhas ligações com o Brasil se tornassem ainda mais fortes.

swissinfo.ch: Então o senhor se estabeleceu definitivamente?

S.B.: Não. Eu retornei à Suíça, onde nós também nos casamos. Depois trabalhei sete anos em uma empresa, mas sempre pensando em retornar ao Brasil. Foi quando surgiu uma oferta de emprego, comunicada pela Câmara de Comércio Suíço-Brasileira, em um parque de diversões no interior de São Paulo. O diretor-geral era suíço e procurava alguém para administrar os restaurante, lanchonetes e quiosques desse parque. Assim pude retornar. Foi uma boa escola não apenas pelo fato de chefiar uma equipe muito maior do que na Suíça e também para aprender um pouco mais sobre a cultura brasileira, tão diferente da nossa. Agora já estou há quatro anos no Brasil.

swissinfo.ch: Quais são as vantagens e desvantagens de viver no Brasil?

S.B.: Os brasileiros, de uma forma geral, são muito mais abertos. Acho que a temperatura do país leva as pessoas a serem mais calorosas e receptivas do que na Suíça. Eu acho que isso tem realmente a ver com o clima, pois eu mesmo mudei bastante quando fui viver no Brasil. Porém, as desvantagens são também os extremos: os brasileiros são um pouco menos organizados e rígidos, o que pode incomodar alguns suíços recém-chegados. As coisas não acontecem naquela pontualidade que a gente conhece. E isso não é só o problema do trânsito em São Paulo, mas por uma questão cultural. Mas a gente acaba se adaptando a essa cultura e aceitando as diferenças.

Alexander Thoele, swissinfo.ch

Stephan Buser é formado em economia, com bacharelado em administração internacional de hotéis e restaurantes pela Escola Hoteleira de Lausanne, ele vive há quatro anos no Brasil, é casado e tem dois filhos.

A Câmara de Comércio Suíço-Brasileira foi fundada em 1945 com o objetivo de intensificar as relações comerciais de empresas situadas nos dois países. O corpo executivo é formado por quatro profissionais. A diretoria, cuja presidência atual é de Christian Hanssen (diretor da empresa Helamin do Brasil), tem como membros representantes de diversas empresas suíças e brasileiras.

Dentre os serviços oferecidos: consultas comerciais, pesquisas de mercado, procura de parceiros, programação de visitas, organização de eventos, coordenação de contatos, feiras comerciais e cobrança.

Ela publica também uma revista trimestral em dois idiomas (português e inglês) com uma tiragem de cinco mil exemplares, além de manuais, catálogos e um relatório anual.

O site oferece também informações úteis, seção de classificados, notícias econômicas e um fórum de discussão.

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