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O brilho das joias brasileiras no mercado internacional

Kelly Amorim no stand da Feira de Basileia em 2014. Lourdes Sola

Durante oito dias a Baselworld reuniu 1400 expositores e recebeu cerca de 150 mil visitantes – entre negociantes e amantes da relojoaria e da joalheira. O fim da feira mais luxuosa do mundo marca o começo de novos negócios. Afinal, mais de 40 países mostraram suas peças. Dentro ou fora dela, o design brasileiro brilha. Não são poucos os designers que fazem sucesso internacional, como Carla Amorim, Mario Pantalena, Antonio Bernardo, entre outros.

Em geral, as peças são consideradas mais leves, modernas e seduzem um público consumidor com vida social e econômica ativas. Uma mulher aos 60 anos hoje tem uma qualidade de vida diferente de suas antepassadas. Em geral, é nessa mulher que os estilistas pensam. Cores, movimento e mistura de materiais dão o tempero brasileiro às peças usadas por mulheres no mundo inteiro.

Dupla dinâmica

Dentro da Baselworld, a designer Carla Amorim exibiu peças em 94 metros quadrados – o maior stand brasileiro. Ela nunca vai às feiras internacionais: enquanto cria suas coleções em Brasília, a irmã, Kelly, cuida dos negócios.  Baseada em São Paulo, Kelly, formada em administração, roda o mundo para levar a marca da irmã, que já entrou em 19 países. “As coleções são as mesmas para os diferentes países”, explica Kelly.

Carla prefere levar uma vida mais pacata ao lado do marido e dos dois filhos, concentrada na criação de peças e na mistura de materiais. Suas coleções usam diferentes pedras e ouro – amarelo, rosa ou negro. De acordo com a irmã Kelly, administradora e porta-voz, Carla não tem preferência por nenhuma pedra. “Ela tem um projeto agora de criar com a pedra bruta, mas é um trabalho para mais alguns anos”, explica. Para começar a desenvolver uma peça é preciso antes fazer vários testes com os fornecedores de pedras e lapidários.

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Niemayer, natureza e religião

As fontes de inspiração passam pela arquitetura, natureza e fé. A designer de 49 anos nasceu em Minas Gerais, mas cresceu em Brasília. Os traços marcantes da arquitetura de Oscar Niemeyer na capital brasileira não poderiam passar despercebidos, especialmente as curvas – definidas pelo arquiteto como seu centro de atenção. Carla inspirou-se no Congresso Nacional, por exemplo, para criar o anel Brasília em ouro com um diamante no centro.  Cataratas, praias , rios e florestas inspiram a estilista, que cria peças leves e coloridas com toque muito brasileiro.

Uma de suas coleções é a Sagrado, mas a dedicação ao tema não tem nada a ver com o mercado consumidor. Carla é católica praticante e muito fervorosa. “Ela vai à missa todos os dias e dedica uma parte da coleção ao tema religioso”, explica Kelly. A pulseira terço, em ouro rosa e diamantes, ou mesmo o pingente espirito santo são alguns dos exemplos dessa coleção de fé.

A inovação das Amorins não se resume à criação de peças. Elas são a primeira geração da família a trabalhar com joias. Um caso atípico. No mercado de joalheria, em geral, as empresas são familiares e atravessam várias gerações. Desde 1992 as duas se dedicam ao que sabem fazer.

Carla cria e Kelly vende. As peças, espalhadas pelo mundo em várias lojas multimarcas, são compradas tanto pelas mulheres anônimas como por celebridades. Recentemente, elas foram surpreendidas pela ousadia de suas vendas. Viram Michele Obama com um brinco  Carla Amorim. Suas peças já circularam com Lupita Nyongo – a vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante com” 12 anos de escravidão” – , Jennifer Lopez, Adriana Lima e muitas mais.

Divulgação

No mercado suíço

O designer Mario Pantalena, da Gioielli Pantalena, não participou da feira de Basileia, mas tem feito sucesso na Suíça. Todos os anos, o designer apresenta suas peças em pequenos encontros em Zurique. “Os clientes sempre voltam e trazem mais alguém”, explica. Sua meta é mesmo criar para pequenos grupos e manter um trabalho mais personalizado.  Peças únicas para clientes fieis. “Seria como um vestido de noiva, por exemplo. A pessoa quer decidir cada detalhe e quer que aquele modelo seja único”.

Ele estudou arquitetura, mas logo percebeu que preferia usar o conhecimento de desenho na joalheria, seguindo a tradição da família. Seu avô, Francesco, chegou a São Paulo em 1939 como muitos outros imigrantes, mas tinha um ofício e dedicou-se ao que mais gostava de fazer: joias. Era o joalheiro dos Matarazzo, família que teve uma grande participação na história de São Paulo, inclusive com a criação do Museu de Arte de São Paulo -MASP. “Já modificamos joias de família feitas pelo meu avô”, conta.

Durante a feira de Basileia, a Carla Amorim fechou contrato com a China.  A grande meta que tinham para a feira era o mercado asiático. “Negociamos com duas grandes empresas de Pequim e de Xangai”, disse Kelly.  Se os especialistas que analisam o mercado de relojoaria e joalheria estiverem certos, elas terão sucesso. As marcas de alto luxo tiveram queda nas vendas naquele país, enquanto que as médias continuam a crescer.  A política anticorrupção implementada pelo governo chinês tem denunciado os funcionários que ostentam as luxuosas marcas.

As  peças das brasileiras, que variam de 5 a 10 mil dólares, podem encontrar consumidores. “Em setembro iremos para a feira de Hong Kong”, diz Kelly.

Até lá, a  outra meta da empresa é reforçar a marca na Europa. “Há perspectivas de bons negócios, mas vamos fazer um dia de cada vez”, diz.

Além da China, suas peças estão no Canadá, Estados Unidos, Venezuela, Brasil, Inglaterra, Alemanha, Portugal, Turquia, Rússia, Ucrânia, Azerbaijão, Cazaquistão, Emirados  Árabes, Kuwait, Hong Kong,  Japão e Filipinas.

Além da Carla Amorim, duas joalherias brasileiras participaram da feira:

A Brumani e a Vianna Brasil.

Em 2015, a Baselworld será  de 19 a 26 de março.

Discrição e brincos menores

Depois de estudar gemologia em Vincenza, na Itália, Mario nunca mais parou e é hoje a terceira geração à frente dos negócios da família. Tem uma equipe e prefere se dedicar aos clientes e ao design. “A joalheria brasileira é diferente da europeia”, explica. De acordo com ele, a europeia é mais pesada e salienta as pedras e a qualidade delas apenas. “O estilo brasileiro compõe outros materiais e ressalta o desenho da peça, com movimento e leveza”, diz.

Ele gosta muito de trabalhar com os berilos, safiras, rubis e turmalinas. Agora está pensando em trazer mais coral para suas coleções. “Estou trabalhando com um lapidário italiano o coral e a turmalina e acho que vai ficar lindo”, conta.

Simpático, extrovertido e culto, a cada exposição na Suíça Mario vai descobrindo o gosto das mulheres alpinas, que têm estilo diferente do das brasileiras – pelo menos entre suas clientes. “Há uma diferença de clima e de cultura. A mulher suíça é muito discreta e mais tradicional no gosto com as joias”, conta. De acordo com o estilista, em geral não usam brincos com mais de 3 centímetros de comprimento – no Brasil é normal peças de 6 centímetros. Além do estilo pessoal, o  inverno contribui para a escolha de peças menores. “As pessoas passam muitos meses com gorros e casacos pesados, o que dificulta o uso de peças muito grandes no dia a dia”, diz.

Divulgação

Entre pérolas e diamantes

De acordo com Mario, o uso de pérolas, por exemplo, é muito maior entre as suíças do que entre as brasileiras, mesmo entre as mais jovens. Uma outra observação do designer é quanto ao uso de pedras. Embora gostem de algumas coloridas, ainda preferem os diamantes, quase sempre com platina – usam muito pouco o ouro amarelo.

Conhecedor de pedras, Mario se sente muito confortável para atender esse público exigente. “Querem saber a procedência da pedra, perguntam sobre a lapidação e  avaliam o acabamento da peça. Elas conhecem joalheria”, diz.

Como todos os designers, Mario tem coleções nomeadas. Isso é muito importante para o mercado brasileiro: comprar a nova coleção. “As europeias não ligam para isso. Se gostam da peça não importa se é antiga ou não”.

Um fato curioso é que as europeias seguem uma espécie de protocolo para comprar joias. Há joias mais tradicionais que elas querem  ter antes de comprar, por exemplo, uma peça com rubi. “É importante ter um solitário, depois o bracelete de diamantes, por exemplo. Elas pensam nisso”, conta. As brasileiras são mais abertas e não seguem essas tradições.

Os materiais e os designs têm mudado a joalheria, mas para Mario a grande mudança tem um nome pequeno: China. “A entrada da China no mercado mudou muito as regras. A joia autoral sentiu muito e é preciso encontrar um mercado”, explica. O designer parece ter encontrado o dele e atende com muito estilo à  exuberância das brasileiras e à discrição das suíças.

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