O campeão mundial dos “filehosters” vem da Suíça
Rapidshare se transformou em pouco tempo na campeã mundial dos serviços de alojamento de arquivos. O site da pequena empresa de Zug é o 16° site mais popular na internet.
Porém o sucesso também tem seu lado negativo: ela cada vez é mais acusada de promover a pirataria.
O site é simples, sem textos, imagens ou banners e até lembra um pouco um motor de procura. Porém o formulário não serve para escrever uma palavra, mas sim vasculhar dados no próprio computador. Poucos usuários diriam que, por traz de tanta sobriedade, se esconde um universo de mais de 50 milhões de arquivos digitais. E eles estão disponíveis a qualquer pessoa. Só é necessário achar os endereços.
Um teste simples pode ser feito ao colocar os termos “Marisa Monte”, “Infinito ao meu redor” e “rapidshare” na lacuna de busca do Google. Objetivo: encontrar o último cd da popular cantora brasileira. Em segundos o motor oferece mil resultados, nos quais estão listados blogs e outras páginas. Todas indicam um link do arquivo comprimido, no qual estariam as faixas do disco em formato mp3. “Teoricamente” o usuário pode baixá-los, mas comete com isso uma infração. Além disso, muitos dos links não funcionam ou levam a páginas suspeitas, nas quais a presença de vírus não pode ser excluída.
Em todo caso, essa é uma das funções que explica a popularidade da RapidShare no mundo dos internautas. Obviamente seus proprietários não tinham intenção de incentivar a pirataria, mas o efeito colateral é reconhecido. Nas estatísticas, o endereço web da empresa está na 16° posição dos sites mais visitados no mundo – apenas abaixo de gigantes como Google, Yahoo, Youtube, Facebook ou Wikipedia – segundo o portal de análise Alexa.com.
O invejoso ranking mostra que Rapidshare se transformou na campeã mundial dos provedores de hospedagem de arquivos. Impressionante também é a técnica que está por traz disso: seus servidores têm a capacidade para armazenar atualmente 10 Petabytes (10.4 milhões de Gigabytes), o que corresponde ao conteúdo de aproximadamente 2,2 milhões de DVDs. Mais de 15 milhões de usuários acessam o site diariamente.
Ascensão meteórica
O que poucos internautas sabem é que Rapidshare é uma empresa suíça. Sua sede está localizada no quinto andar de um prédio comercial, cercado de oficinas, pequenas indústrias e outros escritórios anônimos, na zona industrial de Cham, um pequeno vilarejo no cantão de Zug.
Segundo a Wikipédia, a história de sucesso da Rapidshare começou em 2001 como um simples site baseado na Alemanha e mantido pela empresa RapidTec, com sede em Kenzigen, sul da Alemanha. Seu proprietário, Christian Schmid, mantinha também um fórum de discussões Rapidforum.
A idéia surgiu a partir da necessidade. “Tudo começou quando Christian precisou enviar um grande arquivo por internet a um amigo, o que era bem complicado na época. Foi aí que ele programou a base da Rapidshare. E quanto mais os amigos utilizavam-na, mas ele percebia que o serviço poderia ter uma utilidade para outras pessoas. Assim nos tornamos uma empresa”, explica Bobby Shi-Fun Chang, diretor executivo da Rapidshare e o “rosto” da empresa para fora.
Em um curto espaço de tempo, Rapidshare aumentou a capacidade dos seus servidores até tirar a proibição de fragmentação de arquivos para upload. Em outubro de 2006, Schmid transferiu sua empresa para a Suíça, onde a rebatizou de RapidShare AG. Por não estar cotada na bolsa de valores, ela não precisa informar o faturamento. O alemão também é extremamente avesso à imprensa e nunca dá entrevistas. Todos os contatos com jornalistas são feitos através de uma agência de relações públicas localizada na Alemanha.
O segrego é a simplicidade
O que explica o sucesso de Rapidshare? A resposta está em um modelo que aposta na simplicidade de manejo do sistema. Para o uso gratuito, qualquer pessoa que tiver um computador e acesso à internet pode fazer o upload de um arquivo com até 200 MB de capacidade. Se este for maior, é possível cortá-lo infinitamente em vários pedaços. Não existe limite para número de arquivos colocados nos servidores localizados na Alemanha. Cada arquivo recebe então um link, que pode ser distribuído a amigos ou clientes ou mesmo publicado em algum fórum da internet. Se ninguém baixá-los em 90 dias, eles são deletados.
Baixar arquivos também é gratuito. O usuário “free” clica simplesmente no link onde está o arquivo e, se este for correto ou se existir ainda, cai em uma lista de espera. Ela pode durar de segundos até minutos. A velocidade é limitada e apenas um arquivo pode ser baixado por vez.
Com tanta facilidade, surge naturalmente a questão: como Rapidshare ganha dinheiro? Ao perceber a demanda crescente por espaço web para arquivos, a pequena empresa criou as contas “Premium” para usuários pagantes. “Esse pacote oferece algumas vantagens como permitir ao usuário fazer o upload de vários arquivos ao mesmo tempo, ter arquivos maiores, administrá-los sobre nossos servidores, marcá-los para que seus clientes ou amigos possam baixá-los mais rapidamente”, afirma Chang.
O site dá informações adicionais sobre os serviços “extra” para os pagantes: tamanho máximo de 2 GB para cada arquivo, não supressão dos arquivos que não são baixados após 90 dias, maior velocidade, 80 GB de tráfego por mês ou também a possibilidade de baixar de forma ilimitada arquivos. Tudo isso por uma assinatura de 4.50 euros (14 reais) por três dias a 55 euros (167 reais) por um ano.
O problema da pirataria
O modelo de sucesso da pequena empresa de Zug também tem um revés: as vitórias crescentes da indústria cultural contra a pirataria através do modelo de Peer-to-Peer (do inglês: Ponto-a-Ponto) fez com que muitos internautas se voltassem para os serviços oferecidos por empresas como a Rapidshare para oferecer arquivos pirateados ou baixá-los.
A empresa defende-se da crítica crescente dos proprietários de direitos autorais. Em primeiro lugar, ela afirma que não sabe o que é colocado nos seus servidores. “Por motivos de proteção de dados não podemos e nem queremos controlar esses dados. O que posso garantir é que qualquer coisa que possa ser gravada em um computador, pode ser colocada também nos nossos servidores”, defende-se o diretor-executivo.
O principal argumento de defesa está no fato da Rapidshare não oferecer sistema de busca para seus arquivos. Quando um usuário faz um upload, ele recebe um link extenso que não pode ser simplesmente adivinhado. Porém o que acontece se este endereço é publicado em algum blog na net? “Então o usuário está ferindo as nossas regras de uso e pode ter seu arquivo deletado”, replica Chang.
Frente à pressão crescente da indústria cultural e de software – Rapidshare já foi sofreu processos e derrotas na justiça – ela foi obrigada a colaborar mais estreitamente com os detentores dos direitos autorais. “Temos aqui um departamento que trabalha em conjunto com esses proprietários para deletar os links que levam a arquivos ferindo os direitos autorais”, reforça Chang e acrescenta. “Não apenas deletamos arquivos à pedido, mas também o fazemos de forma preventiva.”
Falta de clareza legal
O enorme problema causado pela pirataria é reforçado pelo fato da pequena empresa suíça viver ainda a insegurança legal. “As leis não dizem claramente quais são as nossas obrigações. Para hospedagem de arquivo, que é o que fazemos hoje, ainda não existem regras específicas”, reclama. Mas na falta delas, o contato com a indústria é imprescindível. “Estamos procurando clareza para o nosso negócio. Mas o mais importante é trabalhar e cooperar com os proprietários dos direitos autorais”, avalia Chang.
Teoricamente seria possível para Rapidshare instalar seus servidores em outro país de controles mais frouxos. Mas como a internet não conhece fronteiras físicas, a introdução de novas leis de combate à pirataria nos países ou em nível europeu não resolveria o problema. “É óbvio que poderíamos instalar nossos servidores até em Tuvalu. Por isso é que essa questão é tão complicada. Será improvável que a mesma lei seja aplicada em todos os países. Cada tribunal, cada país, analisa de forma distinta o problema.”
Enquanto não encontra uma solução, a empresa de Zug vai à ofensiva. Há pouco ela criou um site especial, batizada de “Rapidgames”, para oferecer jogos no sistema de teste e também gratuitos. Porém dessa vez em comum acordo com os fabricantes.
A idéia não representa uma mudança na direção dos negócios, mas simplesmente a tentativa de se transformar em uma plataforma legal de distribuição. “Gostaríamos no futuro de poder fornecer trailers, vídeos, patches para programas de computador, todos eles arquivos que estarão livres à disposição dos usuários”. Porém Chang admite que a concretização da idéia depende da vontade de indústria de cooperar com os serviços de alojamento.
swissinfo, Alexander Thoele
– A empresa RapidShare AG foi fundada em Cham, um pequeno povoado do cantão de Zug (centro da Suíça), em outubro de 2006.
– Ela não está cotada na Bolsa de Valores da Suíça.
– Ela está sediada no vilarejo de Cham, cantão de Zug (centro da Suíça).
– Ela é líder mundial do setor serviços de alojamento de arquivos.
– Seu site é o 16° mais visitado no mundo segundo alexa.com.
– Número de funcionários: 41
– Acessos diários: 15 milhões de usuários
– Número de arquivos nos seus servidores: aproximadamente 50 milhões
– Capacidade dos servidores: 10 Petabytes (10.4 milhões de Gigabytes), o que corresponde ao conteúdo de aproximadamente 2,2 milhões de DVDs.
– Faturamento: não publicado (analistas avaliam o faturamento em 5 milhões de euros).
– Diretor-executivo: Bobby Shi-Fun Chang
– Conselheiro administrativo: Christian Schmid
– Outros sites de alojamento de arquivos: EasyShare e MegaUpload
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