Hüseyin Yavaş (primeiro da esquerda) e seus amigos com o lendário fusca azul. Brugg, cantão da Argóvia, por volta de 1964.
Privatfotografie: Familie Yavaş
Menos conhecida do que a imigração italiana ou espanhola, a imigração turca também contribuiu para o desenvolvimento econômico da Suíça no pós-guerra. Uma exposição de fotos familiares apresenta a vida dessas pessoas sob uma nova ótica, que demonstra o acolhimento e a discriminação sofrida no país de acolho.
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Como jornalista baseada em Berna, estou particularmente interessada nas questões sociais, mas também política e mídias sociais. Trabalhei anteriormente na mídia regional, dentre elas, no Jornal do Jura e na Rádio Jura Bernense.
Thomas Kern nasceu na Suíça em 1965. Após se formar como fotógrafo em Zurique, começou a trabalhar como fotojornalista em 1989. Fundou a agência Lookat Photos em 1990. Kern ganhou duas vezes o prêmio World Press Award e recebeu várias bolsas de pesquisa na Suíça. Seu trabalho é tema de exposições e suas imagens encontram-se em várias coleções.
“Eu não queria encontrar ninguém antes de partir. Minha família não teria me deixado ir”.
Hüseyin Yavas conta sua história de migração da Turquia para a Suíça. Para ele foi sinônimo de libertação, mas também tristeza. Ele é um dos milhares que, nos anos 1960, responderam ao convite das grandes empresas em busca de mão-de-obra.
Meados da década de 1960. Ibrahim Kıran e Hüseyin Yavas na fundição Georg Fischer AG, Brugg.
Privatfotografie: Familie Yavaş.
Final da década de 1960. Os irmãos mais velhos e primos de Cahit Yurtsever costumavam visitar os pais no trabalho. Brugg.
Privatfotografie: Familie Yurtsever.
Ibrahim Kıran no alojamento da empresa Georg Fischer. Brugg (cantão da Argóvia), 1964.
Privatfotografie: Filiz Kolcu.
Cevdet e Oya Recan esquiando. 1972
Privatfotografie: Familie Recan.
Início da década de 1980. A família Sarkany, vizinha dos Yavas, em uma excursão às Cataratas do Reno, no cantão de Schaffhausen, com amigos.
Privatfotografie: Familie Sarkany
Hüseyin Yavas mostra sua força na piscina. Brugg (cantão da Argóvia), por volta de 1964.
Privatfotografie: Familie Yavaş
Ayse Yavas, quando foi enviada pela primeira vez a sua tia Sude. Istambul, 1971.
Privatfotografie: Familie Yavaş
Nesteren Tural comemora seu 10º aniversário com seus amigos. Birr (cantão da Argóvia), 1982.
Privatfotografie: Nesteren Tural.
Gökşin Varan no bairro em que vivia em Birr, 1982.
Privatfotografie: Familie Varan.
Descansando no caminho para a Turquia, década de 1970.
Privatfotografie: Familie Yeşiltepe
A família Yavaş no trem para Istambul, por volta de 1980.
Privatfotografie: Familie Yavaş
Elif e Peri La Roche antes da travessia de barco para Igoumenitsa, a caminho de Istambul. Ancona, Itália, 2015.
Familie Yavas
A família Recan celebra o Natal, que seus vizinhos na Turquia sentiram ser uma apropriação indevida de sua identidade cultural. Birr, 1990.
Privatfotografie: Familie Recan
A família Yurtsever construiu um edifício de vários andares. Dogancılı, Mar Negro, 1982/1983.
Privatfotografie: Familie Yurtsever.
Nesteren no jardim de infância em Birr, 1976.
Privatfotografie: Nesteren Tural
Ayse Yavas em um acampamento escolar no secundário 2/3. 1983.
Privatfotografie: AyseYavas
Ercan Recan no 3º ano da escola. Windisch, 1990.
Privatfotografie: Ercan Recan
Margrit Zimmermann e Hamdi Ulukurt em uma festa de dança. Na parte de trás da foto: “Na esperança de um futuro comum feliz”. Baden (cantão da Argóvia), 1964.
Privatfotografie: Margrit Zimmermann
O casal Ümmügül e Muharrem Varan na Turquia. Babaeski, Kırklareli, 1973.
Privatfotografie: Familie Varan
Meryem e Hüseyin Yavaş se casam pela segunda vez. A Suíça não reconheceu sua certidão de casamento na Turquia. Brugg, 1971.
Privatfotografie: Atiye und Ahmet Yavaş
Sob o título “E a vida começou”, a artista reúne fotografias, documentos e áudios. Os entrevistados contam suas experiências sobre vários temas: trabalho, escola, lazer, amor e outros. Além das histórias pessoais, o trabalho de Ayse Yavas e da etnóloga Gaby FierzLink externo lança luz sobre um capítulo pouco conhecido da imigração.
Indesejado, mas recrutado
Hüseyin Yavas decidiu imigrar à Suíça por acaso. O turco chegou em 1963 à Brugg, um vilarejo no cantão da Argóvia, para trabalhar na indústria. Nos anos seguintes, encontrou trabalho para outros 70 compatriotas em empresas do cantão. Sua história é um fio condutor comum na exposição.
Ela também destaca a situação dos migrantes turcos, que só poderiam entrar na Suíça se tivessem um emprego ou visto de residência. Ao contrário da Alemanha, que abriu as portas para centenas de milhares de turcos já em 1961, a Suíça nunca concluiu um acordo de recrutamento com a Turquia.
Entretanto, a Suíça havia assinado acordo semelhante com a Itália (1946) e com a Espanha (1961). A cultura e a religião eram estrangeiras demais, argumentaram os cidadãos contrários.
“Os trabalhadores turcos não eram oficialmente procurados pela Suíça, mas foram recrutados por empresas de forma direcionada”, revelam Yavas e Fierz.
Gaby Fierz entrevistando Ayse Yavas.
A opinião pública também não parecia favorável à chegada desses imigrantes. Muitos falavam na época do medo de uma “superpopulação estrangeira” ou do “problema turco”. Essa imagem não melhorou nos anos 1980, quando cada vez ativistas e curdos receberam asilo no país. Eles foram então descritos como “refugiados de araque”.
Entre recepção e discriminação
No entanto, os suíços também se mostraram acolhedores. “Muitos conseguiam até alugar um quarto em casas de famílias suíças”, diz Meryem Yavas, esposa de Hüseyin.
Ela se sentia acolhida. Porém quando casal decidiu ter filhos, porém, a situação mudou: “Não temos espaço para crianças”, avisaram os senhorios.
Na época, encontrar um apartamento também não era fácil para estrangeiros. As experiências de racismo não eram incomuns. “Alguns proprietários não escondiam a rejeição: “Estrangeiros não são bem-vindos”, se escutava na época.
Crianças separadas dos pais
Ayse Yavas e Gaby Fierz também lembram das experiências de separação em algumas famílias. Na Suíça, muitos imigrantes não conseguiam encontrar creches para seus filhos enquanto trabalhavam, pois eram muito caras. Portanto, nos anos 1970 e 1980, muitas delas foram deixadas com suas famílias na Turquia.
As crianças turcas também sofriam rejeição nas escolas suíças. Uma entrevistada conta que ficou sob suspeita de ter roubado um colar desaparecido. Quando descobriram o verdadeiro autor do crime, ninguém se desculpou.
Bem integrados
“Eles eram mais atraentes, bem cuidados e elegantes que os suíços”, lembra Margrit Zimmermann, que se casou com Hamdi Ulukurt, um imigrante turco.
Ela se lembra da troca de olhares na piscina, o ponto de encontro dos jovens no vilarejo. Embora os casamentos binacionais representem agora cerca da metade de todos os celebrados no país, na época eram uma raridade.
Apesar da discriminação, os turcos conseguiram se integrar na Suíça. Atualmente, 130 mil migrantes originários do país e seus familiares vivem na Suíça. A metade se naturalizou.
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