Ouro “limpo”: como a Suíça pode estabelecer novos padrões no beneficiamento
A Suíça é um dos principais atores no comércio internacional de ouro: não só por refinar a maior parte do metal precioso no mundo, mas também por ser o principal exportador. Mas como garantir sustentabilidade na mineração e proteção dos direitos humanos?
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Jornalista multimídia, iniciou sua carreira na Agence France-Presse (AFP), cobrindo a Primavera Árabe. Também trabalhou como correspondente da Associated Press em Istambul antes de se mudar para a Suíça, em 2016. Fala inglês e espanhol e tem raízes suíças. Adora viajar e conversar em italiano, árabe e francês, de preferência tomando um café. Nada de chá, for favor!
“Essa posição de poder global no mercado exige também responsabilidade. Afinal poucas pessoas sabem que a mineração de ouro não está isenta de riscos e problemas sociais ou ambientais”, declarou Mark Pieth, professor de direito criminal da Universidade de Basileia, em um artigo publicado recentemente pela swissinfo.ch.
Neste sentido, muitos especialistas consideram que a Suíça não atende as expectativas. Apesar dos esforços e discrição notória, as refinadoras instaladas no país são muitas vezes criticadas pelas ONGs de defesa dos direitos humanos e ambientais devido à pegada ambiental da extração de ouro, às condições de trabalho perigosas nas minas e à falta de transparência ao longo da cadeia de fornecimento.
swissinfo.ch cobre o tema “ouro”, pois é uma das matérias-primas, cuja comercialização está cada vez mais regulada, tanto no país como internacionalmente. A “Iniciativa de Negócios ResponsáveisLink externo” foi lançada para incentivar que as multinacionais baseadas na Suíça levem em conta o impacto que suas operações nos países em que atuam e de responsabilizá-las pelas faltas cometidas.
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As origens sombrias do ouro refinado na Suíça
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Por vezes, porém, o ouro é de proveniência duvidosa. O governo reconhece o risco, como mostra um relatório publicado recentemente no qual manifesta preocupação quanto à exploração dos garimpeiros e faz diversas recomendações às empresas suíças ativas no setor. As refinarias suíças processam anualmente 70% do ouro não refinado garimpado no mundo. Quatro dos nove atores mais importantes na…
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Em 2016, o ouro refinado na Suíça compunha mais de um quarto do total de suas exportações, superando até mesmo as indústrias farmacêuticas. Mas você não saberia isso na classificação oficial do governo. A administração federal aduaneira anunciou recentemente que a indústria farmacêutica foi o maior motor para as exportações suíças em 2016. Apesar da…
O ouro é um dos itens mais importante das importações e exportações do país. Segundo os números da alfândega suíça de 2018, metais e pedras preciosas representaram 25,2% das importações e 22,4% das exportações, logo depois de produtos químicos e farmacêuticos (34,3%). O comércio de matérias-primas representa aproximadamente 4% do PIB suíço.
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Cooperativa de mineiros substitui garimpo clandestino
De acordo com Pieth, a Suíça se beneficiou da neutralidade comprando grandes quantidades de ouro das potências aliadas e do Eixo durante a II Guerra Mundial. O Banco Nacional Suíço admitiu publicamente em 1996 ter tido lucros com as transações de ouro feitas com o banco central da Alemanha nazista durante o conflito.
Nossa cobertura jornalística sobre o comércio de ouro aborda acontecimentos do passado, desafios do presente e as tendências futuras. Nos países onde o mineral é explorado, avaliamos as implicações da mineração industrial e artesanal. Analisamos também como funcionam as diferentes certificações e os esforços para trazer mais transparência à cadeira de fornecimento.
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Suíços votam sobre reservas de ouro
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Uma inciativa da direita conservadora quer obrigar o Banco Central Suíço a manter, pelo menos, 20% de seus ativos em ouro e proibir a venda dessas reservas. Para os opositores , esta proposta restringe a liberdade de manobra do instituto de emissão, às custas de toda a economia.
Ao contrário de muitas outras matérias-primas comercializadas na Suíça, o ouro entra fisicamente, de fato, no país. Depois é armazenado e processado em suas refinarias. Qual a política defendida pelo governo suíço?
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Projeto suíço procura ouro “melhor” no Peru
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As chamadas para entrar nas lojas da pequena cidade de Juliaca, no Peru, parecem com o assédio das cidades turísticas em todo o mundo, exceto que os vendedores aqui são comerciantes tentando atrair os vendedores de ouro dos diversos garimpos informais da região sudeste de Puno e seus arredores. Pouco do que é negociado aqui…
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Quando falamos da Suíça, pensamos imediatamente em relógios, chocolates ou bancos, mas raramente ouro. Portanto, a Suíça é o maior mercado negociador do metal no mundo.
A última mina de ouro da Suíça foi fechada definitivamente há mais de 50 anos, em 1961. O filão que existia entre Astano e Sessa, no cantão do Ticino (n.r.: parte italófona do país, noroeste), se esgotou. Hoje, apenas alguns garimpeiros amadores perpetuam essa tradição, principalmente na região do rio Napf, entre os cantões de Berna e Lucerna, onde ainda é possível encontrar ouro em aluviões.
A ausência desse metal precioso – e, de forma geral, outras matérias-primas em quantidade – no subsolo, não impediu a Suíça de se tornar uma verdadeira potência no mercado de compra e venda de ouro, ao ponto de estar na primeira posição do ranking mundial do comércio internacional de ouro; com uma parte do mercado que gira em torno de 15%, segundo os números de 2012 do BACII International Trade Database e do Observatório de Complexidade Econômica.
Os dados reconstituídos por esses dois institutos internacionais para combinar com as metodologias estatísticas, que variam de um país a outro, e os dados por vezes incompletos não refletem completamente a importância da Suíça para essas transações. Os números comunicados pelo Departamento Federal de Alfândega (ADF, na sigla em francês) são, de fato, mais impressionantes. Em 2012, as importações foram de 2.200 toneladas, totalizando um valor de 88 bilhões de francos. As exportações chegaram a 1.500 toneladas (80 bilhões de francos). Em 2014, as quantidades importadas e exportadas bateram um recorde histórico: respectivamente 3.500 e 3.900 toneladas, ou seja, mais do que a quantidade total de ouro produzido anualmente no mundo, que corresponde aproximadamente a 2.500 toneladas. Todavia, o valor diminui devido à desvalorização do ouro.
A evolução desse comércio foi fenomenal especialmente a partir de 2007 após a eclosão da crise econômica. O ouro se tornou assim uma moeda de refúgio interessante.
Como a Suíça conseguiu tornar-se uma plataforma de tamanha importância no comércio do ouro? Antes de tudo, por tradição: o mercado de ouro de Zurique sempre foi muito importante; além disso, até poucos anos, a principal organização de lobby da indústria de mineração do ouro, o “World Gold Concil”, tinha sua sede em Genebra.
Depois, existem os fatores relacionados à segurança e à eficácia dos serviços financeiros e logísticos. E finalmente, uma das principais razões: quatro das mais importantes refinarias de ouro do mundo encontram-se na Suíça. Essas empresas refinam praticamente dois terços do ouro mundial.
Durante vários anos as autoridades federais excluíram o comércio de metais preciosos das estatísticas sobre o comércio exterior, pois consideravam que “os movimentos de metais preciosos correspondiam mais às transferências de meios de pagamento, substitutos ao papel-moeda, que ao movimento de mercadorias com vistas ao seu trabalho ou utilização”, escreveu um relatório da ADF de novembro de 2013,
Essa prática foi modificada em 2014. Hoje em dia, a ADF publica uma estatística do comércio exterior que engloba também o comércio de metais preciosos e de pedras preciosas.
Tendo em consideração também essas transações, o quadro geral do comércio suíço teve uma reviravolta. O ouro representa, de fato, um quinto do valor total do comércio exterior, muito além dos produtos tradicionais como os medicamentos ou os relógios.
Mais transparência nas estatísticas
Outra modificação prática ocorreu há poucos meses: após mais de trinta anos, as autoridades suíças decidiram publicar a relação dos países de importação e exportação do ouro.
Em 1981, o governo suíço decidiu não mais publicar esses dados. Vários fatores haviam sido levantados para justificar a decisão. De um lado, havia o interesse de não fornecer muitas informação ao setor financeiro de Londres, principal concorrente de Zurique. De outro, a vontade de evitar controlar a disseminação de dados sensíveis como as importações de ouro provenientes da União Soviética ou da África do Sul, país submetido a embargo internacional devido ao apartheid.
Os dados públicos em março mostram justamente que a África do Sul foi o principal fornecedor de ouro até os anos 1990.
As estatísticas não permitem, no entanto, esclarecer totalmente os países de proveniência. A alfândega suíça publica apenas o último país de trânsito. Assim explica-se a importância da Grã-Bretanha, já que o London Bullion Market Association (LBMA) é o principal centro mundial de comércio do ouro e da prata.
Este fato tem sido criticado pelas organizações não governamentais, pois é impossível saber se o ouro provém, por exemplo, das zonas de conflito ou de minas ilegais.
As exportações de ouro a partir da Suíça se dirigem aos principais centros de negócio de ouro, seja Hong-Kong, Reino Unido e especialmente Índia, o principal país “consumidor” de ouro no mundo. As exportações para os países como China ou Cingapura também aumentaram fortemente nos últimos anos. Deve-se ressaltar, por outro lado, uma forte baixa das exportações para a Itália, que, até o início dos anos 2000, absorvia ainda aproximadamente trinta por cento das exportações suíças (com um pico de quase 340 toneladas em 1998). Em 2013, a Suíça exportou apenas 40 toneladas de ouro ao país europeu.
E até que ponto os consumidores e eleitores suíços se importam? Os críticos da indústria do ouro acreditam que uma regulamentação mais forte já é esperada há muito tempo, enquanto os lobistas da indústria argumentam que o setor já aplica as melhores práticas do mercado.
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O Credit Suisse e os bilhões de Moçambique
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Sentado num sofá em uma casa vazia nos arredores de Maputo, a capital de Moçambique. António Simango* diz: “Se eu falar publicamente, talvez vocês nunca mais me vejam”. Como funcionário do estado, Simango tem medo de represálias por parte do governo. Não podemos publicar seu nome verdadeiro ou mostrar seu rosto. Ele nem sequer quer…
Genebra abre primeiro centro de direitos humanos e econômicos da Europa
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A Universidade de Genebra abriu o primeiro centro dedicado aos direitos humanos em uma escola de negócios, focado em responsabilidade empresarial.
Como evitar que a inteligência artificial seja monopolizada?
Como evitar o monopólio da IA? Com o potencial de resolver grandes problemas globais, há risco de países ricos e gigantes da tecnologia concentrarem esses benefícios. Democratizar o acesso é possível?
Você já utilizou ferramentas de inteligência artificial no trabalhho? Elas o ajudaram ou, ao contrário, causaram mais estresse, aumentaram a carga de trabalho ou até mesmo resultaram na perda do emprego?
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