Para Swatch, a forte demanda por ativos materiais protege o valor de suas ações

Com as ações Swatch definhando perto dos mínimos na pandemia, é provável que o pior para os acionistas tenha passado. Keystone / Martial Trezzini

Os lockdowns na China estão prejudicando as vendas de relógios suíços. Mas a Swatch, maior relojoeira do mundo, aposta em estratégias para não perder espaço em seu mercado mais importante. Em paralelo, no mundo cresce a demanda por relógios de luxo, dado o contexto marcado por altas na inflação.

A política de “zero Covid” da China, que impôs restrições de circulação aos cidadãos, custou à relojoeira suíça cerca de 400 milhões de francos em vendas, em 2022. Mas a empresa suíça ainda conseguiu faturar 3,6 bilhões de francos suíços (US$ 3,7 bilhões) no primeiro semestre, cerca de 7,2% a mais do que em 2021. Agora, a companhia dona da grife Omega espera um crescimento de vendas de dois dígitos para o ano inteiro, à medida que as restrições diminuam.

A aposta ousada depende, contudo, das decisões de um governo chinês cada vez mais imprevisível. Mas, se a Swatch se recuperar como é esperado, verá seus níveis de venda de volta aos índices registrados em 2017.

Depois do pior momento da pandemia, em que os as ações definharam e atingiram valores mínimos, o pior para os acionistas da empresa suíça provavelmente já passou.

Retirando a China da conta, a demanda por relógios suíços está alta. A Swatch registrou crescimento de dois dígitos na maioria dos outros mercados, incluindo o da Ásia. Tal como acontece com outros ativos físicos, como a arte, o apelo dos relógios suíços, especialmente os mais sofisticados, aumenta em tempos de incerteza financeira. Os compradores buscam salvar reservas de valor em meio à inflação crescente e ao pior primeiro semestre no mercado de ações dos EUA em 50 anos.

Em maio, as vendas de relógios com preço de 3.000 francos suíços ou mais aumentaram 20%, de acordo com a Federação Suíça de Relógios. Já a rede de varejo Watches of Switzerland identificou que a procura foi consistentemente superior à oferta considerando dados do início de julho. A varejista ainda espera um crescimento de 25% para o ano.

O contexto traz uma atmosfera positiva para o estoque crescente da Swatch – mesmo que os valores médios de venda da companhia sejam mais baixos do que  o das principais marcas. Agora, o faturamento da relojoeira está em torno de 6,7 bilhões de francos, um aumento de 300 milhões de francos em relação ao final do ano passado.

A demanda firme e a inflação furiosa diminuem as chances de novas baixas contábeis nas ações. Se forem somados os 2,4 bilhões de francos suíços em dinheiro com 1 bilhão de francos em bens de valor que estão no estoque da empresa, o resultado total equivale a quase 90% de seu valor de mercado atual. Considerando o preço atual das ações, um investimento na relojoeira pode ser uma reserva de valor tão boa quanto seus relógios.

Copyright The Financial Times Limited 2022

Adaptação: Clarissa Levy
(Edição: Fernando Hirschy)