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“Partido Popular Suíço: governo e anti-establishment ao mesmo tempo”

O ex-ministro da Justiça, Christoph Blocher, principal expoente do SVP, na primeira página da revista alemã Spiegel. A mídia estrangeira não hesita em descrever o SVP como um partido de extrema direita, ao contrário da imprensa suíça. Keystone / Steffen Schmidt

Muitos jornais estrangeiros escrever o SVP como um partido de extrema direita. Já a mídia suíça prefere denominá-lo "direita conservadora", "direita populista" ou "direita nacionalista". Oscar Mazzoleni, cientista político da Universidade de Lausanne, explica por que a categoria de extrema direita não é adequada para entender a posição do partido no cenário político helvético.

A vitória do SVPLink externo (sigla em alemão para o Partido Popular Suíço) nas eleições federais de 22 de outubro de 2023 reacendeu o debate sobre a orientação política do maior partido do país. O historiador Charles Heimberg escreveu na plataforma Mediapart que o SVP se tornou um partido de extrema direita devido às suas posições e campanhas. Já a revista alemã Focus classificou o SVP como o “partido de extrema direita que venceu as eleições federais”.

Essas afirmações geraram reações da imprensa helvética, que evita usar o termo “extrema-direita” para descrever o partido. Watson argumentou que o SVP não deveria mais ser uma exceção: “Ou esse partido faz parte do grupo de partidos de extrema direita como o Rassemblement National (França) e o Fratelli d’Italia ou deixamos de classificá-los como tal”. Por outro lado, jornais como o Le Temps destacaram que o SVP é membro de vários governos cantonais e do governo federal, e que seus representantes eleitos respeitam as instituições, rejeitando por isso a classificação de extrema direita.

Oscar Mazzoleni
Oscar Mazzoleni, professor de ciência política da Universidade de Lausanne e autor de vários livros sobre o SVP. RSI-SWI

Oscar Mazzoleni, professor de ciência política da Universidade de Lausanne e autor de livros sobre a direita conservadora, também vê diferenças entre o SVP e outros partidos europeus classificados como de extrema direita.

swissinfo.ch: A mídia internacional frequentemente descreve o SVP como um partido de extrema direita. Um exagero?

Oscar Mazzoleni: A imprensa internacional foca em aspectos específicos da campanha do SVP, especialmente na questão da imigração. Em muitos países europeus, partidos com visões semelhantes sobre imigração são frequentemente chamados de extrema direita. Portanto, é compreensível que alguns meios de comunicação usem a mesma categoria.

No entanto, o SVP não se limita apenas à imigração em suas campanhas. O partido possui uma agenda econômica próxima da direita tradicional e participa de governos colegiados e multipartidários há décadas. A classificação de extrema direita não captura essa complexidade, nem o sucesso contínuo do partido.

swissinfo.ch: Quais são os critérios para determinar se um partido é de extrema direita ou não?

O.M.: É desafiador lidar com o rótulo de extrema direita devido a uma ambivalência fundamental. Ideologicamente, o termo descreve forças próximas ou herdeiras do fascismo ou nazismo. Em alemão, refere-se a forças antidemocráticas. Por outro lado, tem uma conotação mais neutra, classificando um partido no espectro político como o mais à direita.

swissinfo.ch: Com base nisso, como você definiria a orientação do SVP?

O.M.: Não há uma resposta simples. O SVP é um partido conservador de direita, nacionalista, populista, dependendo da situação ou momento. Um único rótulo não abrange o papel complexo que o partido desempenha no sistema político suíço. Ele atua tanto como partido governista como também um que hasteia a bandeira “anti-establishment”.

O SVP tem dois representantes no Conselho Federal: o ministro da Economia, Guy Parmelin, e o ministro do Meio Ambiente (Energia, Comunicação e Transportes), Albert Rösti. © Keystone / Gian Ehrenzeller

swissinfo.ch: Quando se trata de descrever a Alternativa para a Alemanha (em alemão: Alternative für Deutschland, sigla AfD), o Rassemblement National (França) ou a Lega na Itália, falamos de extrema direita. O que distingue esses partidos do SVP?

O.M.: O caso da AFD é simples: é um partido de oposição que tem suas raízes na herança nazista. O Rassemblement National, na França, é o herdeiro do Front National, fundado por Jean-Marie Le Pen, condenado várias vezes por antissemitismo e que chegou a ser membro da Waffen SS. Ele também um partido de oposição, que nunca fez parte do governo nacional e é minoria em vários níveis do sistema político francês. 

Por outro lado, o SVP está tanto dentro quanto fora do sistema, principalmente devido à democracia direita, que permite que ele se distancie regularmente dos outros principais partidos em relação à imigração ou à Europa.

swissinfo.ch: No entanto diversas associações antirracistas já processaram o SVP pelos recursos visuais usados em campanhas eleitorais. O senhor acha que é provável que elas sejam bem-sucedidas?

O.M.: Isso depende de como os juízes interpretam a Lei contra o racismo. Mas isso não é novidade. Para o SVP, escândalo fazem parte das campanhas. O partido vê isso como uma forma de atrair atenção dos eleitores. É uma espécie de marketing político.

swissinfo.ch: O político Thomas Stettler, do SVP, recentemente se autodenominou xenófobo em uma transmissão ao vivo. O partido tornou a xenofobia aceitável no debate político suíço?

O.M.: Nos últimos trinta anos o SVP tentou mudar os limites do que é aceitável na opinião pública e no debate sobre imigração. Já vimos isso em 2007 com a campanha que mostrava uma ovelha branca expulsando a coices uma ovelha negra do país.

swissinfo.ch: Além do Partido Verde (PV), os outros partidos pouco criticam o SVP pelas campanhas e a sua retórica anti-imigrantista. O que explicar isso?

O.M.: Desta vez os outros partidos não quiseram dar muita visibilidade ao SVP, porque é exatamente isso que eles querem. O partido já conduziu muitas campanhas assim no passado. Os outros partidos perceberem que as críticas chamavam ainda mais atenção para o SVP.

Christoph Blocher
Christoph Blocher, reformulou radicalmente o partido na década de 1990, antes de assumir uma cadeira no Conselho Federal entre 2003 e 2007. Keystone / Peter Klaunzer

swissinfo.ch: Christoph Blocher (político e um empresário bilionário suíço) foi uma das figuras de proa do SVP na década de 1990. Sua influência continuará sendo mantida?

O.M.: Christoph Blocher reformulou profundamente o partido na década de 1990. Sua linha política desempenhou um papel fundamental na criação de novas seções cantonais e locais. Ele também desempenhou um papel fundamental na formação das novas gerações de políticos. Trouxe também para o comando do SVP personalidades que continuam a moldar o partido até hoje. Como o SVP continua a registrar grandes sucessos eleitorais com base em sua linha política, o legado de Christoph Blocher provavelmente continuará vivo.

swissinfo.ch: Com a vitória do SVP nas eleições federais, mais 11 agricultores foram eleitos para o Parlamento. Ao mesmo tempo vemos um retorno a uma tradição agrária mais moderada na política do SVP?

O.M.: O SVP passou por uma reformulação, mas nunca negou suas tradições agrícolas. De fato, ele nunca mudou de nome desde que foi fundado em 1971. Embora o partido tenha se voltado para o neoliberalismo econômico, nunca questionou os subsídios para a agricultura. Esse setor continua a ser fundamental para seu programa, como um pilar de uma determinada visão da Suíça. Também precisamos ressaltar que os agricultores eleitos para o Parlamento não correspondem a uma visão bucólica da agricultura: eles são mais empresários comandando empresas agrícolas.

Adaptação: Alexander Thoele

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