Produtores de leite sofrem com a concorrência
O preço do leite chegou ao fundo do poço tanto no mercado europeu como na Suíça. Razão: excesso de produção. Porém os agricultores são obrigados a aumentar a eficiência e competir em um mercado cada vez mais acirrado. O criador de vacas de alta produtividade e um produtor de leite contam como conseguem sobreviver apesar da produção excedentária.
Ele é um dos maiores e mais modernos produtores de leite na Suíça. Suas vacas se deixam ordenhar por robores e no momento que desejam. Também a alimentação é completamente automatizada. Um robô cuida da limpeza no estábulo. “Nos especializamos na criação de gado leiteiro. Investimos milhões, racionalizamos e aumentamos a nossa eficiência”, declara o produtor. Ele solicita não publicarmos o seu nome.
Nos últimos meses os preços do leite caíram novamente. Hoje estão abaixo dos 50 centavos de franco por litro. O mínimo seria de 55 centavos para garantir a cobertura dos custos e isso, funcionando com a maior eficiência possível. “Quando abro as portas do estábulo já tenho que empurrar uma nota de cem francos”, disse com ironia, pois não ganha nada com esse trabalho, mas sim, perde.
Porém não pensa em parar. “Estou condenado à produção. Tenho de ser cada vez maior, mais rápido e mais barato. Minha esperança é que o meu vizinho abandone o barco nesse processo”. Ele está consciente que esse desenvolvimento “levará a destruição do setor, mas que se não participar dessa competição, já perdi de qualquer maneira”.
Cuidando de uma empresa com vários funcionários, ele precisa viver das suas reservas e investir o mínimo possível para conseguir sobreviver nessa fase de preços baixos, explica, ressaltando que espera em breve um aumento.
“Para proteger os produtores de leite na Suíça, é preciso que os políticos alterarem as condições para que possamos produzir a custos mais baixos”. Um exemplo seriam as barreiras alfandegárias para grãos. “O produtor suíço de grãos está satisfeito, pois tem uma ótimo salário-hora, mas o produtor de leite se arruína já que paga duas vezes mais pela ração do que o produtor alemão.”
Precisão quase militar
Toni Peterhans, originário do vilarejo de Fislisbach, no cantão da Argóvia (centro), não reclama da queda de preços do leite. Suas vacas estão entre “as melhores da Suíça”, diz ele, que foi eleito em 2013 o produtor do ano no seu cantão. Enquanto uma vaca suíça produz, em média, 23 mil litros de leite, “as nossas produzem 58 mil litros até ser abatida. Elas têm uma vida duas vezes maior do que as outras, o que traz efeitos positivos em termos de custos e renda.”
O sucesso não é apenas uma questão de sorte. Segundo Peterhans, os procedimentos na sua fazenda são organizados quase “com uma precisão militar” até os seus mínimos detalhes. Ele utiliza de sistemas modernos de produção de ração até a análise diferenciada do esterco. “Somos bem estruturados. A cada semana lavamos os rabos das vacas. Três vezes por anos as vacas são limpas com máquinas a vapor. Temos ordem por aqui. É possível visitar a fazenda com sapatos de meio cano”.
Novo automóvel. Novo trator
Os preços atuais do leite não cobrem os custos de produção de produtores de ponta como Peterhans. Mas até que ponto a situação deve piorar para os produtores menos eficientes, se até os produtores de ponta como ele já sofrem prejuízos? “Muitos dormem mal, tem de economizar e evitar investir para conseguir pagar a duras penas suas contas. Algumas fazendas encontram-se em uma situação lamentável”, explica Peterhans, sem esconder um certo orgulho. “Esse não é o meu caso. Nós compramos um novo trator por 150 mil francos e o pagamos. Ele não foi financiado”, ressalta.
Se conseguiu comprar um novo carro, foi através de três fontes adicionais de renda. Ao contrário do que recomendam alguns consultores agrários, ele não investiu somente em um ganha-pão. Sua fazenda, com 52 hectares não é utilizada somente para a criação de vacas, mas também para a agricultura e produção de energia solar. Além disso, ele subloca suas máquinas agrícolas. “Vamos a outras fazendas e ganhamos por hora para levar 11 mil litros cúbicos de estrume líquido até a usina de biogás. Também armazenamos em silos não só para nós, mas também outros.”
Luta por fatias do mercado
O preço do leite na Suíça é claramente mais elevado do que a média na União Europeia. “A diferença de preços com o exterior chegou a aumentar em 2015 em 10 centavos, pois os preços na UE caíram mais fortemente do que na Suíça”, avalia Stefan Kohler, diretor da organização do setor Milch (BOM). “Segundo os relatórios que chegaram a mim, os produtores de leite na UE estão à beira da falência.”
Na Suíça desaparecem anualmente entre 800 e 900 produtores de leite. Os fornecedores de leite para as empresas de laticínios também estão em dificuldades financeiras, apesar da situação estar melhor do que em grande parte da União Europa. Uma razão é que o mercado de leite na Suíça está apenas parcialmente liberalizado. Nesse setor protegido o lucro ainda é possível para os produtores locais, diz Kohler. Os consumidores suíços pagam três vezes mais pela manteiga. Por outro lado, o produtor local também ganha mais pelo leite.
No contexto internacional a produção suíça de leite funciona em pequenas estruturas e está mais próxima da natureza. As vacas podem, por exemplo, pastar ou se movimentar nos estábulos, como garantem as atuais leis ou regulamentos setoriais.
A mudança estrutural na Suíça é mais lenta. Segundo Kohler ela é mais vagarosa do que o desenvolvimento técnico na produção. Isso explica por que muitas fazendas não foram obrigadas a parar com a produção apesar dos custos elevados. “O contexto da política agrária não apoia forçosamente uma indústria profissional de produção do leite. Em longo prazo é inevitável que muitos produtores desistam”, declara o chefe da organização setorial.
O preço do leite no seu país é aceitável? Ele oferece condições de trabalho aos produtores? Dê a sua opinião…
Adaptação: Alexander Thoele
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