Pequenas empresas acusadas de evitar inovação
A Suíça é a terra da inovação, classificada no topo ou nas primeiras posições dos rankings globais. Mas uma pesquisa sugere que as pequenas empresas estão deixando a inovação para as grandes empresas, principalmente as farmacêuticas e empresas de TI.
Segundo alguns indicadores, a cervejaria Doppelleu é um fracasso da inovação. A pequena e média empresa (PME) de Winterthur não apresenta patentes nem tem um orçamento para pesquisa e desenvolvimento. No entanto, aumentou sua capacidade em 20 vezes em quatro anos para atender a crescente demanda por suas cervejas artesanais.
Usando um indicador diferente, a Doppelleu certamente encontrou o sucesso através da inovação. As cervejas certamente não têm nada de novo, mas a empresa encontrou um mercado do nicho bem sucedido na Suíça. A ampla oferta da Doppelleu – da cerveja pale ale à cerveja stout e outras aromatizadas com whisky – seduziu o paladar dos consumidores tradicionais de cerveja.
Mas a verdadeira inovação foi no marketing do produto com o nome “Chopfab”, um termo suíço que significa “sem cabeça”.
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O que é preciso para comercializar novas invenções
“Queríamos ser diferentes das cervejarias suíças tradicionais em todos os aspectos”, conta o cofundador da Doppelleu, Philip Bucher. “Nós não temos os Alpes Suíços ou vacas nas garrafas. Temos um estilo urbano muito moderno e minimalista. Queríamos alcançar os jovens de ambos os sexos.”
Bucher explica que inovação para uma PME não é reinventar a roda. É uma série de passos pequenos, mas significativos em muitas etapas do negócio que transformam ideias em valor concreto.
“Nós não temos patentes que protegem a tecnologia para nosso próprio uso. Estamos inovando de uma maneira diferente. Somos inovadores não por ter distribuição interna, mas por ter uma variedade de parceiros de logística, o que acelera o processo”, disse.
“Nosso marketing inovador é bem recebido pelos consumidores. Temos histórias de vendas inovadoras. Somos a única cervejaria da Suíça onde todos os vendedores são sommeliers cervejeiros.”
Questão de parâmetros
Isso pode ser um ponto que os pesquisadores não estão levando em conta. No outono passado, um estudo da Câmara de Comércio do Cantão de Genebra e do Banco Cantonal de Genebra se concentrou na quantidade de capital de risco que as empresas em fase de arranque atraem (não o suficiente de acordo com o relatório) e o número de patentes registradas por empresas.
Um quarto das patentes foram registradas pelos pesos pesados da indústria farmacêutica Novartis e Roche e outro quarto por seis outras grandes empresas. O estudo concluiu que os principais rankings de pesquisas de inovação da Suíça “encobriram certas deficiências”.
Em fevereiro, uma pesquisa do instituto econômico suíço KOF descobriu que as PME estavam cada vez menos empenhadas em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Embora a taxa total de gastos com P&D permaneça constante, “a porcentagem de empresas envolvidas em atividades de P&D diminuiu, levando a uma concentração crescente das atividades desse tipo na Suíça”, concluiu a pesquisa.
Ao que parece, muitas PME são excluídas pelo elevado custo da inovação, juntamente com o período de tempo necessário para recuperar as despesas.
Mudança de mentalidade
Isso parece confirmar os temores generalizados de que a despesa com inovação está sendo consumida pela margem de lucro do franco forte. Não necessariamente assim, de acordo com Heinrich Christen, sócio na consultoria Ernst & Young, especializada em PME e na indústria farmacêutica.
“Algumas empresas podem ter reduzido os investimentos em P&D por causa do franco forte, mas as empresas mais inteligentes perceberam que só poderiam sobreviver a este estresse através da inovação. Normalmente, quanto mais uma empresa gasta em inovação, menos se preocupa com taxas de câmbio desfavoráveis”, disse para swissinfo.ch.
“Um grande orçamento de P&D não significa necessariamente mais inovação. Muita inovação é incorporada na maneira ordinária de fazer negócios e não pode ser facilmente medida. Uma PME suíça típica é fornecedora de grandes empresas e inovam constantemente para atender às necessidades específicas de seus clientes.”
Christen também não está convencido do argumento de que a grande indústria farmacêutica está dominando a inovação na Suíça.
“Eles estão realmente fazendo menos pesquisa e desenvolvimento em casa. A tendência é terceirizar a inovação para as empresas menores, quer assumindo-as ou com acordos de patentes. As patentes são um bom indicador da inovação no setor farmacêutico, mas menos importante em muitos outros setores. Algumas empresas não gostam de registrar patentes porque significa que estão divulgando sua inovação aos concorrentes.”
O dono da Doppelleu, Philip Bucher, também desconsidera a alegação de que as PME estão deixando as inovações para as multinacionais ricas.
“Eu conheci centenas de jovens empreendedores que são muito inovadores e estão assumindo riscos”, disse. “Para mim, os suíços têm um espírito muito empreendedor. Há algumas décadas, a economia suíça estava muito focada em grandes empresas, mas estamos num processo em que isso está mudando”.
Adaptação: Fernando Hirschy
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