Por que a Suíça deve redefinir sua neutralidade
"Poder está ligado à responsabilidade". Isto se aplica não somente ao Homem-Aranha, mas também à Suíça, que precisa hoje redefinir sua neutralidade. É como pensa o filósofo Thomas Beschorner.
Neutralidade é um princípio ancorado na história e cultura da Suíça. Em guerra, importante é não estar de nenhum lado. O país alpino vive bem com essa posição há séculos, mas também por interesses econômicos, não podemos esquecer.
Mas agora parece ter chegado o momento de mudar. Isso se reflete no reposicionamento da política da Suíça que, após muita hesitação, finalmente decidiu impor sanções econômicas à Rússia. Ao harmonizar suas medidas com as da União Europeia, também congelou ativos russos depositados nas contas dos seus bancos. Ótimo! Entretanto, ainda há impasse em relação a possíveis sanções contra a Rússia no comércio de matérias-primas.
Peso internacional
Embora seja vista apenas um pequeno ponto no mapa do globo, a Suíça é um “peso-pesado” no mercado financeiro. Isto também se reflete nas relações econômicas com a Rússia: por exemplo, aproximadamente 80% do comércio de commodities do grande país eslavo, especialmente gás e petróleo, passam pelas bolsas helvéticas.
A Suíça não é apenas um dos mercados de commodities mais importantes do mundo, mas também um centro financeiro importante graças aos seus grandes bancos UBS e Credit Suisse, onde um grande número de bilionários russos têm seu capital. Quase um terço das fortunas privadas de russos encontra-se em contas no país alpino.
Com o poder vem a responsabilidade
“Poder está ligado à responsabilidade”. Essa é não apenas uma frase lendária do Homem-Aranha, mas também uma sabedoria prática e filosofia moral. Porém não há necessidade de exagerar a importância do mercado financeiro e de commodities da Suíça. Porém o país alpino poderia ser mais realista e reajustar sua política.
Por exemplo, poderia perceber que não se limita mais a ser apenas um local (Genebra), onde os negociadores de países em conflito se encontram para conversar. Hoje sua influência é considerável como importante centro econômico. Gostem ou não, seus habitantes precisam redefinir o princípio de neutralidade.
Isto não é um debate superficial. Pelo contrário: o diálogo público sobre essa questão será importante para que a Suíça encontre uma bússola ética e política além do rígido “princípio de neutralidade” e seus interesses econômicos.
Palavras e ações
Por outro lado, uma nova orientação poderia contribuir a encontrar respostas razoáveis às questões enfrentadas hoje. Isso, sim, é responsabilidade no sentido literal da palavra: seja frente ao mundo, seja perante seus próprios cidadãos. As sociedades modernas muitas vezes se estruturam em contextos de justificação. E, claro, no final das contas, não se trata apenas de conversa, mas de ações concretas, contra a qual toda a retórica deve ser medida.
Se a Suíça não abordar seriamente estas questões, irá enfrentar em algum momento o dilema entre o imperativo da neutralidade e a cumplicidade silenciosa.
Adaptação: Alexander Thoele
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