Queda de natalidade e declínio demográfico preocupam especialistas
De acordo com um estudo da Universidade de Washington, a grande maioria dos países verá sua população diminuir até 2050. Na Coreia do Sul, Japão e Itália, o declínio demográfico já começou.
Com uma média de 1,1 filho por mulher, a Coreia do Sul tem a menor taxa de fertilidade do mundo. Em muitos colégios do país, as turmas escolares estão fechando uma após a outra, por falta de alunos – em 2021, inclusive, a população do país começou a diminuir em números. Mas, a Coreia do Sul não é o único país que vê poucas crianças nascerem. O Japão e a Rússia, por exemplo, lutam há anos contra o declínio demográfico.
Na Europa, a Itália é um exemplo que pode servir para um estudo de caso, considerando sua taxa de 1,3 filhos por mulher em média, uma das mais baixas do continente. “É uma nova realidade que não diz respeito ao mundo inteiro”, analisa Philippe Wanner, professor de demografia da Universidade de Genebra. “Isso diz respeito a certos países e certas regiões que enfrentam um declínio muito acentuado na fecundidade”.
Maioria dos países em declínio em 2050
Um estudo recente da Universidade de WashingtonLink externo prevê que 151 dos 195 países do mundo verão sua população diminuir até 2050. Em escala global, o estudo indica que ocorrerá um pico populacional em 2064, com 9,7 bilhões de habitantes, seguido de uma queda. A previsão contraria a estimativa média das Nações Unidas que prevê um aumento contínuo até ao final do século. Ao contrário, os pesquisadores americanos esperam um declínio mais rápido nas taxas de nascimento dos países em desenvolvimento.
Segundo Philippe Wanner, dois elementos importantes entram em jogo para explicar a queda da natalidade que ocorre atualmente: “Por um lado, é a conciliação da vida familiar com a vida profissional. Nesse caso, é papel dos governos agir. Por outro lado, entra também a questão da igualdade de gênero, não apenas na sociedade, mas também na vida familiar”. Existem, por exemplo, conexões entre o nível de escolaridade e a propensão dos casais de ter filhos. Segundo um estudo feito pelo HSBCLink externo, em geral, a taxa de fecundidade das mulheres é menor em países onde parte significativa da população tem ensino superior.
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Existe também uma correlação entre a divisão das tarefasLink externo domésticas e o número de filhos por domicílio: em países onde as tarefas domésticas são melhor distribuídas no casal, a taxa de fecundidade tende a ser maior. É, por exemplo, o que se vê na Europa. “Os países nórdicos têm uma taxa de fecundidade superior aos países um pouco mais conservadores na forma de ver as relações entre homens e mulheres”, analisa Philippe Wanner.
O fracasso das políticas pró-natalidade
Para incentivar os nascimentos, cada vez mais países estão adotando políticas pró-natalidade, como ajuda financeira às famílias, abertura de creches ou jardins de infância ou até mesmo o estabelecimento de vantagens fiscais. Alguns países vão ainda mais longe. No Japão, o governo está financiando programas de inteligência artificial para ajudar os japoneses a encontrar uma alma gêmea. O Irã, por sua vez, aposta em uma política muito intrusiva, proibindo a esterilização e restringindo o acesso a anticoncepcionais.
A China, o país mais populoso do mundo, abandonou sua política de filho único. Os casais agora podem ter três filhos. Mas os nascimentos não aumentaram. A Universidade de Washington prevê que a população da China cairá pela metade até 2100, despencando dos quase 1,5 bilhão de habitantes de hoje para 730 milhões.
De acordo com Philippe Wanner, demógrafo, a eficácia das políticas pró-natalistas é geralmente limitada. “Temos muitos exemplos de políticas pró-natalistas, especialmente em países comunistas. De fato, seu principal impacto é modificar o calendário de nascimentos, criando, por exemplo, gerações muito numerosas seguidas de gerações menores. Trata-se, pois, de acidentes demográficos que não são necessariamente muito favoráveis à gestão econômica e social da população”.
“Sou mais a favor da flexibilidade de ‘deixar estar’, porque tentar influenciar as curvas demográficas não leva a resultados eficientes. Por outro lado, parece-me importante refletir nacional e internacionalmente sobre as transformações representadas pelo envelhecimento demográfico” diz Wanner.
Aposentadoria e força de trabalho
Com a queda da taxa de natalidade e o aumento da expectativa de vida, o envelhecimento da população mundial está se acelerando. Hoje, cerca de 9% dos habitantes do mundo têm 65 anos ou mais, taxa que está constantemente crescendo. Este é um desafio para o financiamento dos sistemas de previdência social em muitos países. Nos Estados membros da OCDE, a idade normal de aposentadoria para os homens deve aumentar em média dois anos, passando de 64,2 anos em 2020 para 66,1 anos na década de 2060.
Alguns países, como a Alemanha e, em menor grau, o Japão também contam com a imigração para reequilibrar a pirâmide etária e combater a escassez de mão de obra. O novo governo alemão pretende atrair 400.000 trabalhadores estrangeiros por ano. Porque se nada mudar, a população trabalhadora do país poderá cair para dez milhões de pessoas até 2060.
Para Philippe Wanner, a migração é uma medida que funciona para países com economia atrativa, como a Suíça. Mas a solução poderá ser menos eficaz no futuro, porque a situação demográfica dos países de origem dos trabalhadores estrangeiros está mudando: “Percebemos que no exterior o mercado de trabalho também começa a ficar saturado. Podem faltar candidatos para virem para a Suíça”.
Com uma média de sete filhos por mulher, o Níger tem a maior taxa de fertilidade do mundo. A população do país cresceu de 3,5 milhões de pessoas em 1960 para 25 milhões em 2020.
Até 2050, mais da metade do crescimento da população mundial virá do continente africano, segundo a ONU. Nas próxomas décadas, a população africana deve dobrar e atingir 2,5 bilhões de habitantes, contra 1,3 bilhão hoje.
Em 2100, cinco países africanos estarão entre os mais populosos do planeta: Egito, República Democrática do Congo, Etiópia, Tanzânia e Nigéria.
Adaptação: Clarissa Levy
(Edição: Fernando Hirschy)
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