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“Queremos manter nossas fortes raízes na Suíça”

Rausch AG, Kreuzlingen

Há mais de um século, Rausch utiliza seu know-how em plantas medicinais para exportar cosméticos aos quatro cantos do globo. Sandra Banholzer dirige a empresa desde o verão passado e tem como objetivo a expansão nos mercados europeus.

Em julho de 2021, os proprietários da Rausch decidiram confiar a gestão de sua empresa a alguém de fora da família. Foi primeira vez na história da empresa. Eles escolheram Sandra Banholzer, uma executiva da Migros, a maior rede suíça de spermercados.

Fundada há 130 anos, Rausch é especializada em cosméticos naturais. A empresa familiar emprega 160 pessoas em sua sede em Kreuzlingen, um vilarejo no cantão da Turgóvia. Além disso, tem filiais na Alemanha, Áustria e Itália. O faturamento anual é de 30 milhões de francos suíços.

Biografia

Após graduar-se em administração de empresas na Universidade de Ciências Aplicadas da Suíça Central, Sandra Banholzer começou sua carreira como gerente de vendas para a América Latina na Luzi.

Desde 2007 ocupou uma série de cargos de direção dentro da Migros na Suíça e também por dois anos no Canadá. Mãe de dois filhos, dirige Rausch desde julho de 2021. 

swissinfo.ch: O que mais lhe surpreendeu ao assumir o comando da Rausch?

Sandra Banholzer: Na verdade não senti nenhum choque cultural. Na Rausch, posso tomar decisões sobre questões operacionais muito rapidamente. Entretanto, para minha surpresa, alguns processos são tão lentos como em uma grande empresa.

swissinfo.ch: Rausch parece ter muitos chefes: o presidente do Conselho de Administração, o diretor-geral, a diretora-executiva e outros representantes da família…

S.B.: Na prática, a situação é clara: a diretoria é responsável pela estratégia. Eu sou responsável pelas operações. Meu principal contato é o presidente do Conselho. Ele conhece profundamente a empresa, pois a dirigiu internamente antes da minha contratação. É claro que também interajo com os outros membros da família proprietária.

swissinfo.ch: Como você foi contratada pela empresa?

S.B.: Quando trabalhava para o grupo Migros, não estava procurando um novo desafio profissional. Fui contatado por um headhunter que conseguiu encontrar as palavras certas para despertar meu interesse.

swissinfo.ch: Você estudou em uma universidade de ciências aplicadas ao invés de uma universidade comum. Quais são as vantagens e desvantagens dessa formação? 

S.B.: A educação nas universidades de ciências aplicadas é mais prática. No mundo dos negócios não vejo nenhuma desvantagem nelas, mesmo que não tenham a reputação acadêmica das universidades tradicionais.

swissinfo.ch: Em seu curriculum vitae você ressalta ter pedido duas licenças maternidade de mais de meio ano. Isso é comum hoje em dia?

S.B.: Por que deveria escondê-las e deixar lacunas no meu percurso profissional? Além disso, cuidar dos filhos é uma experiência muito enriquecedora, tanto pessoal como profissionalmente.

Série: Mulheres no comando 

As mulheres ainda são amplamente sub-representadas nos escalões mais altos da economia. Por exemplo, apenas 13% dos cargos de direção das 20 empresas listadas no principal índice da bolsa suíça, o Swiss Market Index (SMI), são ocupados por mulheres. Nesse aspecto, a Suíça não tem um bom desempenho para os padrões internacionais. Ao longo deste ano, a SWI swissinfo.ch decidiu dar voz a gestoras de empresas suíças que atuam em todo o mundo. Essas representantes da economia suíça discutem os desafios mais urgentes de seus negócios atualmente, desde a crise do coronavírus até o lugar da Suíça na economia global.

swissinfo.ch: Quais foram as principais mudanças na Rausch desde que você se tornou seu CEO?

S.B.: Eu introduzi um novo estilo de gestão, onde as decisões são tomadas em um nível inferior da hierarquia. Para que isso aconteça, uma mudança cultural deve ocorrer. Também modernizei nossos escritórios.

Além disso, temos dois projetos importantes em andamento: primeiramente modernizaremos o visual e o design dos nossos produtos; em segundo lugar, estamos implementando uma série de ações para ajudar nossos varejistas externos (especialmente as farmácias) a vender melhor nossos produtos. Por isso temos campanhas publicitárias e investimos no desenvolvimento de ferramentas para os pontos de venda e no treinamento dos varejistas.

swissinfo.ch: Você trabalhou na Migros por muito tempo. O que aprendeu na maior rede de supermercados da Suíça que seja hoje útil no trabalho?

S.B.: Na Migros aprendi muito sobre governança corporativa. É óbvio que não dá para comparar uma empresa com mais de 100 mil funcionários com a Rausch, uma empresa familiar com 160 funcionários. No entanto, na Migros trabalhava na M-Indústria, a divisão de empresas industriais da rede que inclui, por exemplo, Frey (fabricante de chocolate) e Mibelle (fabricante de cosméticos). Nessa divisão, cada empresa tem uma certa autonomia. Nesse sentido podemos compará-la com uma pequena e média empresa (PME),

swissinfo.ch: A linha de cosméticos da Rausch é bastante ampla. Você planeja uma redução desta?

S.B.: Nossa estratégia não é produzir alguns itens individuais, mas uma gama completa de produtos para cuidar de todos os tipos de cabelo e pele. Portanto, nossa linha de produtos precisa ser extensa. No entanto, estamos bem conscientes dos custos e da complexidade dessa estratégia. Por esta razão, meu predecessor começou a reduzí-la e eu a reduzirei ainda mais. Além disso, durante os próximos três anos não lançaremos nenhuma nova linha, mas estaremos acrescentando à nossa gama novos produtos de acordo com as necessidades reais dos consumidores.

swissinfo.ch: Os produtos da Rausch costumam ser mais caros do que a concorrência. Que critérios você utiliza para estabelecer os preços no varejo?

S.B.: Nossos altos preços são totalmente justificados porque nossos produtos contêm uma alta concentração de ingredientes ativos naturais. Este é o resultado de processos que nos permitem obter extratos de plantas. Nossos produtos também são muito eficazes: com um frasco de shampoo Rausch você pode lavar os cabelos de 30 até 40 vezes.

swissinfo.ch: Os custos elevados de produção na Suíça influenciam os preços?

S.B.: Produzir na Suíça é considerado um “selo” de garantia e qualidade no mundo. Além disso, nossos clientes suíços apreciam o fato de consumir produtos locais. No entanto, não creio que o selo “Swiss Made” por si só nos permita justificar preços elevados, especialmente se compararmos com produtos similares na França ou Alemanha.

swissinfo.ch: Os preços de varejo variam de país para país?

S.B.: Nossos preços são muito similares dentro da Europa, incluindo a Suíça. No Oriente Médio e na Ásia, entretanto, nossos produtos são mais caros, pois temos que levar em conta os custos adicionais como logística, registro e tradução. Além dissom temos como alvo uma clientela mais exclusiva nessas regiões.

“No Oriente Médio e na Ásia, visamos uma clientela mais exclusiva do que na Europa.”

swissinfo.ch: A Rausch pretende investir mais no mercado externo?

S.B.: Temos filiais na Alemanha, Áustria e Itália, ou seja, os nossos principais mercados. Além disso, nossos produtos são vendidos em mais de vinte outros países, principalmente Ásia e Oriente Médio. Queremos nos desenvolver ainda mais na Europa nos próximos anos, tanto nos mercados atuais como em novos países.

swissinfo.ch: A Rausch quer se tornar uma empresa global um dia? E necessitaria de financiamento adicional? 

S.B.: Por enquanto isso não está em nossa agenda. Entretanto, nosso objetivo é crescer, mas fazê-lo de forma gradual e racional. Em todo caso, abrir fábricas em todo o mundo não me parece desejável, pois queremos manter nossas raízes na Suíça.

swissinfo.ch: Qual é a importância do comércio eletrônico para a Rausch?

S.B.: As vendas pela Internet são potencialmente muito importantes, tanto na Suíça como no exterior. No entanto, ainda estamos nos estágios iniciais. Por isso criei uma equipe específica. Um ponto crucial será cuidar de nossas relações com os varejistas, particularmente as farmácias: eles querem que nossos produtos mantenham uma certa exclusividade, particularmente no que diz respeito aos canais de distribuição.

swissinfo.ch: Onde é feita a pesquisa e desenvolvimento na empresa?

S.B.: Nosso centro de pesquisa e desenvolvimento está localizado inteiramente na Suíça, em Kreuzlingen. Este centro tem uma grande importância nas nossas operações. Além disso, precisamos de pelo menos três anos de pesquisa e desenvolvimento para trazer um novo produto ao mercado.

swissinfo.ch: Do ponto de vista legal, como trabalha a Rausch?

S.B.: Temos que cumprir a Lei de cosméticos da União Européia (UE), também aplicada na Suíça. As regulamentações resultantes são rigorosas e estão se tornando cada vez mais complexas, particularmente no que diz respeito aos prazos de implementação. Felizmente, a coordenação regulatória entre a Europa e a América do Norte é boa. A China, por outro lado, segue um caminho diferente. Naturalmente, as restrições regulamentares em nosso setor são muito menos onerosas do que as aplicáveis aos produtos farmacêuticos.   

Adaptação: Alexander Thoele

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