Remuneração elevada de executivo causa polêmica
Até 300 milhões de francos suíços em salário e bonificações nos últimos dezessete anos de trabalho: quando Daniel Vasella deixar a direção da Novartis, em 22 de novembro, ele estará marcado no país pela imagem de um executivo ganancioso. Porém ele deixou marcas visíveis na multinacional farmacêutica suíça. Um balanço swissinfo.ch.
Um grande executivo ou apenas um ganancioso inteligente? Poucas pessoas polarizaram mais na Suíça nos últimos vinte anos do que Daniel Vasella.
Com a sua remuneração, até hoje inimaginável para os padrões suíços, Vasella provocou uma onda de protestos. Ele e bancos como o UBS e o Credit Suisse provocaram o lançamento da chamada iniciativa popular contra os salários abusivos. Essa proposta de lei, lançada após o recolhimento do número necessário de assinaturas de eleitores, será votada em plebiscito em três de março.
“Eu aceitei pessoalmente de bom grado o salário que me cabia”, declarou o executivo no final de janeiro à televisão suíça com um largo sorriso, depois de ter anunciado a sua saída da presidência do conselho de administração da Novartis em 22 de fevereiro.
“Quanto” ao invés de “como”
O jornalista e escritor René Lüchinger faz um balanço positivo da atuação de Vasella. Através do chamado “Evergreening”, a nova formulação de medicamentos, ele criou uma estratégia para elevar o ciclo de vida dos medicamentos além do período em que a patente deste se expira.
Além disso, o executivo também posicionou fortemente a Novartis no mercado de genéricos. “Não apenas ele reconheceu o desenvolvimento desse mercado, mas também reagiu ao fenômeno ao quebrar tabus”, explica Lüchinger, ex-editor da revista econômica Bilanz.
Daniel Vasella
Nasceu em 1953 em Friburgo. Cidadão de Poschiavo.
Estuda medicina em Berna e depois atua como médico no hospital de Berna.
Casa-se em 1978 com Anne Laurence Moret, neta de Marc Moret, presidente posteriormente da farmacêutica Sandoz.
1988: assume um ponto na Sandoz nos EUA.
Formação em administração de empresas na conceituada Harvard Business School.
1996: diretor-executivo da Novartis, uma fusão das farmacêuticas Ciba-Geigy e Sandoz.
1999: presidente do conselho de administração da Novartis. O duplo-mandato é motivo de várias críticas.
2008: Vasella elimina a limitação do exercício de cargo, que teria obrigado a renunciar ao cargo de presidente do conselho de administração da multinacional.
Fevereiro: afasta-se do cargo de diretor-executivo da Novartis.
22 de fevereiro de 2013: afasta-se do cargo de diretor do conselho de administração
Segundo estimativas, Vasella teria recebido salários e remunerações que totalizam 300 milhões de francos como chefe da Novartis. A revista Bilanz avalia sua fortuna em cerca de 150 milhões de francos.
Estados Unidos
A imagem de Vasella de administrador ganancioso é contrastada através das declarações de pessoas do seu círculo próximo. “O que é visto na Suíça muitas vezes como arrogância é apenas a sua mais sincera convicção, ou seja, ‘do meu verdadeiro valor’.”
Vasella teria adotado essa abordagem “tipicamente americana” ao ser enviado pelo seu antigo chefe na farmacêutica Sandoz para os Estados Unidos.
Lüchinger separa o executivo Vasella de outras figuras polêmicas na Suíça dentro da discussão dos salários abusivos, como o antigo chefe do banco UBS, Marcel Ospel. “São poucas as diferenças que havia entre os salários deles, mas Ospel nunca chegou a criar um produto. Muito mais, ele levou o banco à beira da falência, pois este teve de ser salvo com dinheiro do contribuinte.”
Ao contrário, Vasella conseguiu transformar em uma empresa moderna “as duas tradicionais farmacêuticas Ciba e Sandoz”, que acabou se transformando na segunda maior empresa do setor farmacêutico. “Assim ele plantou uma forte árvore na paisagem”, declara Lüchinger.
Problema de imagem
Também o economista e o autor Rudolf Strahm avalia o posicionamento atrás do líder de mercado, a farmacêutica Pfizer, como uma das vitórias de Vasella. Além disso, o faturamento da multinacional também praticamente duplicou durante o seu mandato.
Mas em sua análise geral, o antigo deputado federal do Partido Socialista (SP, na sigla em alemão), está dividido. “Vasella se expôs na questão das bonificações e contaminou, dessa forma, toda a cultura empresarial na Suíça”, considera Strahm. Com isso ele trouxe para si a oposição não apenas dos cidadãos, mas também das empresas do setor industrial. “A nota para a sua posição com relação às bonificações é uma perda de confiança fundamental contra o empresariado.”
Em todo caso, ele julga que Vasella comandou a empresa por um período longo de 17 anos e que, dessa forma, deu-lhe uma estabilidade. “Nesse sentido ele não foi um típico executivo ‘americano’, que só permanecem em média quatro anos e meio na liderança.”
Porém Strahm não poupa Vasella de críticas: ele cometeu “graves erros, como querer aglutinar a concorrente Roche. Isso deixaria o mercado interno com apenas um grande conglomerado farmacêutico, o que teria graves consequências”, afirma convencido.
Vasella teria perseguido uma estratégia empresarial ampla, não apenas focalizada na oferta e na pesquisa. “Essa expansão tem um efeito como tampão e também compensação, mas por outro lado é muito cara. Talvez seja possível que uma ampla oferta traga sinergias no marketing, mas só em alguns anos é que veremos se a Novartis terá sucesso com isso.”
Destruição de capital
O jornalista econômico Beat Kappeler julga Vasella segundo seus próprios padrões. Ele foi içado à chefia da Novartis com um programa que se resumia a uma só palavra: “Shareholder Value”. A teoria do economista Alfred Rappaport determina que investidores colocam seu dinheiro em empresas na qual a rentabilidade é melhor do que outras.
“Se compararmos o desenvolvimento das ações de concorrentes como a Pfizer, Merck e outros, então o valor das ações da Novartis perde de longe. Assim Rappaport considera que a Novartis destruiu capital”, considera Kappeler.
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O templo do aprendizado
ONG critica processo na Índia
“Na luta contra a malária e a lepra a Novartis alcançou bastante. Especialmente a Fundação Novartis é bastante ativa e realiza muitos bons projetos”, reconhece Andrea Isenegger, farmacêutica e ativa na ONG Médicos sem Fronteiras (MSF).
Com exceção da lepra, a pesquisa da Novartis está mais focalizada nas necessidades do norte do globo, especialmente devido ao crescimento do turismo. Ela sente falta de um maior engajamento da Novartis não apenas contra a tuberculose ou o HIV, mas também contra as chamadas “doenças negligenciadas” como a doença do sono ou Kala-Azar.
Sobre o processo aberto pela Novartis contra as leis de patentes na Índia, a MSF discorda, explica Isenegger. O objetivo da lei de 2005 na Índia é impedir o chamado “evergreening”. O motivo da disputa é o medicamento contra câncer Glivec, sobre o qual a Novartis pretende continuar a ter o monopólio comercial.
“É inaceitável quando você acrescenta uma forma de sal na substância principal só para manter a proteção de patentes em mais vinte anos”, critica a farmacêutica. “Assim impede-se a produção de genéricos para pacientes pobres.”
Novartis é um grupo farmacêutico suíço criado em 1996 pela fusão de Ciba-Geigy e Sandoz com sede em Basileia, na Suíça.
A Novartis está dividida em três grandes divisões: Pharma, Consumer Health e Sandoz. Esta última, voltada a comercializar medicamentos genéricos e biológicos.
Produtos
Entre os seus produtos destacam-se: Cataflam, Voltaren, Prexige, Diovan, e na linha veterinária o Acatak (Fluazuron) e o Megamectin (Ivermectina) dentre outros. (Texto: Wikipédia em português)
Adaptação: Alexander Thoele
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